5 + 1 motivos para seguir o trabalho de Raf Simons

Para celebrar os 25 anos de carreira do estilista belga, listamos alguns principais fatores que o tornam um dos criadores de moda mais influentes da atualidade.


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Extra! Raf Simons Archive Redux sabe o que é isso? É a coleção de 100 peças icônicas reeditadas para comemorar os 25 e maravilhosos anos de carreira do estilista belga Raf Simons. Os itens estão sendo mostrados aos poucos nas redes da marca e estarão à venda ainda esse ano. A novidade liberou a gritaria entre os membros do fandom do designer, mas, é claro, só chegarão aqui via importadores.

Se você já sentiu a facada no peito não se preocupe. Claro que a maioria de nós adoraria dar de cara com uma encomenda ou recebido desses, nem tudo na moda é feito para ser comprado e usado. Pense em Raf como um professor, como um designer que tem um processo e um jeito de fazer coleções muito generoso, que nos entrega inspiração, referências, filmes para ver, músicas para ouvir, ideias para pensar.

Levantei 5 + 1 motivos para defender a tese de que Raf é um dos designers mais relevantes do nosso tempo. Duvida? Siga o fio e vem com a gente:


This is not America

Ele foi o melhor e mais genial estilista à frente da Calvin Klein, com todo o respeito aos demais e ao próprio. Diria que ele foi mais fiel à ideia da CK do que a marca sozinha, com sua produção interna, jamais poderia ser. O material que ele criou para a talvez mais “all american” das marcas americanas é essencial para qualquer pessoa que estuda moda ou leva a coisa toda minimamente a sério. Sente e veja tudo, o desfile e cada look. Significantes como filmes de terror e estereótipos escolares ganharam novos significados, conjugados com a visão do pop versão Andy Warhol, com a ambientação do artista Sterlinng Ruby, olha, é berro atrás de berro. Em especial, nesse momento, seria interessante destacar a coleção inspirada no clássico Tubarão. O filme tem sido revisitado longamente como roteiro básico da emergência de ameaças e da ação da autoridade constituída contra as pessoas. Dos novos fascistas ao novo coronavírus, faça suas conexões. Raf deu essa letra em 2018: é claro que não se trata de dizer que ele previu a Covid-19, por favor, o que ele coloca é da ordem de uma estrutura que se repete.

Verdade seja dita

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Capa do álbum Man-Machine, do Kraftwerk e looks do inverno 1998 de Raf Simons.Fotos: Reprodução

Ele reinventou o skinny suit pós-Helmut Lang e a roupa masculina na primeira década dos 2000. Sabe o look camisa justinha, gravata fina e calça de alfaiataria? Pensou em Hedi Slimane, eu sei. Mas, sejamos sinceros, Slimane só ajustou a calça e soube produzir imagens icônicas desse tipo (com Peter Doherty e outros rockers magrelos) de look que já estava, por exemplo, na icônica coleção outono-inverno 1998 de Raf. A inspiração do designer para essa coleção, batizada de Radioactivity, foi a música da banda alemã de krautrock\industrial Kraftwerk, um dos amores do jovem Raf, que passou anos pirando em discos como o clássico The Man-Machine. Desse álbum saíram os looks finais do desfile, meninos em série de camisa vermelha e gravata, cabelinho engomado. Mas pra além dessa referência mais evidente, tem ali algo muito mais especial. É a visão de Raf sobre a música, sobre como aquela música falou ao seu espírito criativo, como ela em retrospecto foi povoando suas primeiras experiências profissionais no mobiliário, como ela em sua própria construção, dura, racional, também falava de um sentimento de mundo, de um estado de coisas e de experiências humanas.

Influencer real/oficial

Raf é ref. E quem tem ref tem (quase) tudo. Raf se formou em design industrial e de móveis. Ele não estudou moda, e transformou isso em marca. Sua visão do ambiente, das necessidades, do quer dizer prático, do ambiente fabril, do modo de produção. Raf, como dito acima, gosta de música. Não como fundo, não pra usar na trilha como uma cortina, ele não gosta de cortinas (tá, isso eu inventei, mas vocês entenderam). Esse amor, vejam bem, amor, pela música fez com que ele entrasse em contato com uma série de movimentos da juventude, cenas alimentadas por música. Raf admira Helmut, trabalhou com o Antwerp-“sixer” Walter van Beirendonck, mas quem bateu a cara dele no chão, quem levantou a bandeira vermelha do tesão criativo, do amor pela moda, foi Martin Margiela. Entendedores entenderão. E quem não entendeu procure o desfile que Margiela fez no subúrbios de Paris no inverno de 1989. Foi ali que rolou. De Virgil Abloh a Miuccia Prada, muitos são os fãs da história criativa de Raf. Muita paixão envolvida, mesmo que com esse exterior de belga penteadinho.

Só garotos

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Campanha da coleção verão 2017 de Raf Simons com fotos de Robert Mapplethorpe.Foto: Divulgação

Ele fez uma coleção estampada com fotografias de Robert Mapplethorpe. A Patti Smith estava em algumas delas. Apenas. Talvez eu deva mencionar que quem me der uma camiseta dessas terá minha amizade eterna. Sou ótima amiga. Rs.

O escolhido

Ele foi escolhido por Miuccia para assumir a Prada com ela. Quer dizer, isso não é qualquer coisa. É como se, guardadas as diferenças e contextos, Chanel escolhesse um sucessor ou parceiro em vida. Realmente não posso pensar em alguém melhor para o trabalho. Raf arrasou na Calvin Klein, sofreu entre milhões de pétalas e vendeu pencas de tênis na Dior, mas seu jeito de ver e fazer as coisas tem muitas conexões com o da estilista italiana. São estilos muito diferentes, mas maneiras muito conectadas de imprimir um certo tipo de emoção na roupa, um modo cabeçudo-pop de pensar, uma coragem e mesmo uma certa atração pelo esquisito, pelo fora de lugar. Vamos admitir: Miuccia andava cansada, talvez entediada pela falta de interlocução. Aquela mulher estava precisando de alguém interessante pra conversar, tomar um drinks, cortar uns tecidos. De modo que eu tenho pressa e tanta coisa me interessa, mas nada tanto assim. Que chegue logo essa coleção feminina, gente do céu.

Bonus Track

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