Concurso de Carnaval: as históricas batalhas de fantasia
No clima de nostalgia da MatinELLE, relembramos as disputas de brilho e originalidade nas folias de salão.

Falta pouco para o MatinELLE, a primeira matinê de Carnaval da ELLE Brasil! A festa está marcada para domingo (16.02) e, nesse clima de nostalgia gostosa que vai tomar conta do salão da União Fraterna, no bairro paulistano da Lapa, vai ter até batalha de fantasias. Aqui, a gente aproveita a deixa para relembrar essa tradição de concurso de carnaval, que vem lá do século passado.
Assim como acontece hoje em dia com os desfiles das escolas de samba no Rio de Janeiro e em São Paulo, concursos de fantasias organizados pelos bailes carnavalescos sempre despertaram grande interesse do público. Nos antigos carnavais do século 20, bailes de gala com escolha das melhores fantasias garantiam enorme mobilização dos concorrentes, imprensa e da população, sempre ávida para acompanhar os detalhes e conhecer os vencedores nos eventos mais concorridos do país.
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Entre os concursos mais famosos que movimentaram os salões durante décadas no Carnaval do Rio de Janeiro, estão os promovidos pelo Theatro Municipal, Hotel Glória, Copacabana Palace, com seu famoso Baile do Copa, e o Quitandinha. Em São Paulo, além do baile do Municipal, clubes tradicionais, como o Monte Líbano e o Juventus, também promoviam seus concursos, sendo que alguns resistem até hoje. Em Belo Horizonte, as atenções sempre estiveram voltadas para o brilho das melhores fantasias no baile do Minas Tênis Clube.
Clóvis Bornay na capa da revista O Cruzeiro, em 1965. Foto: Reprodução
A tradição desse tipo de concurso de Carnaval começou em 1937, quando o museólogo e carnavalesco carioca Clóvis Bornay convenceu a diretoria do Theatro Municipal a promover um concurso anual de fantasias inspirado nos eventos semelhantes que havia em Veneza.
O próprio Bornay venceu a primeira edição com uma fantasia chamada “Príncipe de Pequim”, um feito que ele repetiria muitas vezes depois, até o começo da década de 70, quando foram encerrados os bailes do Municipal. Para confeccionar a fantasia pioneira em 1937, Bornay desmanchou um lustre de cristais encontrado abandonado em um porão e levou a uma modista italiana, para confecção dos adereços. Ganhou o prêmio de 190 mil réis pelo primeiro lugar.
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Os resultados do júri eram ansiosamente aguardados pela população, que acompanhava os eventos pela imprensa. “Os concursos de fantasia eram uma maneira de popularizar os grandes bailes carnavalescos, por meio da transmissão pela televisão e da divulgação dos ganhadores nas capas e páginas das grandes revistas semanais da época, como Manchete e O Cruzeiro”, explica o pesquisador Felipe Ferreira, autor da obra O livro de ouro do carnaval brasileiro.
Wilza Carla com a fantasia Saramandaia, na revista Manchete, em 1977. Foto: Reprodução
Segundo Ferreira, personalidades como Bornay, o costureiro Evandro de Castro Lima e a atriz Wilza Carla davam o tom e tornaram-se verdadeiras referências ao participarem desses eventos. Outros nomes da época, como Violeta Botelho, Núcia Miranda, Mauro Rosas e Marlene Paiva também eram figurinhas carimbadas nos pódios da folia.
Mais do que concorrer em salões tradicionais do Rio de Janeiro, São Paulo e outras cidades, os artistas carnavalescos levavam o seu luxo e originalidade a outros eventos promovidos por clubes Brasil afora. Mais do que uma brincadeira, ganhavam dinheiro e brilho com isso. No baile do Quitandinha, em 1967, Castro Lima ganhou, com a sua fantasia de Imperador Constantino, a vultosa quantia de dois milhões de cruzeiros, moeda da época, e duas passagens Rio de Janeiro-Nova York.
Com tanta fama e dinheiro em jogo, a rivalidade entre os concorrentes era grande – e o céu era o limite na ânsia para ganhar troféus, prêmios e, mais do que tudo, o reconhecimento da melhor fantasia nas categorias luxo ou originalidade, masculino e feminino.
Violeta Botelho na capa de uma edição especial da Manchete, com fantasias premiadas, em 1960. Foto: Reprodução
Nesse duelo de esplendor, dois personagens se destacavam no cenário carioca e nacional, em meados do século passado: Bornay e Castro Lima, que quase sempre disputavam – e ganhavam – as primeiras colocações nas competições.
Bornay ganhou tantas vezes em concursos de fantasias do Rio de Janeiro – tanto no baile do Municipal como em outros lugares – que, em 1961, foi declarado “hors-concours” e ganhou o direito de se apresentar nos concursos sem ser julgado, tamanho o requinte de suas fantasias.
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Para alcançar o estrelato durante o reinado de Momo, nada de simplicidade, como roupinhas básicas de pierrô ou colombina. As enormes e luxuosas fantasias concorrentes tinham nomes pomposos, como “Tributo a Tchaikowsky-suíte do bailado ‘O lago dos cisnes’, opus 20”, que Bornay levou para o baile do Hotel Glória, em 1961.
As regras dos concursos, em especial para as categorias luxo e originalidade, eram divulgadas pela imprensa dias ou semanas antes, para que a população não perdesse um só lance, mesmo estando do lado de fora dos salões.
Tanta alegria e diversão rendiam, claro, muitas histórias. Em 1942, o baile de Carnaval do Theatro Municipal do Rio de Janeiro contou com a presença do presidente Getúlio Vargas e sua esposa, Darcy Vargas. Com a fantasia “Toureiro”, Bornay venceu e jogou a capa ao presidente, que gostou da brincadeira e pendurou o adereço como enfeite do camarote presidencial. A confraternização entre todos foi regada com brindes de champanhe.
No alto da página da Manchete, Clóvis Bornay (à esq.) e Evandro de Castro Lima (à dir.), como Estátua Barroca. Foto: Reprodução
Em uma das vitórias no concurso de Carnaval do baile do Copacabana Palace com a fantasia “Estátua Barroca”, Castro Lima se recusou gentilmente a responder as perguntas da imprensa. Por meio de um assistente, justificou afirmando que “estátua não fala”.
E quem fará história com a primeira fantasia premiada na MatinELLE? Fique de olho no nosso site e redes sociais para descobrir.
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