Conheça a P. Andrade, marca estreante da São Paulo Fashion Week

Fundador da Piet, Pedro Andrade entra em novo momento criativo com neolabel focada em inovação tecnológica.


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Foto: Divulgação



Após quase 10 anos à frente da Piet, uma das marcas mais bem-sucedidas do streetwear nacional, Pedro Andrade se viu estagnado. “Estávamos num ritmo muito doido, fazendo lançamentos mensais, num formato que não me agradava mais”, explica ele. No final de 2019 e meses depois, com o início da pandemia, o sentimento de desânimo aumentou. “Não estava mais dando conta de criar algo descente nesse timing. Já tinha um desejo antigo de lançar uma marca onde pudesse ousar mais.” Nasceu assim a P. Andrade, nova empreitada do designer, que faz sua estreia amanhã, com um desfile na Pinacoteca de São Paulo.

A ideia inicial era transformar a Piet, um apelido de infância do estilista, em Pedro Andrade, mas os fãs e os bons números de vendas o fizeram mudar de ideia. “Decidi que ela seria minha marca de entrada, onde tenho mais volume e quero que continue brilhando aos olhos de quem usa.” Para isso, foi necessária uma reformulação, fim de uma sociedade e reposicionamento de produtos. “Readquiri 100% da marca (o negócio era tocado junto a sócios), acabei com os lançamentos mensais, deixei tudo muito mais jovem, com uma comunicação divertida e reforcei o lado sustentável”, explica.

Nesse processo, Paula Kim, estilista cofundadora da Lapô e esposa de Pedro, passou a ter papel mais ativo na criação e, com isso, rolou a abreviação no nome para apenas P. Andrade. “A gente já vinha colaborando em diversos projetos paralelos e percebemos que trabalhamos muito bem juntos”, diz ele. “É um momento de retomada e de esperança, de uma nova perspectiva de moda e achamos interessante a aparição como casal.”

Para a dupla, a nova perspectiva significa testar diversos materiais e tecnologias sustentáveis de ponta, como fibras biodegradáveis e elementos bio-based, entre eles uma textura de couro desenvolvida à base de cacto e aplicada aos sapatos, uma versão própria do modelo Tabi, inspirado num calçado japonês e popularizado por Martin Margiela. “Foram quase dois anos de estudos e conversas com engenheiros têxteis e cientistas para encontrar novas soluções.”

Pedro Andrade e Paula Kim.

Pedro Andrade e Paula Kim.Foto: Divulgação

O aspecto tecnológico também está no visual das roupas, uma mistura de alfaiataria com inovação têxtil e futurismo estético. Os blazers, por exemplo, têm os forros selados e recortados a laser, técnica emprestada das vestimentas esportivas, enquanto fios recicláveis arrematam jaquetas puffer, dignas de um figurino de ficção científica.

A coleção de estreia também explora o trabalho de grandes artistas brasileiros, a partir de um estudo minucioso batizado de Brasil Escondido. “Olhamos para lugares comuns de grandes criadores nacionais, mas também cavucamos aspectos interessantes do país, em que era possível criar novas histórias, como a tapeçaria modernista”, destaca Pedro.

Paulo Mendes da Rocha, um dos grandes heróis do designer formado em desenho industrial, também é referência importante no mood board da coleção e um dos motivos pela escolha da Pinacoteca como locação do desfile. “Decidi falar sobre ele, mas também sobre a Lina Bo Bardi, Oscar Niemeyer, Lygia Clark e todos esses nomes que moldaram um Brasil mais sofisticado”, diz. “E por essa grande informação de arquitetura que nos inspirou, a coleção tem uma cara mais reta e seca, quase futurista.”

Sapatos P. Andrade.

Sapatos P. Andrade.Fotos: Divulgação

A cartela de cores também preza pela sobriedade: vai do branco, cinza e rosado, aos esverdeados e preto, fechando com o único ponto de cor, um azul Klein, tom comum a muitas piscinas, azulejos e mobiliários do modernismo brasileiro. Outro destaque é a estamparia, inspirada em criaturas da nossa literatura, como Curupira e Ondina, e reinterpretadas pelo artista plástico Walmor Côrrea. “Ele trouxe um olhar científico em formas dissecadas, como num livro de ciências”, conta Pedro. O resultado são imagens digitais aplicadas nas peças em tamanhos agigantados, de mais de um metro. Há ainda uma colaboração com o artista Tom Escrimim para a cenografia do desfile, projetada para lembrar um parque arqueológico repleto de formações rochosas igualmente grandes.

Todo o processo criativo serviu ainda de inspiração para um curta metragem de ficção científica, que será dirigido pelo fotógrafo Vavá Ribeiro e lançado junto a uma exposição na Pinacoteca, prevista para o primeiro semestre de 2022. O projeto coincide com o aniversário de 10 anos da Piet, que assina os uniformes e peças da nova loja do museu. “Além disso, teremos uma colaboração por mês até janeiro de 2023, para celebrar. Serão gigantes, mas ainda não posso revelar”, instiga ele.

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