Alta-Costura Em Pageviews
Primeira semana de desfiles de haute couture totalmente digital começa com apresentações de Dior, Balmain e Iris Van Herpen.
Nesta semana e pela primeira vez na história, os desfiles de alta-costura acontecem em formato 100% digital. É um modelo inovador e alternativo à fórmula tradicional de se apresentar uma coleção, enquanto as restrições de contato social inviabilizam tais acontecimentos. Como resultado, o vai e vem de modelos sobre a passarela foi adaptado para filmes de moda, animações 3D e até imersões guiadas pelo processo e universo criativo de marcas e estilistas.
São modelos desafiadores. Tentativas recentes de transportar as fashion weeks para ambientes online, como a primeira London Digital Fashion Week, deixaram a desejar tanto pela qualidade das apresentações, quanto pelo engajamento do público e número de acessos. O assunto já foi pauta de ELLE. Porém, mesmo com obstáculos, a Fédération de la Haute Couture et de la Mode julgou se tratar de algo tradicional demais para ser esquecido. Após cogitar o cancelamento dos desfiles de alta-costura como um todo, a instituição decidiu transformar o evento em uma grande experiência virtual.
A adaptação, contudo, não é simples. Boa parte das marcas de luxo – das grandes às pequenas – viu seu faturamento despencar. Cortes em equipe, fornecedores e volume de matéria-prima se tornaram via de regra em toda a indústria. Com orçamento e mão de obra reduzidos, conceber uma coleção e ainda arcar com os custos de apresentação (mesmo que digital) exige equações e planejamento complexas.
A estilista holandesa Iris Van Herpen, por exemplo, conta ao jornal The New York Times que a quarentena impossibilitou o desenvolvimento completo de sua coleção. A solução foi focar em apenas um look, apresentado em um fashion film estrelado pela atriz Carice van Houten (Melisandre, de The Game Of Thrones). O vestido em questão é inspirado nas obras do artista Escher, também holandês. Feito de camadas brancas quase transparentes, ele é decorado com pequenos bordados pretos, que, como sementes, se ramificam a partir do centro da peça, em uma alusão ao nascimento, crescimento e transformação.
Ao jornal americano, Van Herpen relata ainda que não há qualquer distinção entre a frente, as costas, a parte de cima ou a debaixo do vestido. “É como se ele crescesse em todas as direções”, diz ela. Um pouco perdido, um pouco solto. Qualquer semelhança com o que muitos sentimos nesses dias – e meses – de isolamento não é mera coincidência.
CONEXÃO (QUASE) NATURAL
Para não deixar a data passar batida, a grife montou uma apresentação a bordo de uma embarcação no rio Sena. Ao som da cantora francesa Yseult, 21 modelos desfilaram looks icônicos dos arquivos da marca. Eram peças de alta-costura assinadas por Rousteing, Oscar de la Renta e Erik Mortensen, antigos diretores criativos da maison, além de modelos do próprio Pierre Balmain, com a famosa e silhueta “jolie madame”, criada logo após a II Guerra Mundial.
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