Van Cleef & Arpels vai à caça ao tesouro em coleção de alta joalheria
Inspirada no livro “A ilha do tesouro”, de Robert Louis Stevenson, a nova coleção de alta joalheria da Van Cleef & Arpels chega cheia de cores, humor, fantasia e altíssimos quilates.
Via de regra, as apresentações de alta joalheria acontecem entre os meses de maio e junho, ou durante os desfiles de alta-costura, em janeiro e julho. No caso da Van Cleef & Arpels, a deste ano foi um pouco mais tarde e distante da sede da maison, na Place Vendôme, na capital francesa.
“Queríamos ser bem literais, ter um cenário caribenho, então Paris não resolveria”, diz Catherine Renier, a CEO da marca. “Tivemos muitos debates sobre como desenrolar essa história, se faríamos em um barco, em uma ilha. Porém, somos bastante pragmáticos, e Miami se mostrou possível e animadora ao mesmo tempo.”
Van Cleef & Arpels. Foto: Divulgação
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O deslocamento tem motivo. A nova coleção de alta joalheria da casa tem como principal inspiração o romance de 1883, A ilha do tesouro, do escritor escocês Robert Louis Stevenson. No livro, o jovem Jim Hawkins encontra um mapa para um tesouro perdido e parte à sua procura a bordo do navio Hispaniola – com direito a encontros com piratas, criaturas marinhas e outras intempéries.
“Foi uma oportunidade para nós não apenas celebrarmos um clássico da literatura, mas recuperarmos algumas técnicas e elementos da nossa própria herança”, fala Catherine. O tema náutico, por exemplo, não é inédito para a Van Cleef & Arpels. Uma das primeiras encomendas recebidas pela joalheria, em 1906, foi uma peça de mesa (com uma campainha elétrica no interior) no formato de um barco, o iate Varuna of New York.
Van Cleef & Arpels. Foto: Divulgação
Uma versão atualizada daquele item agora vira broche de ouro branco, ouro rosé e diamantes – seu nome é o mesmo da embarcação imaginada por Louis Stevenson. As peças com desenho de plantas ou animais também são recorrentes no legado da grife. “Flora e fauna são territórios comuns e confortáveis, mas nos aventuramos em novas expressões artísticas”, comenta a executiva. Se flores e borboletas são itens facilmente associados às joias da maison, aqui elas são acompanhadas de tartarugas, palmeiras e até miniaturas de piratas.
Na parte técnica, alguns dos destaques são um colar de ouro (branco e amarelo) com diamantes e uma safira em lapidação esmeralda de 55,34 quilates, feito para lembrar as cordas e nós náuticos; e outro (de ouro amarelo, rosé e branco, safiras, diamantes e uma granada espessartita oval de 23,47 quilates) que imita um lenço amarrado no pescoço. Os broches em que as pedras escondem os metais (mecanismo chamado de mystery set) e os itens que transformam, para permitir diferentes formas de uso, entram na mesma lista.
Van Cleef & Arpels. Foto: Divulgação
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A Van Cleef & Arpels não é estranha ao mundo das artes e da literatura. Apresentações anteriores já foram baseadas em obras como Romeu & Julieta e Sonho de uma noite de verão. “Gostamos de olhar para clássicos porque eles são símbolos de uma época”, fala Catherine. “Quando escolhemos uma história, nos preocupamos que ela fale com o público em geral – não só os nossos clientes. Quando alguém reconhece algum elemento daquela narrativa, consegue apreciar nossa criatividade na joalheria, pode entender isso como expressão artística.”
E o que os levou até as aventuras de Stevenson? “Em 2023, nossas inspirações vieram de locações específicas. No ano anterior, a abordagem foi mais técnica, era sobre diamantes e outras pedras excepcionais. Agora, nos pareceu um bom momento para propor algo divertido, leve e colorido. Todo mundo já brincou de pirata na infância, então acredito que essa coleção evoque algumas memórias afetivas de aventuras e descobertas do nosso passado”, diz Catherine.
O tema também tem explicação financeira. As vendas da Van Cleef & Arpels quase que dobraram nos últimos anos – e anualmente. Só em 2023, segundo dados do HSBC, o montante foi de 3,8 bilhões de euros. O boom da linha Alhambra nas redes sociais com certeza tem influência direta nos resultados, mas não é o único indicador positivo.
Desde a pandemia, a marca tem reforçado seu investimento e conexão com o mundo das artes. O cruzamento, uma das principais estratégias do então diretor criativo e CEO Nicolas Bos (desde maio, ele responde como CEO de todo o grupo Richemont, ao qual a etiqueta pertence), se provou extremamente bem-sucedido. A taxa de crescimento, ainda que mais lenta no trimestre passado, continua a impressionar, em especial num cenário de desaceleração no consumo de luxo – é a maior do conglomerado, superando a da Cartier.
Em tempos difíceis – e na caça aos tesouros dos super-ricos –, algumas fantasias podem se tornar realidades preciosas.
Luigi Torre viajou a Miami a convite da Van Cleef & Arpels.
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