Copacabana Palace comemora 100 anos de glamour e charme carioca

O mais icônico hotel brasileiro celebra o centenário em grande estilo, com jantar de gala e show de Gilberto Gil. Confira os detalhes do evento e o ensaio fotográfico do Copacabana Palace realizado por Bob Wolfenson para a ELLE Decoration.


copacabana palace 100 anos
Fotos: Bob Wolfenson



São 100 anos de glamour, luxo e de puro charme carioca: o hotel Copacabana Palace celebra o seu centenário com uma programação grandiosa, que começa nesta quinta-feira, dia 17, e vai até domingo. 

Um coquetel no Salão Frontal abre as comemorações hoje à noite, e será seguido por um jantar assinado pelo chef Nello Cassese, diretor culinário de todas as propriedades Belmond na América do Sul, e chef-executivo do Cipriani, restaurante italiano com uma estrela Michelin. As sobremesas ficam a cargo do porto-riquenho Antonio Bachour, eleito o melhor chef Confeiteiro do mundo pelo prêmio Best Chef.

Mas as atrações não são apenas gastronômicas. O brinde pelo centenário – com direito a uma incrível torre de champanhe – será ao som de ninguém menos do que Gilberto Gil.

A programação festiva terá ainda a apresentação do Musical do Copacabana Palace no dia 18, que, assim como o jantar desta quinta, é exclusividade dos hóspedes que adquiriram o “Pacote dos 100“. O clima de festa continua com DJs na piscina, entre os dias 17 e 18, a tradicional Feijoada do Pérgula no dia 18 o Brunch no domingo, com muita música ao vivo, e um tour especial para conhecer o hotel e toda sua história.

E, como história é o que não falta nesse trajetória, publicamos aqui o ensaio fotográfico do Copacabana Palace assinado por Bob Wolfenson, acompanhado pelo texto delicioso de Joaquim Ferreira dos Santos, publicado no volume 02 da ELLE Decoration Brasil.

Nunca houve um hotel como o Copa

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A rainha Elizabeth passou por aqui, a princesa Diana (já sem Charles) também e, da mesma maneira que as duas, outras realezas, como o roqueiro Mick Jagger, o astronauta Neil Armstrong, o dançarino e ator Fred Astaire, o presidente Charles de Gaulle e a atriz Ava Gardner – esta, coitada, numa temporada em que precisava de um ambiente especial, sofisticado, que lhe acariciasse o ego, pois se curava da ressaca de um amor recém e mal terminado com Frank Sinatra. O elenco que cruzou o lobby desse hotel em 100 anos reúne histórias, dramas e comédias com as grifes das melhores dinastias do mundo.

O Brasil já era gigante pela própria natureza, mas chic mesmo ele passou a se sentir a partir de 13 de agosto de 1923, quando se inaugurou no Rio de Janeiro o Copacabana Palace. Foi como se abrisse um segundo capítulo na história nacional. Não mais os reis e príncipes da família Orleans e Bragança, que governaram o império, mas os milionários da incipiente indústria, os herdeiros da família Guinle, a quem foram dadas a construção e a administração do hotel. O cimento era alemão, o mármore, de Carrara, os lustres, da Tchecoslováquia, os cristais, da Boêmia. O charme, carioca.

Plantada à beira-mar, a capital do país sonhava ser francesa, imitava os modelos urbanos de Paris. Nada de natureza. Queria se cercar de asfalto e cimento por todos os lados. O palácio em que o presidente dirigia a república, no bairro do Catete, dava as costas às águas da Baía de Guanabara. E a fachada, onde a Excelência discursava, ficava de frente para a mal-ajambrada rua de comércio.

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copacabana palace 100 anosO Copacabana Palace foi a pedra fundamental de que era possível ser moderno mesmo com os pés na areia branca da praia, com corações e mentes cravados na exuberante cena tropical. Foi uma revolução dionisíaca. O banho de mar era recomendado apenas para fins terapêuticos – e, quel scandale!, quando a atriz francesa Sarah Bernhardt desconheceu a recomendação das autoridades de saúde, “praia só antes das 7 da manhã”, e entrou no mar quase ao meio-dia.

Esse palácio de arquitetura elegante na praia de Copacabana era o monumento de que o Rio precisava para aceitar orgulhoso a vocação de ir ao mar, entender o prazer de se abraçar a ele e se despir para vivenciar melhor essa alegria. Com as janelas do hotel abertas para o Atlântico, começou a se inventar o “carioca”, dono de uma sofisticação relax, sem afetar ostentação. O Copa consagrou o Rio como um destino dos sonhos, antessala do país, o cenário luxuoso de uma deliciosa crônica de costumes.

A atriz estadunidense Jayme Mansfield, apelidada de “o Busto”, teve o próprio exposto, não se sabe se por esperteza de um fotógrafo ou truque dela mesma, em meio ao baile de Carnaval num dos salões do hotel.

O presidente Washington Luís, em pleno exercício do mandato, invadiu a suíte da amante, a francesa Yvonette Martin, com quem estava brigado, e foi baleado por ela. Internado, os jornais informaram que havia sofrido uma crise de apêndice e se submetido a uma operação de emergência. Estava salva a reputação da república.

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O empresário Octávio Guinle mantinha tudo sob bom gosto e controle – e quando o chefe da noite lhe telefonou perguntando sobre o que fazer com uma solicitação de Edward Kennedy, disposto a subir para o apartamento com três mulheres, Guinle teve uma saída diplomática para frustrar os planos do político. Alegou “questões de segurança”.

No Golden Room, o salão dos grandes shows, apresentaram-se Nat King Cole, Yves Montand, Lena Horne, Josephine Baker e dezenas de outras celebridades, algumas deixando histórias excêntricas. Marlene Dietrich precisou fazer pipi em um intervalo das canções, mas o vestido era tão apertado (impossível descer com ele os degraus até o banheiro) que foi preciso providenciar com um garçom um balde de champanhe com areia – posto aos pés da grande atriz e cantora, resolveu-se o problema.

Não havia nada mais glamouroso que essas noitadas de longos e black-ties. No dia seguinte, elas estampavam as colunas sociais de Ibrahim Sued (que hoje tem uma estátua no jardim da entrada) e Jacinto de Thormes. A alta sociedade, emoldurada no cenário do Copacabana Palace, era o novo mundo de sonhos e ambições que alimentava o imaginário da fantasia nacional.

Ao fundo, discreto, o playboy Jorginho Guinle, o enfant-gâté da família proprietária (hoje o hotel faz parte da cadeia Belmond). Baixinho, sem maiores atributos estéticos, circulava com starlets de Hollywood. O restaurante mais elegante da cidade era ali, o Bife de Ouro. Senadores e deputados da capital federal se reuniam em torno de suas mesas e, dizem os livros de história, foi onde, num almoço, tramou-se a deposição do presidente Carlos Luz, em 1955.

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Havia também o frenesi do cassino (até 1946), um teatro (Paulo Autran e Tônia Carrero estrearam nele) e o repertório da boate Meia Noite (Dick Farney ao piano), atrações durante muitos anos comandadas por Oscar Ornstein, relações-públicas e uma espécie de mister Copacabana. Estavam sempre empregados um elenco de duas orquestras e cinco cantores, entre eles nomes consagrados da Rádio Nacional, a Rede Globo da época, como Nelson Gonçalves, Dóris Monteiro, Marlene e outros.

Durante o dia, esse interminável name dropping de celebridades botava calção e maiô para passear na passarela mais sofisticada do país, a pérgula da piscina (existem outras no hotel, as de azulejos pretos, as black pools, as das suítes presidenciais). Era um banho de classe mergulhar o corpo nas mesmas águas onde estiveram os de Rita “Nunca houve uma mulher como Gilda” Hayworth e Brigitte “E Deus criou a mulher” Bardot. Em certas épocas, no entanto, o tchibum requeria cuidados. O diretor Orson Welles, de Cidadão Kane, irritou-se com um telefonema ciumento da namorada, a atriz Dolores del Rio, e atirou nas águas azuis da piscina os móveis do mesmo apartamento que hospedou herdeiros do requintado brasão dos Rothschild.

Rita “Gilda” Hayworth concordaria: nunca houve hotel como o Copacabana Palace.

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