A Dark Academia e as passarelas
O movimento e estética popularizada pelo TikTok deu as caras nas coleções de inverno 2021 internacionais. Não entendeu nada? Te explicamos tudo.
Vestindo tons terrosos em alfaiataria estudantil, a Dark Academia dominou a timeline de moda do TikTok em 2020, mas se engana quem acha que a febre é recente ou que já dá sinais de cansaço. Em fevereiro de 2021, por exemplo, Hedi Slimane, diretor de criação da Celine, apresentou uma coleção masculina carregada de referências ao movimento. O inverno 2021 de Grace Wales Bonner também é repleto de códigos presentes nessa estética – porém de um ponto de vista de ressignificação e centrado na cultura negra. Assim como a nova coleção da Philosophy di Lorenzo Serafini, recém-desfilada na semana de moda de Milão.
Uma rápida busca no Pinterest, contudo, mostra resultados sobre Dark Academia datados de 2014. Com seu romantismo e astral erudito, o estilo surgiu como uma vertente pós-moderna da estética gótica, centrada no academicismo e na ode à antiguidade e literatura. Suas raízes são provenientes do gênero literário homônimo surgido na década de 1990, que flui entre a tragédia e a sátira, focando na humanidade das artes e no ocultismo da vida. Impedidos de visitar livrarias por conta da pandemia, os jovens leitores tentavam recriar a atmosfera dos livros em vídeos e fotos, ampliando, assim, sua persona digital.
Mas a adesão vai além das roupas. Pode ser vista em manuais de organização, sugestões culturais e ideias de fotografia. É como se a forma de se vestir influenciasse a vida daquela pessoa. Pelo menos, é assim que conta Talitah Sampaio, pesquisadora de estilos e criadora de conteúdo. Segundo ela, “o movimento tem mais relação com o lifestyle. Quem segue normalmente tem preferência para tons terrosos, gosta de estudar e usa roupas vintage”.
Talitah estuda estéticas há 11 anos e diz que a Dark Academia é ligada diretamente ao ato de leitura. O que faz o adepto se deixar levar pela imagem dos personagens construída em palavras. Uma dessas seguidoras é a vlogger Mayara Batista. Além de buscar refletir a estética na decoração, ela reproduz as combinações de looks propostas pelo grupo com blusas de gola alta, saias xadrez, casacos tweed e vestidos de gola Peter Pan.
Lembrando o estilo preppy, a Dark Academia mira na sofisticação e status de instituições educacionais de prestígio, principalmente na herança visual das universidades estadunidenses que formam a liga Ivy – frequentemente referenciada por Hollywood, daí sua influência no imaginário popular.
Mayara, por outro lado, garante que as referências que ela encontra nas redes sociais, que são totalmente imersas na leitura e produção de arte e texto, são um incentivo para buscar conhecimento cultural e sobre si mesma. Em seu canal do Youtube, ela produziu mais de dez vídeos sobre estética e seus elementos. De acordo com ela, a busca é grande. “O primeiro que fiz bateu 12 mil visualizações, o que indica que é um assunto que desperta o interesse das pessoas”, comenta.
EUROCENTRISMO
Uma crítica recorrente à Dark Academia tem origem no debate sobre eurocentrismo. Isso acontece devido ao caimento pesado das roupas, às cores muito escuras e até mesmo pela veneração a obras de arte vindas da Europa. Sobre tais pontos, Ana Paula Alsan, administradora da maior página brasileira de Dark Academia no Instagram, diz não haver muito o que rebater. Para ela, os pontos são bastante justos. Seu perfil, chamado de D’arc Academia, tem 18 mil seguidores e busca expressar uma ótica feminina sobre o estilo, dando protagonismo a figuras que fujam de tal padrão.
Ana Paula também explica que as páginas eurocêntricas se contentam em explorar a cultura clássica greco-romana, desprezando as outras manifestações culturais. Por isso suas postagens buscam sempre expandir os conceitos da estética para incluir e dar visibilidade para outras vozes e corpos.
Philosphy di Lorenzo SerafiniFoto Cortesia | Philosphy di Lorenzo Serafini
Seguidora do movimento desde 2019, a estudante Carol Menegatti alerta que as características da Dark Academia podem ser mal interpretadas. Por exemplo, para ela, conexão com imagens e referências do passado se limita ao visual. Logo, é necessário levar em consideração os contextos sociais daquela época, hoje inaceitáveis. “Muitas vezes isso é confundido pelas pessoas do movimento. Existe uma diferença entre apreciar o antigo e querer viver naquela época”, pontua.
Enquanto internacionalmente os adeptos têm como guias de estilo os universos literários de Harry Potter e Donna Tartt, por aqui, são as obras de Clarice Lispector, Carlos Drummond de Andrade, Álvares de Azevedo e Machado de Assis as mais influentes.
MODA
Outra barreira que não impede os brasileiros é o uso das roupas em terras tropicais. Mesmo desenvolvidas com tecidos mais grossos e de caimento pesado, Ana Paula diz que a moda é essencial para se manter no jogo. Sua sugestão é “flertar com Cottagecore no verão e abusar da dark no inverno”.
Já Talitah sugere que qualquer brechó pode ser ponto de partida para um guarda-roupa de Dark Academia. “Com a pandemia, imagino que as pessoas começaram a pensar mais em formas mais conscientes de consumir. O brechó está aí para isso.” Para quem busca praticidade e dinamismo, Ana Carolina aconselha bermudas para substituir calças e vestidos, assim como adotar coletes no lugar de blazers.
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