Dos caminhões aos palcos: como o boné trucker virou acessório fashionista? 

Com interpretações de grifes nacionais e internacionais, o boné trucker, ou boné de caminhoneiro, foi transformado em queridinho da cultura pop. 


Paris Hilton de boné trucker durante os anos 2000.
Paris Hilton de boné trucker nos anos 2000. Foto: Getty Images



O que motoristas de caminhão, pequenos produtores agrícolas e a socialite Paris Hilton têm em comum? Em algum momento, todos esses personagens já foram clicados usando um boné trucker, ou “boné de caminhoneiro”, aquela versão do acessório que tem uma malha de poliéster na parte de trás permitindo a ventilação e uma aba longa e curvada na frente, que serve para proteger do sol.

Foi a classe trabalhadora estadunidense a pioneira no uso. Nos anos 1970, o item surgiu como parte das ações promocionais de empresas do agronegócio, que distribuíam os bonés com seus logos e slogans àqueles que passassem por lojinhas de beira de estrada. Assim, as companhias davam um “agrado” e criavam outdoors ambulantes – afinal, era parte do uniforme não oficial dos operários que ficavam ao ar livre. 

Trabalhadores do Texas, Estados Unidos, em 1982, de boné trucker.

Trabalhadores no Texas, Estados Unidos, de boné trucker. Foto: Getty Images

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Corta para os anos 2000 e o boné trucker foi parar no gosto fashionista, graças a uma etiqueta estadunidense: Von Dutch. Inspirada pelo movimento pinstripe, a arte de personalizar carros e motos antigas, a marca levou o item para um público jovem e interessado em autenticidade, através de estrelas pop como Britney Spears, Beyoncé e Justin Timberlake. 

Rihanna e ASap Rocky andando juntos em Los Angeles.

Rihanna e A$ap Rocky de boné trucker. Foto: Getty Images

“Os patches da Von Dutch, com a assinatura da label ou arte especial, deram um toque de exclusividade ao acessório”, explica Roberto Alves, 54, licenciado responsável por trazer a etiqueta ao Brasil. Nas últimas décadas, a marca passou por altos e baixos, como ter de se desvencilhar do histórico preconceituoso do fundador Kenny Howard, mas na esteira do revival Y2K fez um comeback que inspira até a faixa “Von Dutch” de Brat (2024), álbum da cantora inglesa Charli XCX. 

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Fazendo novas cabeças

Atualmente, a lógica da influência de celebridades em cima dos truckers segue forte, mas com novos protagonistas. O casal real da música e da moda A$AP Rocky e Rihanna são bem familiarizados com o acessório, especialmente os modelos da agência criativa do rapper, a AWGE. O ator Jacob Elordi, por sua vez, é o responsável por viralizar e esgotar o boné “James Dean Death Cult”, da marca californiana Paly Hollywood, que tem o também ator James Franco como co-fundador. Ryan Gosling, Austin Butler, Justin Bieber e Megan Thee Stallion são também adeptos do item. 

Jacob Elordi de boné trucker.

Jacob Elordi. Foto: Getty Images

No mercado de luxo, grandes grifes criam as suas próprias versões. Em março, a Louis Vuitton se uniu ao rapper Tyler, The Creator para uma coleção colaborativa. Nela, o item com o monograma bordado na redinha traseira saía pelo valor de 805 dólares, algo por volta dos 5 mil reais. A Celine, em seu verão 2024, mandou para a passarela um boné branco e vermelho com o duplo “C” estampado, enquanto que a Gucci reinterpretou o acessório em couro no tom de hibisco. 

Mas nenhuma marca se beneficiou mais com o ressurgimento do boné trucker que a californiana Chrome Hearts. Com mais de três décadas de história, os bonés da etiqueta são usados por personalidades como The Weeknd e Odell Beckham Jr.. Vendendo exclusivamente em lojas físicas, ela alimenta um mercado robusto de revenda, em que alguns modelos alcançam 3 mil dólares. 

Look de street style com boné trucker da Celine.

Look de street style com boné trucker da Celine. Foto: Getty Images


E no Brasil?

O stylist Raphael Pereira, 29, responsável pelo visual de artistas como Matuê, BK e Ferrugem, é uma das mentes por trás da Aged Archive, marca de roupas de apelo nostálgico, com peças inspiradas na estética de bandas dos anos 1980 e 1990. Nos últimos meses, ele ampliou o portfólio de produtos da casa com bonés trucker influenciados pelo country. Segundo Raphael, os truckers vivem um momento democrático. “Das versões western aos de luxo, o que importa é que hoje tem bonés para todos os gostos e bolsos”, diz.

Bonés da Aged Archive.

Bonés da Aged Archive. Divulgação

Na Honk Brand, do carioca Alexandre Marchi, 40, o boné trucker é resgatado com suas características mais originais. “Comecei a Honk com o intuito de fazer camisetas e bonés dentro da estética americana durante as décadas de 70 e 80”, explica ele. “É o universo da música folk, do visual western, um tipo de roupa que eu queria ter vestido e agora puxo para os nossos tempos”, continua.

No site da Honk, itens vintage garimpados dividem espaço com peças novas de cores e tipografias de rótulos de garrafas de uísque, logos de empresas de transporte e capas de álbuns antigos de música country. Sobre o interesse do mercado de luxo em peças com origem no workwear, Alexandre afirma: “É irônico ver algo da classe trabalhadora ser vendido a preços tão altos. Mas é o valor agregado que cada etiqueta tem e o seu público se conecta”, ele comenta. “Será que é a hora de subir os preços dos meus também?”, brinca.  


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