Prada, inverno 2025 masculino

Para entender o desfile de inverno 2025 da Prada, a gente precisa lembrar do anterior, o de verão 2025. Naquela coleção, os codiretores de criação Miuccia Prada e Raf Simons abordaram a imprevisibilidade e as imperfeições humanas para comentar a maneira como algoritmos e outras tecnologias podem pautar nossas escolhas.

O assunto agora é mais ou menos parecido, quase uma variação do mesmo tema. “Estamos interessados na ideia de instinto, na noção de proteger e valorizar nosso instinto humano, liberando a criatividade”, escreveu Miuccia.

No mesmo comunicado para a imprensa, Raf conta que eles estão cada vez menos dispostos a se limitarem criativamente. Ele descreve o processo de criação como um diálogo inconsciente de ideias vindas de todos os lugares e o agrupamento delas de um jeito que pareça incomum e novo.

Prada, inverno 2025 masculino. Foto: Getty Images

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Isso explica o mix de referências que a gente viu na passarela: botas e outros elementos cowboy, pijamas de seda, baby tees com estampa floral à la anos 1970, tricôs oversized de pegada grunge, casacos e coletes felpudos (pele falsa) tipo homem das cavernas, jalecos ou uniformes hospitalares, bolsas de boliche, camisas xadrez, sobretudos e blazers com broches de flor, hoodies, doudoune e tênis baixo, estilo Keds.

Tudo junto e misturado. Às vezes, com variações na modelagem, como nas calças de cintura quadrada, com gancho um pouco mais baixo e barra afunilada e encurtada. E tudo com aparência envelhecida, ou melhor, vivida. Nada mais humano do que o apreço por memórias e a nostalgia. A intenção, afinal, é evocar alguns dos nossos instintos naturais: proteção, desejo, afeto, medo, sexo.

A passarela também entrou na miscelânea de refs. O cenário era uma estrutura de andaimes de metal dividida em três andares. O piso era um carpete azul com estampa meio art nouveau, desenhado pela diretora de arte e figurinista Catherine Martin – ela já ganhou dois Oscars de melhor produção de design: um deles por O Grande Gatsby, filme que teve figurinos assinados por Miuccia Prada.

Prada, inverno 2025 masculino. Foto: Getty Images

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O espaço criava uma atmosfera labiríntica, com variações de luz branca, azul e vermelha. A ideia era simular o interior intimista e permissivo das boates. Não só porque Raf é do techno, mas por clubes e festas serem lugares de encontro, troca e interações físicas, pessoais e emocionais até. Tem a ver com a história dos instintos.

Menos impactante – e talvez menos pop – do que a passada, essa coleção se apresenta mais madura, sensual, sombria e misteriosa.Diz que depois do desfile, na coletiva bagunçada que rola na entrada do camarim, perguntaram para Miuccia qual foi o ponto de partida. A resposta veio com outra pergunta: “o que você viu?”.

É que a parte do misteriosa implica na abertura para várias interpretações. Interpretações que dependem das reações e emoções que aquelas imagens despertam em cada um. De novo, instinto humano.

Prada, inverno 2025 masculino. Foto: Getty Images

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Por essa linha de raciocínio, dá para enxergar o inverno 2025 masculino da Prada como uma evolução consistente das propostas apresentadas na estação anterior. É uma coleção menos preocupada com as imposições calculadas do momento e mais conectada com as vontades e emoções – “sem pensar demais”, como disse Miuccia. O famoso aceita que dói menos.

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