Casa de Criadores 55: Rober Dognani

Quando Rober Dognani tinha 16 anos e vivia em Fartura, no interior de São Paulo, ele não fazia ideia de quem eram Christian Lacroix ou Emanuel Ungaro. “Mas conhecia a Viúva Porcina”, diz ele, antes da apresentação para a Casa de Criadores 55, na noite de sábado (07.12).

Na cabeça daquele garoto, as silhuetas volumosas e cores dramáticas podiam não estar associadas ainda aos grandes estilistas franceses, mas o fascinava. Tudo o alcançava mesmo através de novelas como Roque Santeiro (1985) e Ti Ti Ti (1985). “Isso construiu o meu entendimento do que é ser estilista. Hoje, quis mostrar o começo de tudo, quando o meu desenho saiu do papel e virou roupa”, continua.

Rober Dognani. Foto: Agência Fotosite

Naquele início, Rober batia de porta em porta, atrás das vizinhas, para oferecer ideias de looks para os muitos bailes que aconteciam na cidade, “praticamente a cada dois meses – o do branco, do Havaí e a coroação da Miss Fartura”. Elas topavam e sua mãe costurava. Assim começou a fazer roupa.

Leia mais: Casa de Criadores 55: Mateos Quadros

Na passarela, essa história baseada em salão de festa é recriada em um cenário com direito a palco e tapete pink que faz a gente esquecer estar embaixo da ponte do Viaduto do Chá, no centro da capital paulista. A extravagância é justa com os anos 1980 e a sorte de tecidos, do vinil à tapeçaria, recupera um Rober adolescente que viajava para São Paulo e voltava com os materiais garimpados na rua 25 de Março para suas produções.

Rober Dognani. Foto: Agência Fotosite

Fazendo pivôs enquanto caminham, as modelos aparecem em vestidos de um ombro só colados ao corpo e com volumes construídos por tafetá na altura da canela. Há também bodies cavados, ombros pontudos, jaquetas metalizadas e detalhes de laços e maxiflores, recriados com tecidos e aplicados nos visuais. Nas pernas, meias-calças usadas com sandálias de tira e salto. Nas mãos, luvas.

Leia mais: Casa de Criadores 55: Le Benites

Nem tudo é flashback. As cabeças construídas por Davi Ramos, que assina o styling com Flavia Pommianosky, juntam uma base de acrílico, com nós feitos com o mesmo pano da roupa e uma cortina de miçangas. O acessório acende um japonismo no ar que, usado com calças jeans oversized – parceria com Felipe Fanaia –, puxa o exagero do passado para o agora e mostra a evolução daquele jovem estilista apaixonado em um dos criadores mais interessantes atuais.