SPFW N58: Angela Brito

Angela Brito é natural de Cabo Verde, cresceu em Portugal e vive há mais de 30 anos no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro. Para sua apresentação na SPFW N58, neste sábado (19.10), a estilista decidiu tratar dessas misturas culturais.

Mais precisamente, ela joga luz sobre a identidade crioula, que diz respeito à miscigenação de negros africanos e brancos europeus, em função do processo de colonização. “Povos crioulos vêm da mistura cultural e dão origem a uma nova identidade. Muitos autores estudam a crioulização”, diz. “Independentemente da etnia, existe uma identidade própria que pode ser reconhecida em qualquer lugar.”

Segundo Angela Brito, a vontade de reforçar essa ideia se deve ao fato dela ser interpretada como uma “identidade diluída”. Ela defende o oposto. “Parece que a nossa cultura sempre remete a outras, quando, na verdade, ela tem características singulares, o que considero ainda mais fortes.” A língua crioula não é um mix de inglês, francês e espanhol, é a língua crioula. A trilha sonora também toca nesse desentendimento, com a escolha da morna para tocar, um rítmo cabo-verdiano que muita gente considera ecos de um fado. “É morna!”, defende, Angela.

Angela Brito Foto: Zé Takahashi @agfotosite

Nas roupas, essas particularidades estão em volumes localizados em lugares inesperados, como a frente e as costas do torso, ou em uma lateral do quadril. Em alguns momentos, eles são produzidos por um trabalho de capitonê virado ao contrário.

Clássicos da estilista, que são um resultado dessas misturas culturais que a atravessam, estão podem ser vistos no uso do Panú di terá, típico de seu país natal, e na alfaiataria de recortes mais arriscados, com uma curva aqui, uma abertura acolá.

Angela Brito Foto: Zé Takahashi @agfotosite

No contraponto, há coletes e capuzes e o uso de nylon em bermudas e vestidos com fechamento esportivo. Há também couro sintético dando uma textura a mais para os looks, com exceção das bolsas feitas de couro real.

Esses acessórios aparecem acoplados a vestidos-envelope de linho. “As mulheres crioulas não carregam bolsas, mas dão um jeito de levar objetos em seus vestidos, por meio de nós, amarrações e pregueados”, fala. Angela Brito também decidiu assinar o styling, para ter controle de como as suas memórias e referências iriam aparecer de um jeito genuíno no final.