Alexandre Herchcovitch volta a criar para sua própria marca

Estilista retorna ao posto de diretor criativo da marca que vendeu ao grupo InBrands em 2008.


Retrato do estilista Alexandre Herchcovitch.
Foto: Bob Wolfenson



Após seis anos distante da marca que fundou em 1992, Alexandre Herchcovitch volta a comandar a direção criativa e de comunicação da etiqueta homônima. Para quem não lembra, a empresa foi vendida para InBrands, em 2008, se juntando a Ellus, Richards, Salinas e outros nomes administrados pela holding. A partir daí, o estilista seguiu por mais oito anos no cargo e, em fevereiro de 2016, decidiu não renovar seu contrato.

O destino parecia repetir a história do designer estadunidense Halston, que perdeu o poder sobre o próprio nome. Mas, por meio de sua empresa AMA12, Alexandre conseguiu estabelecer uma aliança estratégica com o grupo detentor da Herchcovitch;Alexandre.

A “joint venture” tem sido desenhada há sete meses e o consenso é o de que o designer terá total autonomia e liberdade de gestão, ainda que tenha que pagar uma quantia não revelada à InBrands pelo uso do nome. A notícia vem em um momento mais do que especial. Em 2023, a marca celebrará os seus 30 anos, um legado como nenhum outro na história da moda brasileira – e sobre o qual falamos no Volume 05 da ELLE Impressa.

A volta oficial acontecerá com um desfile no dia 8 de dezembro.

30 anos de moda

A marca homônima de Herchcovitch foi lançada em 1992, durante o seu desfile de formatura na Faculdade Santa Marcelina. Com direito a profissionais renomados do mercado na plateia, como Reinaldo Lourenço, Gloria Coelho e Paulo Martinez, então editor da ELLE Brasil, ele colocou as modelos para atravessarem uma passarela em formato de cruz invertida.

Quem abriu o show foi a fiel escudeira, a drag queen Marcia Pantera, vestindo uma camisola e um lenço de freira na cabeça, tudo combinado com um par de chifres. Entre as roupas, o destaque ficava para a modelagem de camisa de força, além das peças recicladas, manchadas e queimadas.

Em 1994, ele começa a desfilar no extinto Phytoervas Fashion. O evento, organizado por Paulo Borges, tinha como objetivo reverberar os novos talentos e funcionaria como a semente para a criação do Calendário Oficial de Moda Brasileira, o Morumbi Fashion, e, posteriormente, a São Paulo Fashion Week.

Alexandre Herchcovitch se tornaria um dos nomes mais aguardados desses eventos, colecionando uma série de signos que formam a identidade da sua etiqueta. A primeira marca registrada foi a caveira, que estampava camisetas e calças. Depois, veio o desenho da Pombagira, um recorde de vendas.

Mais tarde, foram as borrachas moldadas e o látex de toque fetichista. As religiões judaica e cristã também serviram como pano de fundo para muitas coleções em homenagens ou provocações. Fora isso, sempre rolava uma brincadeira entre o feminino e o masculino, o retrô e o futurista, além da profusão de pretos com choques de cores explosivas e tons neon.

Saiu das mãos de Alexandre a ousadia dos recortes, o uso de correntes dentro de peças leves de georgette e seda, além da mania de cobrir o rosto das modelos por aqui, no Brasil.  E tem aindaa investigação do streetwear e do upcycling, quando muita gente ainda não tinha coragem de seguir por esses caminhos. Tudo, sempre, com um domínio exímio da alfaiataria.

As referências nas apresentações eram tão férteis quanto as técnicas. Ele já olhou muito para Boy George e chegou a fazer uma colaboração com Stephen Jones, o chapeleiro do britânico. Também se inspirou em Carmen Miranda e Morticia Adams, Zé do Caixão e Marilyn Monroe.

A aclamação internacional veio depois que o designer começou a desfilar em Londres, Paris e Nova York. Tirou elogios até da crítica de moda Suzy Menkes, conhecida por ser ultra sisuda. Ela disse que ele era alguém capaz de encantar e que fazia do Brasil um novo hotspot de moda no mundo.

Alexandre ficaria ainda conhecido não só por sua irreverência conceitual, mas pelo grande tino empresarial, fechando parcerias e contratos com marcas como Zoomp, Ellus e Cori, onde foi diretor criativo de janeiro de 2002 à 2007.

A partir de 2002, ele começa a abrir uma série de lojas, localizadas em São Paulo, Brasília, Porto Alegre ou mesmo em Tóquio, onde inaugurou uma flagship em março de 2007.

Uma série de licenciamentos foram feitos em seu nome, que estampou de caneca à edredom, mas, a partir de 2015 ele começa a se afastar da marca que carrega o seu nome, que ficaria sob total controle do grupo no comando da sua grife.

Após deixar a marca que fundou, ele e o sócio Fabio Souza deram início a uma outra empreitada, a À La Garçonne, que segue firme e forte.

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