Tarô para iniciantes: os primeiros passos para conhecer as cartas

Como surgiu? O que são arcanos? Qual baralho escolher? Tarólogas respondem dúvidas básicas de quem quer começar a tirar os próprios jogos para se conhecer melhor.


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Foto: Getty Images



São 78 cartas repletas de símbolos que nos ajudam no processo de autoconhecimento e apontam alguns caminhos. Essa é uma definições que o tarô pode ter. “É uma forma de nos conectarmos com o oráculo, esse conhecimento maior, que nós, seres humanos, às vezes, deixamos passar. Estamos aqui para aprender”, define a jornalista e taróloga Júlia Anadam. E o melhor: mesmo sendo uma prática geralmente relacionada aos ocultistas, nada impede que qualquer um estude o assunto se prepare para fazer consultas por conta própria para se guiar.

A origem do tarô

Como quase todo conhecimento antigo, não se sabe ao certo como o tarô começou. Uma das teorias favoritas de Júlia é que ele seria uma criação coletiva de um grupo de pessoas, ao longo de várias gerações. As cartas mais antigas já encontradas são baralhos incompletos pintados no século 15 para os Visconti Sforza, família italiana que governava Milão antes do domínio espanhol. “Os registros são esses, mas a origem exata ninguém sabe. E, no final das contas, acho bonito ter esse mistério e saber viver com isso”, comenta Júlia.

Com base em suas pesquisas, Júlia entende que o tarô foi muito apropriado ao longo dos séculos e, como a maioria dos estudos são centralizados na Europa, esses são os registros que acabam chegando até nós. “Acho importante falar também que ele foi massivamente usado por mãos femininas de grupos que a gente chama de ciganos, mas o termo correto é romani, para atividades divinatórias. Então, acredito que essa parte da cronologia também foi apagada”, analisa. Para ela, nem todas as pessoas que usaram o tarô e que o transformaram no que é hoje entraram oficialmente para a história.

O que são arcanos?

Cada uma das cartas de tarô é um arcano, que representa um conhecimento que está oculto. O termo vem do latim “arcanus”, que significa “segredo”, “mistério”. Os 22 Arcanos Maiores estão ligados a questões mais profundas que pontuam as nossas jornadas, indicando momentos de grandes transformações. A numeração aponta a ordem cronológica, uma vez que contam uma história que se relaciona com a trajetória humana. São eles:

  • O Mago;
  • A Sacerdotisa;
  • A Imperatriz;
  • O Imperador;
  • O Papa ou Grão-Sacerdote;
  • Os Enamorados;
  • O Carro ou A Carruagem;
  • A Força;
  • O Eremita;
  • A Roda da Fortuna;
  • A Justiça;
  • O Enforcado;
  • A Morte;
  • A Temperança;
  • O Diabo;
  • A Torre;
  • A Estrela;
  • A Lua;
  • O Sol;
  • O Julgamento ou O Juízo Final;
  • O Mundo;
  • O Louco.

Os 56 Arcanos Menores, por sua vez, estão conectados a questões cotidianas, sugerindo ações que são desencadeadas por comportamentos humanos. As transições representadas por eles tendem a ser temporárias ou com baixo poder de influência. Entre outros detalhes, eles são divididos em quatro naipes que estão ligados à elementos da natureza:

  • Espadas = Ar
  • Paus = Fogo
  • Ouros = Terra
  • Copas = Água

Os diferentes tipos de baralho de tarô

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Algumas cartas do tarô de Rider-Waite

Getty Images

Não existe apenas um modelo de baralho de tarô. “O mais antigo é o de Marselha e, a partir dele, existem milhares de releituras”, conta a taróloga Mariana Candeias. “As imagens podem variar bastante, mas as cartas seguem um padrão equivalente: tem o mesmo nome, a mesma ordem, os mesmos números…”, explica. Conheça alguns dos mais famosos:

Tarô de Marselha

As figuras são medievais, pintadas com cores primárias e os números escritos em algarismos romanos. Dizem que surgiu no norte de Itália e logo foi introduzido na França, onde foi largamente comercializado como instrumento lúdico, por isso, até hoje os títulos são em francês.

Tarô de Rider-Waite

Com desenhos da artista Pamela Colman Smith, foi publicado pela primeira vez em 1910 em um livro do místico britânico Arthur Edward Waite. Enquanto no tarô de Marselha apenas os Arcanos Maiores têm personagens ilustrados, no Rider-Waite o mesmo vale para as 40 cartas numeradas dos Arcanos Menores. Atualmente, é o mais vendido no mundo todo.

Tarô de Thoth

Criado pelo escritor e mago inglês Aleister Crowley, com desenhos da pintora Lady Frieda Harris, faz uma releitura das cartas a partir de códigos da cabala, da astrologia e da mitologia egípcia. Foi lançado em 1944, junto com um livro homônimo que trazia as descrições dos arcanos e métodos de tiragem.

Tarô Mitológico

Resultado do trabalho conjunto entre a astróloga Liz Greene, a taróloga Juliette Sharman-Burke e a artista plástica Tricia Newell, todas estadunidenses, foi lançado em 1986. As imagens medievais foram substituídas por personagens e passagens da mitologia grega. Apesar das cartas serem lindas, nenhum especialista recomenda seguir as associações oferecidas, o melhor é se ater aos significados dos arcanos. Também é um fenômeno de vendas.

Como escolher seu baralho de tarô

Escutar a sua intuição é o melhor caminho para escolher o seu baralho, concordam as tarólogas. “Várias pessoas já me disseram que não se conectaram com o tarô de Marselha, mas quando pegaram um nos outros tipos se se viram neles, comenta Júlia. “Acho que, em primeiro lugar, você tem que se identificar, porque é sobre a sua trajetória, vai estar aprendendo sobre você”, avalia.

Porém ambas acreditam que o tradicional é fundamental para o aprendizado, pois traz todos os elementos fundamentais para o entendimento do tarô. “Sempre acho muito importante conhecer o de Marselha, mesmo que não seja a sua escolha final, porque ele deu início a tudo”, reforça Mariana.

Dicas para começar no tarô

Quer se aventurar por conta própria pelo tarô? A dica de Mariana é fazer um curso especializado. Existe muito material na internet e livros sobre o assunto para alimentar o autodidata, mas a taróloga ressalta que essa experiência pode fazer a diferença como pontapé inicial. “É interessante pela troca com outras pessoas e para se entender dentro dos inúmeros conhecimentos espalhados por aí. Para mim, é a melhor maneira de captar qual caminho seguir, porque são muitos”, avalia.

Durante o processo de aprendizado, Júlia recomenda ter calma e não se desesperar para decorar o significado exato de cada carta. “Claro que é importante entender o que saiu para você, mas o baralho é um guia. Encontre uma forma de conectá-lo com a sua própria história e com o mundo. A descrição de cada arcano é só uma parte do tarô, ele tem muitos outros elementos mágicos e significativos.”

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