Vinho em lata: sim ou não?

Embalagens que podem ser transportadas para qualquer lugar tentam ganhar espaço entre os amantes do vinho. Conheça algumas opções.


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Foto: Divulgação



Priscila Simon já enfrentou alguns perrengues por beber quase exclusivamente vinho. Com o marido cervejeiro nem sempre disposto a dividir uma garrafa em jantares e outras ocasiões, ela resignava-se ao consumo do que estivesse disponível em taça ou fazia outro pedido. Vinho na praia? Houve tentativas. “Mas dava muito trabalho levar cooler, gelo, taças e abridor para a areia. Desisti”, conta Priscila, rindo.

As portas da percepção foram abertas depois de uma viagem à Califórnia. A variadíssima oferta de vinhos em lata nos supermercados de lá fez com que Priscila, executiva da Arezzo, voltasse disposta a empreender no setor de bebidas e oferecer o novo formato no Brasil. Uniu-se a Raquel Scherer, colega do setor calçadista e gerente da Melissa, para lançarem os vinhos Bliss. Além de se revelar um bom negócio, o vinho em lata foi uma forma de libertação. “Hoje posso chegar em casa e abrir uma latinha no fim do dia, sem me preocupar se vai sobrar bebida oxidando na geladeira”, diz ela.

Bliss, que chegou no final de 2019, é uma das mais de 15 marcas enlatadas surgidas no Brasil no último par de anos, sacudindo o mercado e causando alguma reação entre enófilos tradicionais, apegados à pompa e à circunstância. Um raciocínio óbvio, porém, costuma ser suficiente para desconstruir os preconceitos de quem se dispõe a esse exercício: “O problema nunca foi a lata, mas o que se coloca dentro dela”, diz o sommelier Diego Arrebola, responsável por elaborar os cortes (misturas) de vinhos da marca Arya. “Sempre houve resistência a novos formatos, mas nada impede que vinhos enlatados, embora frescos e jovens, tenham complexidade e amplitude de boca”.

Vinhos jovens e frescos são superindicados para o envase em lata, que conserva bem bebidas feitas para o consumo rápido, como a cerveja. Vinhos de guarda, com maior estrutura, aqueles que prometem melhorar com o tempo, precisam ser engarrafados da maneira tradicional. Durante seu descanso, por causa do vedamento com rolha de cortiça, ocorre uma micro-oxigenação que influi nessa evolução (o oxigênio em demasia, porém, certamente arruinará a bebida fermentada). Mas não se preocupe, pois mais de 95% dos vinhos que a gente compra no supermercado são jovens e feitos para serem bebidos pouco tempo depois do envase, o que dissipa desconfianças contra a lata, o screw cap (tampa de rosquinha) ou as rolhas sintéticas (vamos combinar que elas são esquisitonas mesmo, só que não pioram nem melhoram a bebida).

Vendas a mil

Como é muito provável que a maioria dos que bebem vinho não tenha planos de investir em preciosas garrafas de Châteauneuf-du-Pape e esperá-las evoluir por cerca de duas décadas, a lata já alcançou bons resultados no Brasil. É bastante comum ouvir a expressão “acima das expectativas” quando se conversa com quem produz latinhas hoje no país. Em pouco mais de seis meses de vendas, a marca Lovin’ Wine faturou 1 milhão de reais com a venda de mais de 50 mil unidades em seu próprio e-commerce, em lojas físicas ou virtuais parceiras. Para 2021, seus sócios projetam alcançar 5 milhões de reais.

Boa parte desse sucesso deve-se a mulheres que acataram a ideia de imediato. “Não direcionamos o produto ao público feminino, mas fato é que 93% a 95% das consumidoras de Lovin’ Wine são mulheres, como indicam os dados da nossa plataforma”, diz João Paulo Sattamini, CEO da startup que colocou a linha no mercado. Outro empresário, Rafael Rodrigues, sócio da marca OvniH, afirma que o preconceito contra a lata prevalece entre os homens. “Eu também gosto do ritual tradicional do vinho, mas acredito que a lata seja capaz de torná-lo mais inclusivo em diversas situações. Não vai levar muito tempo para os homens perceberem que é muito mais prático levar vinho em lata para o churrasco”, diz Rafael.

Embora o formato já tenha se provado um fenômeno durante o ano passado, quando a venda de vinhos em geral subiu substancialmente com a clausura imposta pela pandemia, empresários da lata aguardam com ansiedade as situações em que poderão dar ainda mais vazão a seu produto. Para isso, eventos são fundamentais, além de shows, grandes festas e praia, muita praia. Já pensou encontrar um rosé fresco e geladinho no quiosque de Copacabana ou de Jericoacoara quando, finalmente, pudermos circular livremente por aí? E nos blocos de Carnaval de 2022, vai ter vinho?

O que provar?

Conheça algumas opções de vinhos brasileiros em lata – e alguns importados também.

Cortes equilibrados

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Ao contrário da maioria dos vinhos em lata brasileiros, que lançam mão do visual alegre para ganhar o público jovem, a marca Arya Wines, da startup DistillRuptive, optou por embalagens sóbrias, na mira do consumidor convencional. O sucesso foi parecido: da safra 2020 de seus vinhos elegantes e bem equilibrados, pouco sobrou. Os blends de uvas definidos pelo sommelier Diego Arrebola foram Prosecco Brut (uvas Prosecco e Glera), branco (Trebbiano, Sauvignon Blanc, Alvarinho e Riesling Itálico), rosé (Pinot Noir e Sauvignon Blanc) e tinto (Pinot Noir, Merlot e Rebo), com frutos de videiras de Nova Prata e Faria Lemos, no Rio Grande do Sul. A safra 2021 foi recém-colhida e os cortes devem sofrer ajustes. “Posso alterar os blends conforme as colheitas do ano, para manter o perfil de cada produto. O compromisso é manter o máximo de qualidade dentro da faixa de preço proposta pela marca”, diz Diego.

Onde encontrar: latinhas de 269 ml, por R$ 19,90, na loja da DistillRuptive, que também tem a linha coquetéis enlatados Bakko.

Terroir do pampa gaúcho

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A vinícola Guatambu, que já fez fama e prêmios com seus vinhos da Campanha Gaúcha, entrou no mundo do alumínio com a linha Mysterius. Os primeiros lançamentos foram Intuição Prosecco Brut (100% uvas Prosecco) e Veraz Tinto (Cabernet Sauvignon, Tempranillo e Tannat). Intuição é feito pelo método charmat e isso quer dizer que é um espumante de verdade, com bolhas obtidas pelo processo de fermentação do vinho. É leve, aromático e refrescante. Veraz é frutado, macio, tem boa acidez e fará boa harmonia com massas ao molho de tomate e carnes vermelhas. A Guatambu promete para breve o lançamento de Solstício (branco) e Dasmarias (rosé).

Onde encontrar: latas com 270 ml (espumante) e 310 ml (tinto), por R$ 210, o pack de 6 unidades na loja online da marca.

Chiques e instagramáveis

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O branco de Chardonnay e o rosé de Pinot Noir da Bliss encantam pela leveza e pela elegância. O Chardonnay tem boa acidez e sua característica cítrica é bem balanceada com o dulçor da fruta, com final de boca limpo. Será bom companheiro para ostras e frutos do mar. O rosé de Pinot é um tantinho mais encorpado do que a maioria dos rosés de lata brasileiros, tem bastante fruta silvestre no paladar, porém final seco. Ambos são indicados para aperitivos, combinam com piscina e as latinhas de desenho simples e charmoso têm aquele apelo instagramável. Os vinhos são elaborados pela Vinícola Santa Bárbara, de Garibaldi.

Onde encontrar: latinhas de 269 ml de branco e rosé em packs com 6 unidades, por R$ 95,40, no site da marca.

Vinho com lúpulo, inédito no Brasil

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Quem é da secura na boca vai gostar especialmente dos brancos frisantes da OvniH, de acidez vibrante e pouca sensação de açúcar residual. O primeiro branco brut é feito com Trebbiano, Riesling e Chardonnay. O OvniH Hop, à base de uvas Prosecco e Trebbiano, vem com novidade: adição de lúpulo. Mas isso não quer dizer que o vinho fique amargo, como boa parte das cervejas. O lúpulo, adicionado a frio, perfuma a bebida e realça o final seco. A marca ainda tem os frisantes Moscatel (boa pedida para quem quer dulçor) e rosé (Riesling, Trebbiano, Moscato e Merlot). São todos elaborados pela Vinícola Giaretta, de Guaporé, que também tem sua linha de latinhas – branco (Chardonnay), rosé (Moscato, Chardonnay e Ancellotta) e tinto (Cabernet Sauvignon).

Onde encontrar: Latas de 269 ml da linha Ovnih, por R$ 15, na Vitrine Líquida, e da linha Giaretta, por R$ 16,29, no Empório Giaretta.

Leves e macios

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Somm é a aposta enlatada da Miolo, uma das maiores vinícolas do país, em parceria com uma poderosa companhia de bebidas. Os dois primeiros lançamentos foram bem acertados, começando com rosé de Pinot Noir e Grenache, que é pura leveza, a cara do verão brasileiro. O tinto de Cabernet Franc e Syrah tem aromas bem presentes de frutas vermelhas, corpo médio e taninos macios. Completam a linha um frisante branco de Moscato e um branco sem bolhas de Pinot Grigio e Moscato.

Onde encontrar: latas de 269 ml em packs de 4 unidades, por R$ 35,60, na loja virtual da Miolo, ou por unidade, R$ 17,53, na loja/clube de vinhos Wine.

Delicados e adocicados

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Os dois frisantes da Lovin’ Wine são delicados e levemente adocicados, resultado da adição de sacarose, presente nos rótulos branco (Moscato Bianco e Prosecco) e rosé (Moscato Bianco, Mocato Giallo e Moscato de Hamburgo). Embora haja controvérsias sobre vinhos corrigidos com açúcar ou edulcorantes, Lovin’ Wine firmou-se como referência e agradou o paladar doce brasileiro. A quem dispensa o dulçor, porém, a marca prepara uma versão seca de rosé com Syrah e Merlot. Os dois primeiros rótulos foram elaborados pela competente Casa Perini, de Farroupilha, e o novo rosé, pela Vinhetica, projeto do enólogo francês Gaspar Deurmont, na Campanha Gaúcha.

Onde encontrar: vendidos em packs de 4 latas de 269 ml, por R$ 79,60 (branco), no site da marca.

Em busca da alma fofa

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Becas Sparkling é a linha de frisantes da Ponto Nero, empresa do grupo Famiglia Valduga Co. Também há adição da sacarose nos vinhos batizados como Sweet Moscato (Moscatel), Joy Blanc (Chardonnay) e Fun Rosé (Glera). São simples e agradáveis para os dias de calor. E a ovelhinha negra conquista imediatamente quem não resiste a um rótulo fofo, característica comum a vários enlatados. A empresa promete novidades para 2021.

Onde encontrar: latas de 269 ml em packs de 4 unidades, por R$ 69, e no e-commerce da Famiglia Valduga.

Harmonizando com hambúrguer

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Tem vinho em lata sendo entregue junto com hambúrguer pelo delivery: a rede Cabana Burger escolheu alguns rótulos da marca Vivant para acompanhar seus lanches. “Já tínhamos opções de vinhos em taça e garrafa no cardápio, mas a oferta em lata facilitou bastante a entrega”, diz Géssica Romanini, gerente de marketing do Cabana. Vivant tem latas de vinhos branco (Chardonnay), branco frisante (Moscato Branco), rosé (Syrah e Pinot Noir), rosé frisante (Chardonnay e Pinot Noir) e tinto (Cabernet Sauvignon e Merlot), feitos pela Quinta Don Bonifácio, de Caxias do Sul. Seu perfil jovem e bem ligeiro é parecido com o da marca Vibra!, exclusiva da Evino e produzida pela paulista Vinícola Góes. A linha conta com um espumante branco, um branco seco de mesa, um rosé e um tinto (único da turma que tem a uva, Cabernet Sauvignon, especificada na ficha técnica), além do coquetel Bellini enlatado.

Onde encontrar: latas de 269 ml de Vibra!, por R$ 13,90, e de Vivant, por R$ 15,90, na loja virtual e clube de vinhos Evino. Vivant está no delivery do Cabana Burger, nas cidades de São Paulo, São Caetano do Sul, Campinas, Barueri, Rio de Janeiro e Niterói.

Lá de fora

Há poucas opções de marcas importadas no Brasil e duas delas são exclusividade da loja e clube de vinhos Wine. Ambas valem a prova. It’s Wine O’Clock é uma linha em lata chilena, produzida no Valle Central, com opções agradáveis de branco (Sauvignon Blanc), rosé (Cabernet Sauvignon) e tinto (Merlot e Syrah). Os vinhos californianos da Dark Horse agradam a quem quer mais corpo e complexidade. Há um espumante de Chardonnay, um rosé (Grenache, Zinfandel, Tempranillo, Pinot Grigio e Barbera), um branco de Pinot Grigio e um tinto de Pinot Noir. Em latas maiores, com conteúdo de meia garrafa.

Onde encontrar: latas de 250 ml da linha It’s Wine O’Clock, por R$ 19,88, e latas de 375 ml da linha Dark Horse, por R$ 35,18, na Wine, que também vende os vinhos Arya e Somm.

Os preços desta reportagem e a disponibilidade dos produtos foram pesquisados em abril de 2021 e estão sujeitos a alteração.

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