Conheça a Lizzi, marca brasileira artesanal que valoriza a cultura nordestina

Com bordados de artesãos do Bumba Meu Boi, matérias-primas sustentáveis e sofisticação à francesa, a estilista Lisyane Arize cria roupas fora do comum, que vão da praia à festa.


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Foto: Divulgação



Normalmente, uma marca de moda escolheria uma grande cidade para abrir sua segunda loja, de preferência na região Sudeste, que concentra revistas especializadas, como a própria ELLE, desfiles, ruas famosas pelo business e zum-zum-zum. Não a Lizzi. E isso diz muito sobre ela.

Fundada pela estilista Lisyane Arize, a Lizzi, cuja concept store fica no centro histórico de São Luiz do Maranhão, elegeu um local pequeno, sem asfalto, no qual é preciso chegar de barco, para ter um segundo endereço. Quase uma ousadia, numa era tão pautada por negócios e networking.  

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Vista aérea da loja da Lizzi em Atins, com área gourmet pé na areia. Foto: Divulgação

É em Atins, reduto do kitesurfe e porta de entrada do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, que fica o novo laboratório criativo da estilista, aberto em junho de 2024, um misto de loja e local de encontro, com direito à chef importado da França, país onde a história da marca começa em 2013 e onde até hoje Lisyane mantém um ateliê.

“Ele funciona atualmente como local de inspiração, para onde vou nas férias e me distancio um pouco do negócio, além de centro de distribuição para o atacado”, diz ela, que depois de cursar estilismo na Universidade Cândido Mendes, no Rio de Janeiro, resolveu aprimorar suas técnicas em alta-costura e se mudou para Bordeaux, onde trabalhou como pesquisadora de tendência e frequentou a ESMOD e IBSM.

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Interior da loja da Lizzi em Atins, Maranhão. Divulgação

Lizzi: luxo e pé na areia

 

De volta ao Brasil, em 2018, Lisyane escolheu São Luiz para viver e trabalhar, embora seja baiana, e se transformou em uma verdadeira articuladora cultural, capaz de unir moda e turismo (ela também já foi sócia de pousada e circula bem neste setor), ir de quilombos urbanos a secretarias de política e galerias de arte, costurando sempre conexões e roupas.

“Eu gostaria de sair dessa terra deixando alguma coisa boa, acho que vem daí essa minha inquietação e vontade de dar visibilidade para quem tem ainda menos visibilidade do que eu. Hoje, eu falo muito mais sobre aproximação e conhecimentos de territórios do que só de moda.” 

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Detalhes das peças couture. Reprodução Instagram

E como isso se traduz nas roupas? “Busco ir na contratendência (risos). Em 99% dos casos, minhas coleções são inspiradas em livros, eu não trabalho com calendário de lançamentos inverno/verão e quase todas as nossas matérias-primas são sustentáveis, como o algodão orgânico da Paraíba ou as sedas certificadas. A produção também é toda interna e os bordados feitos em parceria com os artesãos do Bumba Meu Boi da Floresta”, explica. “Foi difícil, no início, convencê-los de que a arte que fazem, esse patrimônio cultural, também podia ser usado na moda e gerar uma outra fonte de renda para a comunidade. Mas deu certo!”

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Vestido da coleção Pureza, inspirada na ativista maranhense Pureza Lopes Loyola. Divulgação

Detalhes como estampas digitais, feitas a partir de desenhos da própria estilista, fotos aéreas, como as que replicam os tons de beges e marrons dos Lençóis, ou frases poéticas adicionam personalidade, enquanto rendas de bilro e renascença emprestam uma vertente mais Couture, pronta pra festa.

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Foto: Reprodução Instagram

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Soma-se a isso uma produção limitada de peças, que dá um caráter de colecionismo a cada uma delas. “Eu só lanço alguma coleção, quando realmente acho que a ideia está suficientemente madura. Caso contrário, prefiro agregar novos produtos de linha. Então, quando você chega à loja, vê um pouco de cada coisa, e escolhe aquilo que te toca mais, sem se preocupar se é o lançamento da vez e tal.” 

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Pé no chão e na areia, Lisyane acredita no slow fashion, mas sabe que este é um mercado que ainda precisa amadurecer no Brasil. “Empreender como moda autoral no Brasil é um ato de resiliência e de resistência, de fato. Nos últimos anos, acho que demos um foco maior para quem olha a moda com esse olhar mais carinhoso, que realmente quer ir por esse caminho. Mas a falta de mercado e o reconhecimento do consumidor ainda são gargalos enormes”, avalia.

“Para mim, no entanto, é melhor continuar andando devagar do que acelerar e bater na primeira esquina. Prefiro chegar nos próximos 30 anos com meus princípios e minha pequena moda fazendo diferença e impacto aqui a navegar numa onda e morrer.”

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Detalhes da loja de São Luiz, com livros e objetos que inspiram a estilista. Foto: Divulgação

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