Copenhagen Fashion Week: um pouco de história, um pouco de tendência
A poucos dias do mês da moda, avaliamos como a capital dinamarquesa tem se empenhado para disputar sua influência com os maiores players do mercado e dissecamos suas tendências.
A moda até pode não ser o maior produto de exportação da Dinamarca, mas isso não parece importar para as marcas e estilistas de um país que espertamente vem ganhando atenção em meio a um mercado internacional bastante saturado. Até uns anos atrás, a afirmação anterior poderia soar um tanto exagerada. Porém, após a temporada de verão 2023, a Copenhagen Fashion Week parece ter cravado a sua relevância no calendário, mudando inclusive a visão rígida acerca do estilo nórdico.
Antes de entrar no âmago da questão, um pouco de contexto. A semana de moda de Estocolmo foi criada em 2005, a de Copenhagen no ano seguinte, e juntas formavam uma espécie de yin-yang do design da região. Em geral, a moda sueca costumava ser precisa e minimalista, enquanto a dinamarquesa era boêmia e vibrante. Hoje, as linhas que as separavam foram borradas, mas há algo que ainda se mantém como antes. Se trata dos valores democráticos encapsulados no ethos da jantelagen.
O termo (“lei de jante”, em tradução livre) se refere ao nome de uma cidade fictícia retratada em um livro publicado em 1933. O autor norueguês-dinamarquês, Aksel Sandemose, o usava para desencorajar o exibicionismo competitivo e subverter as hierarquias em nome da colaboração. Compreender esse conceito é fundamental para analisar a moda nórdica, que parece se tornar a irmã mais nova, progressista e descolada de Nova York, Londres, Milão e Paris.
Muito do crédito da virada observada especialmente em Copenhagen vai para Cecilie Thorsmark. Desde que se tornou líder da semana de moda em 2018, a CEO está determinada a tornar o evento em sinônimo de sustentabilidade. Ela está adotando uma abordagem holística: todas as marcas integrantes do lineup devem seguir ao menos 18 padrões rígidos que abrangem áreas como diversidade, cadeia de suprimentos e a vida útil das peças de roupa.
O posicionamento é a simbiose da cultura escandinava. Embora a formação geopolítica não tenha o mesmo prestígio da alta-costura francesa ou a clientela italiana estrelada, ela tem algo que as outras estão carentes: relevância acessível, tangível e funcional. Copenhagen está livre da quantidade vultosa de paparazzis histéricos e mulheres calçando saltos dolorosamente altos. A sua multidão surge consciente das altas temperaturas no mês de agosto, assim como as marcas mantêm um certo pragmatismo para que os visuais ainda funcionem em cima das bicicletas.
Convidados na saída do desfile de Samsoe Samsoe.Foto: Getty Images
Tudo isso, porém, tem sido comunicado e posicionado menos como uma vitrine regional e mais como parte de um apelo global. Nessa sua última edição, Copenhagen realizou uma parceria com o TikTok e, logo, garantiu uma penca de vídeos virais na plataforma. As primeiras filas dos desfiles foram preenchidas por editores, influenciadores e compradores de todo o mundo. O line-up incluiu não só nomes do norte europeu, como também marcas do Reino Unido e Alemanha.
Há um trabalho duro para incluir o estilo da cidade no mapa de moda global. Como impulso, os negócios em ascensão da Dinamarca e Escandinávia têm contribuído para o ímpeto do evento. Na véspera da Copenhagen Fashion Week, a empresa têxtil Kvadrat revelou uma colaboração com Raf Simons. A Stine Goya, que apresentou uma passarela florida durante a semana, irá abrir a sua primeira loja em Londres, no Soho, em setembro. Holzweiler, que explorou tecidos de paraquedas reciclados em sua coleção, acaba de receber investimentos da Sequoia Capital China.
Prosperando como nunca antes, a moda nórdica tem estabelecido Copenhagen como a capital proeminente em termos de definição de tendências, estilo de rua e, claro, sustentabilidade. O objetivo final? Se tornar uma semana de moda zero-waste até 2023. Seja pelo seu talento emergente ou por se tratar de um evento relativamente novo em comparação a outros, sempre houve o que se esperar da capital dinamarquesa. Porém, os seus esforços recentes provam que está apenas começando.
Em um mercado regido pela polidez, o empenho é bem-vindo. Você deve sentir falta de humor, emoção e autenticidade, elementos que as passarelas de Copenhagen tem de sobra. Talvez, uma marca ou outra ainda não tenha a técnica perfeita ou as habilidades mais evoluídas, mas, por enquanto, até isso parece fazer parte do charme.
A poucos dias do mês de moda, estamos intrigados para acompanhar como a capital dinamarquesa continuará se desenrolando. A seguir, as tendências vistas no evento que, certamente, irão se repetir de Nova York adiante.
50 tons de branco
The Garment, verão 2023.Foto: Divulgação
Pense na cartela de cores perfeita para o verão. Provavelmente, nuances saturadas e vibrantes são as que vêm à mente em primeiro lugar. Nesta temporada, porém, elas parecem ter sido abandonadas em favor do branco. Graças a sua capacidade de refletir os raios de sol em vez de absorvê-los, é apropriada para a estação e, não à toa, se tornou onipresente. De The Garment a Skall Studio, a cor estava lá, surgindo ora escultural, ora hipnótica, mas sempre representando o desejo generalizado por pureza e frescor.
O par perfeito
Lovechild 1979, verão 2023.Foto: Divulgação
Que tal sobrepor uma saia plissada em uma calça cargo? De acordo com os visuais usados anos atrás por Ashley Tisdale e Miley Cyrus, a resposta seria um sonoro sim. Embora o passado da tendência seja um tanto complicado, ela está acontecendo outra vez e, surpreendentemente, nunca pareceu tão elegante. Caso em questão: as composições feitas por Aeron e Lovechild 1979. Para uma silhueta limpa, as marcas apostaram em calças de perna larga e vestidos de corte reto sem qualquer volume.
Biquini para toda hora
Ganni, verão 2023.Foto: Divulgação
Caso os seus biquinis estejam parados no guarda-roupa, saiba que eles podem ter ganho uma nova função. Pelo menos, é o que Ganni e Baum und Pferdgarten sinalizam. Em uma espécie de carta de amor à Copenhagen, a primeira combinou a roupa de banho às calças e sobreposições, declarando que, agora, ela não precisa mais se restringir apenas às areias. “Nós queríamos celebrar aquele sentimento que você tem quando anda pela cidade. Parece tão livre”, explica a diretora criativa, Ditte Reffstrup, em comunicado.
Regina George relaxada
Soulland, verão 2023.Foto: Divulgação
Nos últimos 50 anos, os símbolos da imagem preppy não passaram por grandes modificações. O uniforme estilizado sempre esteve lá, assim como as malhas bem cortadas e os mais variados tons de rosa. Em Copenhagen, porém, parece haver um relaxamento estético generalizado. Ao que parece, na cidade, nada pode aparentar intencional ou complicado demais. É aí que os elementos à la Regina George surgem em um tom menos dramático e mais leve, se destacando na Ganni e Opéra Sport.
Era uma vez
Helmstedt, verão 2023.Foto: Divulgação
É difícil acompanhar uma temporada sem rastrear ao menos uma referência aos contos de fadas. O espírito de Copenhagen, porém, parece ter sido conveniente para que a fantasia e os mitos fossem imortalizados em não só uma, mas em muitas passarelas. “A tendência agora é os anos 1990 e 2000, mas não somos isso”, explicou Emilie Helmstedt, fundadora da marca que leva o seu sobrenome, em entrevista. O seu mundo imaginativo incluiu caracóis, besouros e cogumelos, elementos também vistos em Henrik Vibskov.
Ambição pura
Stine Goya, verão 2023.Foto: Divulgação
À medida que as proporções se tornavam um pouco mais apertadas e muito mais curtas, a temporada evocou uma energia brilhante e colocou uma questão: com ou sem sutiã? Ambas as opções foram vistas na passarela, seja em regatas de strass de Stine Goya ou em tules góticos de A. Roege Hove. Os vestidos transparentes e as malhas abertas também deixavam um pouco para a imaginação.
Pescoço não subestimado
Gestuz, verão 2023.Foto: Divulgação
Embora cada temporada tenha as suas próprias tendências de joias, geralmente leva algum tempo para que peças específicas se tornem datadas. Entretanto, marcas de Copenhagen, como Gestuz e Samsoe Samsoe, parecem sinalizar algum nível de desinteresse em colares. Isso não quer dizer que o destaque para a área da clavícula tenha sido negado. Pelo contrário: ele só foi dado com qualquer outro acessório que não a opção mais óbvia. A lista de escolhidos incluiu rosas enormes e cachecóis finos.
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