SPFW N59: João Pimenta

O quinto dia da São Paulo Fashion Week começou na Estação das Artes, no Complexo Júlio Prestes, no centro da cidade. E quem acordou cedo não se arrependeu. O desfile de João Pimenta emocionou não só pela locação e pela trilha ao vivo do pianista Jonathan Ferr, mas pelo rigor técnico e pela grande beleza de sua moda.

Começando pelo fato de que João não se apegou a temas ou narrativas específicas, um movimento que ganha força nesta edição do evento. O estilista preferiu olhar para a construção da roupa, especificamente para a alfaiataria.

SPFW N59: João Pimenta. Foto: Marcelo Soubhia / Agência Fotosite

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Os costumes, ternos, paletós e calças são feitos em moulage, uma novidade para o designer. Geralmente, João trabalha com modelagem plana, como é de costume entre os alfaiates. Ou seja, cada item é composto de partes separadas, calculadas para se encaixarem perfeitamente, como em um quebra-cabeça tridimensional. Dessa vez, as peças são montadas diretamente no manequim, com técnicas emprestadas do fazer de roupas femininas. “Quis experimentar novos caimentos e formas”, explica João.

A mudança é visível: os paletós não têm costura nos ombros, criando um efeito de ombreira sem precisar de enchimento. As calças são amplas e ganham pregas robustas no cós. A camisa recebe uma dobradura na frente, complementando o desenho da parte de baixo do look. Lembra um decote canoa, uma silhueta meio anos 1950 distante, ao mesmo tempo em que expressa atualidade na proporção ampliada e na geometria da imagem final. Imagem, aliás, bem sintonizada com o momento anos 1980 e com as influências sempre pertinentes de Saint Laurent na moda e na alfaiataria.

SPFW N59: João Pimenta. Foto: Marcelo Soubhia / Agência Fotosite

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Alguns blazers são usados de lado, como se fossem uma blusa ou jaqueta com decote de um ombro só. Há detalhes extremamente especiais nas costas, como na sobreposição de tecidos e nos drapeados que começam na nuca e vão até o quadril. As novas possibilidades para os costumes masculinos também passam pelos recortes nos detalhes de smoking: o painel frontal da camisa e as lapelas de cetim são destacados do resto da roupa, ganhando dimensão e profundidade.

João Pimenta brinca ainda com os forros das peças, colocando bolsos e construções internas para fora. Sabe aquela máxima de que a gente sabe que uma roupa é boa quando olha o avesso? É isso. Outras experimentações menos formais aparecem em casacos com capuz, calças feitas de náilon revestido com lã e shorts curtos e armados.

SPFW N59: João Pimenta. Foto: Marcelo Soubhia / Agência Fotosite

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Muito se fala – e sempre se falou – da alfaiataria, mas é revigorante ver novas formas de fazer, construir e usar peças tão clássicas. Repensar golas, punhos, fraques, mangas e bolsos de forma não conservadora é também uma maneira de subverter códigos e tradições. De pensar no futuro da roupa masculina.

Ao fim da apresentação, depois de percorrer a arquibancada móvel do espaço, os modelos paravam, um à um, de frente para a plateia. Assim que o último deles se posicionou no meio da suntuosa sala decorada com vitrais e cortinas gigantes de veludo azul marinho, uma onda de aplausos invadiu o espaço. João Pimenta foi ovacionado de pé, como o mestre que é. Desses momentos que ficam para a história.