Arte entre quatro paredes

Com um pé na moda, artistas levam murais para dentro de casa e criam ambientes sem igual.


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Se você mora em São Paulo, já deve ter reparado nas empenas cegas repletas de obras de arte que se espalham pela região central da cidade. Pois estas mesmas paredes sem janelas nas laterais de edifícios – tão bem retratadas no delicioso filme argentino Medianeras, de 2011 – são hoje um celeiro de talentos. E do bruto centro paulistano para a sua casa a distância não é longa. Esses mesmos artistas também são capazes de levar cor, vida e uma dose de protesto para o seu endereço. Que tal deixar um pouco de lado as pinturas convencionais e investir numa parede estampada? Fizemos uma seleção de artistas para inspirar essa mudança

Do mato para o mundo

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João Incerti no quarto pintado para a estilista Betina de Luca.Foto: @o_incerti

Criado no interior fluminense, numa fazenda em Teresópolis, João Incerti (foto em destaque) gosta de se dizer um bicho do mato. Faz sentido. Seu apartamento no Rio de Janeiro, onde mora hoje, abraçou a causa urban jungle, e as plantas frequentemente aparecem em seus trabalhos com estamparia. “Não sou de traços muitos certinhos e perfeitinhos e isso acabou se tornando parte da minha identidade”, acredita. Motivos gráficos, cores fortes, repetições e molduras integram o pacote divertido, leve e muito concorrido. Ele acaba de pintar o quarto do filho que a estilista e influencer Betina de Luca espera para breve. Até pouco tempo atrás, o artista se dividia entre os murais e a estamparia da Farm, grife famosa pela profusão de cores que suas peças ostentam. Agora, no entanto, João se dedica inteiramente à sua arte com tintas e pincéis.

Sobre bases sólidas

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Foto: @hlucatelli

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Foto: @hlucatelli

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Hanna Lucatelli: vestimentas das mulheres fazem parte de suas histórias.Foto: @hlucatelli

Filha de uma professora de arte, Hanna Lucatelli cresceu entre pincéis, tintas e muitas cores. Ainda assim, quis resistir à vertente plástica e se aventurou pelo universo da administração. Durou pouco. Foi no design de moda que ela encontrou um caminho capaz de conciliar sua criatividade com a materialização de um produto. A chegada do primeiro filho deu impulso para uma sutil mudança: ao sair da produção e abrir seu brechó, ela conseguia dedicar mais tempo ao pequeno e até voltar a desenhar. Depois de pintar uma de suas agora já famosas mulheres no muro da casa da mãe, ela descobriu uma nova atividade. “Precisei de um curso sério e muitas paredes pintadas até me descobrir muralista”, brinca Hanna. Preste atenção às personas que a moça cria. Cada uma delas tem história, e suas vestimentas refletem essas mensagens. Para breve, Hanna pensa em rematerializar sua ligação com a moda, mas sem perder o contato com as pinturas. Vem coisa boa por aí.

O tédio que virou tela

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Foto: @estefanohornhardt

“Eu estava entediado na pandemia, preso num apartamento com pé-direito altíssimo. Resolvi bagunçar a casa e retomar a pintura, prazer antigo que estava um tanto esquecido”, conta o designer Estéfano Hornhardt. A história prosaica rendeu uma nova carreira ao designer, que acaba de voltar de uma viagem à Áustria, onde deixou sua assinatura nas paredes de um cliente que se encantou com seu traço tropical. A formação original de Estéfano é de fashion designer – com passagens por marcas como Daslu, Animale e Le Lis Blanc – mas a diversidade de superfícies por onde desenha há tempos ampliou esses limites. A criação dos murais tornou-se uma paixão e toma quase 50% de seu tempo atualmente. “Gosto de criar obras bem personalizadas, que sintetizam a história particular de cada cliente. Isso só é possível depois de uma boa conversa.” E, sim, a reportagem comprova que papo bom é outro talento de Estéfano. Fique de olho ainda na Paeteh, marca de roupas de carnaval que o designer criou há alguns anos. A coleção de 2022 já ganha seus primeiros contornos e tem tudo para compensar a energia acumulada do ano que passou.

Em defesa da representatividade

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A ilustradora e muralista Priscila Barbosa. Foto: Divulgação

A vontade de se ver retratada despertou muitas discussões internas em Priscila Barbosa. À medida em que estudava os diferentes símbolos de beleza e descobria a importância de ver corpos parecidos com o seu em lugares de destaque, a artista visual encontrou uma voz. “Meu trabalho como ilustradora é uma das ferramentas que eu uso para mudar a imagem coletiva do que é um corpo bonito”, celebra, com a experiência de quem já emprestou a própria beleza para campanhas de moda plus size. O discurso afinado com o traço delicado e uma paleta própria já renderam uma coleção personalizada de roupas para a gigante Renner. “Fiz um pedido especial ao assinar o contrato: a minha linha tinha que vestir diferentes corpos e incluir tamanhos grandes”, lembra. Sucesso, claro. Seus desenhos podem ser vistos ainda em uma linha própria de camisetas e papelaria.

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Mural de Priscila Barbosa em São Paulo.Foto: @priii.barbosa

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