Conheça o Estúdio Nuda, marca de roupas aparentemente simples, mas cheias de história

Com pouco mais de um ano de existência, produção responsável e controlada, marca de Bruno Sales desponta entre os novos negócios mais promissores.


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CONTEÚDO APRESENTADO POR SOU DE ALGODÃO

Sabe aquela história de que nossa vida é como uma colcha de retalhos, uma grande colagem de pessoas, experiências e vivências costuradas de forma meio aleatória, mas cheia de sentido? É mais ou menos assim a trajetória de Bruno Sales, mineiro de 24 anos por trás do Estúdio Nuda. A marca tem pouco mais de um ano, e a imagem minimalista, de roupas monocromáticas com formas e linhas puras, esconde uma bagagem de referências bem interessantes.

Bruno nasceu em Varginha, Minas Gerais, e acabou desenvolvendo seu lado criativo por intermédio de uma tia. “Ela não tinha filhos na época, então jogava isso para mim. Era algo que ela gostava muito, `incentivava minha mãe a me colocar em aulas de artes. Foi assim que despertei meu interesse pelo assunto”, diz o estilista.

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Apesar da aptidão, foi necessário um pouco mais de tempo – e alguns desvios de trajeto – para Bruno se achar profissionalmente. Com 17 anos, decidiu estudar jornalismo e se mudou para São Paulo. Cursou apenas um ano e migrou para a faculdade de artes plásticas. “Na verdade, a mudança foi para eu me encontrar, e o jornalismo era só um pretexto para isso”, fala.

Mas arte também não era exatamente o que queria. “Sentia que estava numa sala cheia de Marinas Abramovic, sem conseguir desenvolver um trabalho que me interessasse.” Nessa época, ele começou a explorar sua criatividade através das roupas. Seus primeiros passos foram com produção de figurino. “Quase sempre em projetos pessoais, tudo por conta própria”, relembra. Até que foi convidado para fazer um curta metragem, depois um videoclipe e pegou o gosto pela coisa.

“Foi aí que decidi direcionar meus estudos e carreira para a moda. Fiz produção, styling até que resolvi aprender a fazer roupa de verdade.” E do zero, aplicando sua visão e criatividade do desenho a escolha do tecido até a apresentação final da peça e do look.

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Em 2019, iniciou a graduação em moda e, logo de cara, garantiu um estágio na marca Amapô, das estilistas Carô Gold e Pitty Taliani. “Comecei ajudando na modelagem, mas fiz um pouco de tudo. Foi uma experiência incrível, a melhor que tive até agora. Lá, percebi que estava no caminho certo.”

A ideia de ter um negócio próprio sempre existiu, mas não era algo que planejava de imediato. “Queria aproveitar para estudar e aprender o máximo possível. Antes do estágio, sempre ficava até mais tarde na faculdade para exercitar algumas técnicas e fazer experimentações”, conta. Quando seu contrato com a Amapô terminou, Bruno sentiu que já conhecia bem o funcionamento de uma marca pequena e decidiu colocar em prática alguns daqueles experimentos extracurriculares. Depois de estudos e planejamentos, lançou o Estúdio Nuda, em fevereiro de 2020.

É aí que os retalhos do passado começam a se encaixar e ganhar novo sentido. O nome da marca, por exemplo, é uma lembrança do curso de jornalismo. “Participei de um núcleo de drama e arte da faculdade chamado Nuda”, diz o estilista. Arte é uma referência onipresente. Sua iniciação científica, interrompida por conta da pandemia, é sobre a relação dos Parangolés de Hélio Oiticica com o processo criativo de Yohji Yamamoto.

Durante a pesquisa, Bruno assistiu ao filme do diretor Wim Wenders sobre o estilista japonês, Identidade de Nós Mesmos. Por meio dele, chegou ao livro O Homem do Século 21, cujas imagens foram extremamente influentes em suas primeiras coleções. Nelas, quase não há cores. A primeira foi toda em preto, a segunda toda em branco. O motivo, além das referências estéticas, tem a ver com um ponto central na identidade do Estúdio Nuda: as formas.

As roupas do estilista mineiro têm shapes amplos, linhas puras, quase sempre pautadas por um rigor bem geométrico. Os tecidos são mais encorpados e estruturados, encontrando, vez ou outra, alguma fluidez em materiais mais leves. “Gosto muito de camisaria, então prefiro trabalhar com o algodão. Mas não me prendo a isso até porque minhas modelagens são bem experimentais”, explica.

Seu processo criativo começa com os materiais. “Gosto de saber o que tenho para trabalhar, para não viajar muito e me decepcionar, até por questões de orçamento.” A pesquisa começa com várias amostras de tecidos, que vão sendo analisadas em relação aos desenhos. “A partir daí, começo a experimentar com as formas e, depois, incluo alguns detalhes.”

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Suas ideias vêm de todas as partes. Exposições, filmes, músicas, imagens de artistas que admira e pessoas aleatórias que encontra ou avista na rua. Fazendo jus à ideia documental do jornalismo que quase virou profissão, Bruno gosta de fotografar de longe pessoas cuja atitude ou look chamam sua atenção.

Daí para frente, é traduzir essa outra colagem de ideias e influências em produtos. Estes são feitos por ele mesmo e uma costureira. Suas coleções são pequenas e sequenciais, uma é a evolução da outra. Como o Estúdio Nuda não tem estoque, as vendas são sob demanda, pelo e-commerce próprio, onde também é possível fazer pequenas alterações nas peças. Ideias e métodos de trabalho dos mais relevantes e em sintonia perfeita às demandas responsáveis da moda do momento.

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