Casa de praia em Trancoso é repleta de texturas naturais
Vegetação preservada, muita madeira e um décor que mistura objetos trazidos de viagens com artesanato: essa é a combinação que faz o charme desta casa de praia em Trancoso.
Decidir como desenhar a casa em que se vai habitar pode ser bastante desafiador. É mais ou menos como enfrentar o papel em branco quando há uma longa história para contar. Com Adriana Bozon, foi o contrário. Ao encomendar o projeto da sua casa de praia, em Trancoso, vila a 77 km de Porto Seguro, na Bahia, a diretora de criação da InBrands, holding que detém marcas de moda, já sabia bem o que queria. Na verdade, ela apenas pediu à arquiteta Julia Regis Bittencourt, do escritório 73.Onze, que reproduzisse o estilo da morada de veraneio anterior, que a própria Julia e equipe haviam planejado em 2018.
“Recebi uma proposta pela primeira casa e decidi vender. Em seguida, encontrei o terreno atual, no mesmo condomínio”, conta Adriana, que frequenta Trancoso com o marido, Nelson Alvarenga, fundador da Ellus na década de 1970, e a filha Georgia, que é bióloga, além de amigos próximos.
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Casa de praia foi distribuída em diferentes módulos. Foto: Bruno Pinheiro
A localização é estratégica: tranquila, fica distante do agito do Quadrado, o centrinho turístico, mas perto o suficiente para curtir o burburinho desse que é um dos destinos mais badalados do verão brasileiro. A construção é – para usar um termo do mundo da moda – desconstruída.
Texturas naturais aparecem no décor. Foto: Bruno Pinheiro
Em vez de erguer um único casarão, a arquiteta distribuiu sete módulos pelo terreno de 5.500 m². Ao todo, são 950 m² de área construída. Havia a preocupação de manter a mata intacta, por isso a clareira maior, que já existia no local, foi logo destinada à implantação do módulo de lazer e serviço, que tem o aspecto de uma grande varanda. Aberta, ampla e bem ventilada, ela abriga as salas de estar e jantar, a churrasqueira e a área da piscina.
Bloco principal reúne ambientes sociais, como as salas de TV e de jantar, integrados pela grande varanda, que também serve à piscina. Foto: Bruno Pinheiro
Os ambientes ali são todos integrados, ou de fechamento reversível – fechadas mesmo, só a cozinha e a área de serviço.
Um caso à parte, a piscina, de 5 m de largura, se espicha 22 m adiante, a partir da área social. Ao entrar pela grande porta pivotante do bloco, esse é o elemento que arranca “uaus” de hóspedes e visitantes.
Detalhes da decoração da casa de praia. Foto: Bruno Pinheiro
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O retângulo de água azul-turquesa, resultado do revestimento de pedra hijau lisa, forma um longo eixo com o efeito de borda infinita, uma referência que Adriana trouxe de uma viagem a Ibiza, na Espanha. Com esse módulo resolvido, Julia encontrou a solução para o desafio de construir unidades independentes ao longo do lote, que é proporcionalmente estreito em relação à extensão.
Foto: Bruno Pinheiro
À frente da piscina principal estão três chalés e, do lado oposto, um bangalô com suíte, mais uma pequena cozinha com área de estar e dois chalés anexos. Entre essas três unidades, ainda sobrou espaço para uma segunda piscina, menor. De linhas sinuosas, com fundo de cimento queimado branco e arrematada por uma borda de seixos rolados, ela foi desenhada à mão livre por Adriana, que se envolveu em todos os aspectos da obra. “A primeira casa era uma delícia, mas essa é a casa dos sonhos”, resume a empresária.
Área da piscina situada no bloco principal. Foto: Bruno Pinheiro
Rústico e urbano
Para imprimir identidade e unificar os diferentes volumes do projeto, Julia adotou uma estética contemporânea, com linhas retas e amplas, usando como contraponto o aspecto rústico das diversas madeiras eleitas para erguer a estrutura e revestir os ambientes. O telhado é de taubilha, os deques são de pínus, as colunas, de eucalipto roliço, e as portas, feitas de peroba-mica. A carpintaria e a marcenaria são de Ricardo Salem, construtor local, que é também uma grife quando o assunto é construir em Trancoso.
Vista aérea de casa em Trancoso exibe a segunda piscina da propriedade. Foto: Bruno Pinheiro
Destaque do projeto, as biribas de eucalipto são usadas como um elemento funcional e estético. Os finos pedaços de pau, apenas lixados e aparados nas pontas, aparecem no forro e na fachada e criam um efeito de impacto no grande pergolado que integra as áreas interna e externa da unidade social. Enquanto o Sol está alto, as varinhas projetam sua sombra no chão, criando um padrão de formas orgânicas que abranda a luminosidade com delicadeza.
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Uma das preocupações da moradora era poder aproveitar a natureza bem de perto. Assim, as árvores locais, como a almesca e o pau-brasil, típicas da Mata Atlântica na região, se mantiveram de pé e conduziram o trabalho do paisagismo. Onde havia espaço, plantou-se mais.
Foto: Bruno Pinheiro
A paisagista Juliana Favarato entrou em cena para implementar pequenos bosques perto dos chalés, além de caminhos cobertos por cascas de árvore. “Criamos jardins bem simples, com plantas que ocorrem no sul da Bahia. É como se elas já estivessem lá”, explica Juliana.
Filodendros, helicônias, alpínias e costelas-de-adão estão entre as espécies selecionadas para aumentar ainda mais a presença da natureza da propriedade, além da grama-são-carlos, uma opção mais resistente à sombra abundante do terreno. O resultado é que as construções se revelam aos poucos, entre uma porção e outra de verde vivo.
Foto: Bruno Pinheiro
Multitalentos
Quando a fase de construção foi finalizada, entre o fim do ano passado e o início deste ano, Adriana assumiu o papel de designer de interiores ao lado de Julia. A empresária misturou objetos trazidos de Portugal e Egito com cestaria de origem indígena e escolheu tecidos estampados e coloridos, garimpados no Peru e na Índia, para combinar com as cortinas de palha de dendê, tramadas por artesãos locais. A incursão de Adriana pelo mundo da decoração rendeu até um novo hobby: a cerâmica. Coloridos e com motivos de coqueiros, os pratos e vasos decoram a casa e devem ser vendidos online em breve. Em meio ao clima artesanal, chamam a atenção os móveis assinados, como as poltronas Diz, de Sergio Rodrigues, e Lua, de Zanini de Zanine.
Vista de cima, a Mata Atlântica impera sobre a propriedade, que tem duas piscinas. Foto: Bruno Pinheiro
Também há um mix interessante nesse quesito: o sofá, que era da casa da empresária em São Paulo, agora é vizinho do mobiliário rústico da região e da poltrona revestida de tecido de alfaiataria, pinçado em seu acervo pessoal. “Em moda, a gente pensa muito em lifestyle. Adoro”, diz Adriana. Um detalhe saboroso fica de brinde: essa casa deslumbrante, novinha em folha, está disponível para aluguel de temporada.
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- Esta reportagem foi publicada originalmente na edição impressa do volume 2 da ELLE Decoration.
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