Água de Coco desfila coleção inspirada em Tarsila do Amaral

Obras da artista foram reinterpretadas em estampas exclusivas para a marca cearense.


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Foto: Pedro Henrique



No ano que vem, a Semana de Arte Moderna, aquela de 1922, completa 100 anos. Com a proximidade do centenário, é de se esperar que algumas marcas voltem seus olhares para o evento que marcou o modernismo no Brasil ou para artistas emblemáticos dessa escola artística. É o caso da Água de Coco. Na noite de quarta-feira, 10.11, a grife realizou um desfile com uma coleção baseada na obra de Tarsila do Amaral, que não participou do tal evento, mas logo se juntou a seus integrantes (casando-se, inclusive, com Oswald de Andrade, em 1926).

De suas pinturas vem a cartela de cores, um mix de tons neutros e terrosos com tonalidades mais intensas, como os azuis, verdes, vermelhos e amarelos. De seus desenhos, a curvas traduzidas em peças com corte a laser e na silhueta curvilínea e ajustada das peças de tricô. E como não podia faltar, tem as estampas, releituras de obras famosas como A Lua, Sol poente, Paisagem com ponte, Pescador, Antropofagia, O batizado de Macunaíma e, claro, Abaporu.

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Foto: Agência Fotosite

“Tivemos acesso a todo o acervo de Tarsila”, diz a fundadora e diretora criativa Liana Thomaz, momentos antes do desfile. “Não se trata de uma simples reprodução, criamos estampas exclusivas a partir das obras, juntamos vários desenhos em uma peça só e fizemos algumas modificações”, continua ela, que, a partir da próxima coleção, contará com o estilista Vitorino Campos como diretor de estilo.

Quem deu aval para o remix foi a sobrinha-neta de Tarsila, sua homônima e atual responsável pelo espólio da artista, mais conhecida como Tarsilinha. Segundo Liana, ela estava em busca de uma parceria com alguma marca de moda praia. “Tinham vários candidatos e fomos os escolhidos.” A coleção, segundo a diretora de criação, foi um sucesso nas vendas de atacado e espera-se sucesso similar também no varejo.

Não faz mais muito sentido falar em tendências quando o assunto é moda praia e a Água de Coco entendeu bem isso. Na passarela, as modelagens vão do míni ao máxi – e as usam quem bem entender. Tem ainda uma boa dose de saídas de praia, caftãs, camisas e túnicas de seda.

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Foto: Agência Fotosite

Essa não é a primeira vez que o legado de Tarsila do Amaral é interpretado em roupas. Em 2017, também por intermédio de Tarsilinha, a Osklen criou uma coleção-cápsula baseada nas obras da artista e em seus estudos sobre a anatomia humana a partir de um ponto de vista bastante brasileiro e antropofágico.

Numa coleção de beachwear, as possibilidade de interpretação da relação entre roupa e corpo são literalmente mais restritas, dada a pouca quantidade de tecido e modelagens reduzidas. O que não quer dizer que são impossíveis. No fim, dá vontade de ver um pouco mais desse exercício, como nas peças com drapeados ou franzidos com recortes assimétricos. Ainda assim, é bom ver uma maior (ainda que singela) variedade de corpos na passarela.

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Foto: Agência Fotosite

Outro ponto que também deixa gostinho de quero mais são os detalhes artesanais. As culturas regionais de vários cantos do Brasil constituem a base da pesquisa de Tarsila. Na coleção, elas aparecem tímidas, quase que limitados a algumas rendas e tramas de crochê manuais, feitas por uma cooperativa de artesão há tempos associada à marca.

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Foto: Agência Fotosite

Lá em 2017, um dos principais destaques da parceria entre Osklen e Tarsila foi a venda das peças fora do país. A artista em si teve papel importante na exportação da cultura e imagem brasileira para além dos clichês da época. Há tempos investindo num processo de internacionalização, a Água de Coco passa por processo similar, dada as devidas proporções. É sobre vender uma imagem menos caricatural da moda feita por aqui, principalmente a da praia.

Isso tem um pouco a ver – de novo, dada as devidas proporções – com o método criativo da escola modernista de 1922: falar de um Brasil, de uma identidade nacional a partir de estéticas e vanguardas vindas de fora, no caso, da Europa. Só que assim como aconteceu 100 anos atrás, o resultado acaba moldado e submetido a padrões não completamente nossos. Mas aí, já uma discussão bem mais complexa e profunda que não acabe neste texto.

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