Relembre a entrevista de Marina Ruy Barbosa, estrela de Tremembé, para a ELLE

Atriz, que interpreta Suzane Von Richtofen na minissérie da Prime Video, protagonizou o ensaio de capa do volume 11 da ELLE impressa e falou sobre moda e como lida com a ansiedade.


Marina Ruy Barbosa
Marina Ruy Barbosa veste body e calça, Valentino. Brinco, Swarovski. Foto: Hick Duarte



Desde que estreou no Prime Video na sexta-feira (31.10), a minissérie Tremembé tem dominado as rodinhas de conversa pelo país. E, em meio a um elenco afiado e ótimas caracterizações, o nome de Marina Ruy Barbosa é destaque absoluto. Na pele de Suzane Von Richthofen, Marina impressiona a audiência com sua atuação, que alterna olhares maquiavélicos e sorrisos pretensamente angelicais. 

Já há quem crave que esse é o papel da vida da atriz carioca, que iniciou a carreira ainda criança, no filme Xuxa e o tesouro da Cidade Perdida (2004).

Em março de 2013, Marina estrelou a capa do volume 11 da ELLE Brasil, fotografada por Hick Duarte. O ensaio noturno ganhou até uma versão de capa fosforecente, com estrelas que brilham no escuro.

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Confira a seguir a entrevista publicada na edição, feita pela jornalista Nathalia Levy, e algumas fotos do ensaio.

Marina in the sky

Uma rápida incursão pelos comentários sobre Marina Ruy Barbosa no YouTube revela uma sensação em comum entre seus admiradores: a de que a atriz é, desde muito nova, adulta. E séria, centrada, além de elegante. Quando pergunto se gosta de ser vista dessa maneira, ela diz que sim. Embora não se enxergue sempre como uma pessoa equilibrada, pois “ninguém é assim o tempo inteiro”, Marina percebe esses elogios como uma forma de reconhecimento do seu compromisso com o trabalho – algo que preza desde que começou a atuar, aos 9 anos, e que foi comprovado por nossa equipe ao longo de 18 horas seguidas de shooting para esta edição. Ela também diz, brincando, que é porque é canceriana com ascendente em Gêmeos e Lua em Leão. Ou seja, de acordo com a astrologia, de um lado, os holofotes e o gosto pela comunicação e, do outro, a vontade de se manter reservada, perto da família, em segurança.

Apesar de procurar passar mais tempo offline para não se viciar “na busca por performar”, Marina é hoje a mulher brasileira mais influente do Instagram. Organizada pela empresa HypeAuditor, a listagem dos perfis mais relevantes da plataforma ainda a posiciona no 38º lugar no ranking mundial, na frente de nomes como Bella Hadid e Katy Perry.

Coexistindo com perfis que apostam alto em estratégias para viralizar, é no mínimo curioso que ela ocupe uma posição tão destacada sem, como diz, “ficar pensando muito em números e na questão de engajamento, likes e seguidores”.

Aos 27 anos, e sob os olhos do público há quase 20, Marina relaciona esse alcance à energia que dedicou à carreira e a ter começado tão jovem. “Boa parte da minha audiência é composta de mulheres que me acompanharam passando, de certa forma, pelas mesmas dificuldades da adolescência e de processos de autoconhecimento que eu.” Isso faz sentido, claro, mas será suficiente para explicar o fenômeno? A especialista em influência Rafaela Lotto, sócia da YouPix, chama a atenção para o fato de que, “ao contrário do que pregam os gurus de Instagram e até a própria plataforma, Marina não tem uma frequência altíssima de conteúdo” – a HypeAuditor aponta que ela costuma postar menos de quatro vezes por semana. A atriz confirma: “Eu tinha muito a necessidade de postar em real time e hoje tenho mais calma. Penso mais no que vou dividir”. Rafaela também atrela o sucesso de Marina a mais três fatores: exposição grande na TV, ser frequentemente citada por influencers com muitos seguidores e suas “fotos com looks maravilhosos, fazendo de seu perfil praticamente uma revista de moda de muito bom gosto”.

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Véu, Giorgio Armani. Foto: Hick Duarte

Em um mundo cada vez mais moldado pela superexposição, Marina sugere não se render. E a longevidade de sua carreira prova que ela entendeu como navegar pelas transições – da influência, do streaming, da moda – sem abrir mão do que lhe é mais essencial: saúde mental, as relações pessoais e o lado profissional. Este, vale dizer, desdobrou-se em vários, com o lançamento de sua marca própria, a Ginger, uma experiência de dois anos como diretora de moda do e-commerce ZZ Mall, do Grupo Arezzo, e em projetos de atuação escolhidos a dedo, como Rio connection, série da Globoplay em parceria com a Sony Internacional, que estreia este ano, e Fuzuê, seu retorno às novelas após quatro anos, ainda sem data de estreia. Tudo isso faz parte de um raro equilíbrio, que aparenta ser bom para ela e, ao mesmo tempo, dá indícios de que será capaz de manter vivo o fascínio do público pela sua existência. Por videoconferência, Marina falou à ELLE.

Você parece ser bem cuidadosa na hora de emitir uma opinião na internet e não reproduzir posicionamentos que não sejam necessariamente seus. Como é a sua relação com as redes sociais nesse sentido?
Aos poucos, fui entendendo e até me cobrando menos. Muitas vezes, eu não estava pronta para dar uma resposta, porque não tinha bagagem suficiente para expor uma opinião sobre determinado assunto. Porque, hoje em dia, qualquer coisa que você disse, não importa a idade, em que momento da vida estava, é resgatada. E as pessoas mudam de opinião, aprendem coisas novas. A nossa essência continua a mesma, mas tudo bem eu mudar de opinião ou ter tomado uma atitude que hoje eu faria diferente. Isso é evolução.

Os artistas sempre emprestaram o nome para produtos, mas temos visto mais personalidades abrindo empresas e ocupando cargos grandes. Você se enxerga inserida nesse movimento?Claro. Acredito que, se você tem exemplos, vê que é possível. Acho que é um movimento saudável, o reflexo da atualidade. Tem a ver com as pessoas estarem mais abertas a entender a pluralidade dos indivíduos. Até nessa questão de ser mulher. Uma mulher não podia querer ser tudo, mas fomos construindo e conquistando essa liberdade. Sou atriz, mas sou muito além disso. Tenho outras vontades e não preciso me colocar nessa prateleira.

Como foi descobrir a sua faceta empreendedora, chefe de um time?
Acho que sou uma boa chefe. Sou exigente, mas sou legal. (risos) O que eu queria é que, ao mesmo tempo que a Ginger tivesse muito da Marina, ela existisse também sem a imagem da Marina. Quero que as pessoas se conectem com a Ginger pelo conceito, pelo posicionamento, até porque sem isso a marca não duraria. Ela tem menos de três anos e ainda precisa de toda a minha atenção e dedicação. Mas aos poucos vai andando sozinha.

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Isso se reflete na escolha da direção criativa, que já teve o Leandro Benites e hoje conta com o Ale Brito. São nomes da Casa de Criadores, que num primeiro momento não parecem opções óbvias.
Sou fã da Casa de Criadores e, apesar de ser apaixonada por moda, nunca quis me colocar na posição de estilista. Queria ter profissionais que vi
vessem isso. E também que não tivessem medo de arriscar, que a gente não olhasse para o lado, no sentido de se preocupar com o que outras marcas estavam fazendo para vender. A Ginger é uma marca com uma proposta única, então também queria pessoas únicas para ela. Estar cercada de pessoas com quem você vai aprender é fundamental.

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Vestido e sandálias, Giambattista Valli. Brincos e luvas, Dolce & Gabbana. Fotos: Hick Duarte

Como foi a experiência de fechar o desfile do Giambattista Valli na alta-costura? (Marina fez o tradicional encerramento com o vestido de noiva na apresentação de verão 2023 da grife.)
Até vir a confirmação, eu fiquei muito na dúvida, pensando se ia dar certo. Eu falava: “Gente, isso é um surto. Eu tenho 1,67 m, não sou modelo”. Mas nem questionei muita coisa. Só falei “sim, quero, vou amar”. Foi um dos momentos “vou com medo mesmo” e com certeza virou um dos mais especiais da minha carreira. Se você me perguntasse se eu tinha esse sonho, diria que não, porque nem achava que era possível.

Convites como esse parecem estar associados à imagem de moda que você vem fortalecendo há algum tempo. Você pensa no impacto que cada look vai causar?
A escolha de um look é um dos muitos elementos que ajudam na construção da imagem numa carreira. Já trabalhei com alguns profissionais de styling e o mais importante é ser uma troca de aprendizado e de visão. Nunca vou vestir algo que não combina comigo só porque alguém falou que eu deveria usar. Entendo o valor de um look extravagante, mas para mim importa mais a pertinência daquilo do que o impacto que vou causar.

Conseguiria definir em algumas palavras o que é o seu estilo hoje?
Gosto de experimentar, e é normal ir mudando. Por exemplo, quando tinha uns 15 anos, preferia usar uma maquiagem mais pesada, talvez como uma busca de autoafirmação em relação à carreira, sinalizando que poderia fazer papéis mais maduros. Mas aí você vai entendendo o que gosta. Uma palavra que acho que faz sentido é “elegante”. Não sei expressar o que significa exatamente elegante para mim, mas gosto de ousar, mantendo uma elegância.

Você é uma das poucas estrelas da sua geração que continuam tendo um contrato de exclusividade com a Globo. Como vocês estão atualmente?
Temos uma relação ótima, de muita gratidão e respeito. É um lugar que me viu crescer, que deu as oportunidades de mostrar o meu potencial como atriz. A última produção que fiz, que vai estrear este ano, é (a série) Rio connection. Foi um projeto bem especial, gravado em inglês, com um supermix no elenco, com italianos, americanos, brasileiros, franceses. Interpreto Ana, uma personagem bem diferente de tudo o que já fiz, não só por falar inglês, mas por ser cantora e ter exigido uma preparação de voz intensa.

A carreira internacional é um assunto cada vez mais forte no Brasil, como se fosse um passo natural de evolução. Você deseja isso?
Acho que as mídias sociais encurtaram distâncias e isso expôs talentos de várias regiões que não tinham as mesmas oportunidades e projeção. Foi um grande ganho para o mercado latino. O streaming também acelerou o processo. Mas não enxergo que projetos internacionais devem ser o objetivo. Acho que o objetivo, acima de tudo, são bons projetos, personagens interessantes.

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Body, véu e calça, Giorgio Armani. Foto: Hick Duarte

O setor cultural no Brasil sofreu bastante nos últimos anos. Você tem expectativas de melhora com a mudança de governo?
Infelizmente, a classe artística sempre teve que fazer muito esforço para se manter viva num país como o nosso, em que nos falta o básico. É difícil prever o futuro, mas, pelo pouco que vemos, percebe-se uma preocupação e uma movimentação em torno da cultura no momento, diferente de como estava. Quando falamos de cultura, estamos falando também de inúmeros profissionais, como contrarregras, iluminadores, sonorizadores, maquiadores, camareiras. Estamos falando de um setor potente da economia, e arte só se faz em equipe. Sem cultura, não existe a memória de um povo. Tenho esperança de que venham dias melhores, que possamos produzir cada vez mais conteúdos brasileiros e que eles sejam consumidos aqui e no exterior.

Como você lida com a sua ansiedade? Li em outras entrevistas que você sofre com ela há bastante tempo.
A maior mudança na minha relação com a ansiedade foi entender que a questão é lidar com ela. Muitos anos da minha vida foram gastos tentando me livrar dela, mas, quando a aceitei, as coisas melhoraram. Claro, se sinto que está aumentando, tento amenizar os sintomas. Tenho uma combinação de ferramentas que me auxiliam: terapia, respiração, esporte, natureza e família. O mais importante é a busca pelo autoconhecimento, entender quando algo pode ser um gatilho.

Na sua trajetória, você viveu muitas situações que foram fruto de machismo. Com toda a mobilização feminina que vem acontecendo nos últimos anos, você sente que o mercado mudou?
Já é um grande passo a gente prestar mais atenção nisso e falar sobre o machismo estrutural. Mas o que temos sempre que pensar é: “Meu discurso está alinhado com as minhas atitudes?” Na prática é muito mais difícil, né? Crescemos num mundo machista. É um trabalho de desconstrução que leva tempo. A união feminina é algo que precisamos fortalecer, considerando que a imprensa e, às vezes, as próprias pessoas gostam de instigar a rivalidade, a comparação. Isso gera clique, mas é muito tóxico. É tão horrível quando alguém vem fazer elogios desmerecendo outra mulher, como se isso fosse algo que eu, ou qualquer outra mulher, fosse gostar. É triste, mas estamos no processo.

Você já se envolveu em diversas causas. Existe alguma que esteja especialmente presente na sua vida hoje?
A que tem estado mais em pauta para mim é a importância da saúde mental. Vivemos uma busca incessante por realizações e parece que nunca é suficiente. Você acaba não comemorando aquilo que conquista e já começa a pensar no próximo passo, porque tudo se dilui nesse processo acelerado que vivemos. Me vejo muitas vezes nessa situação. A saúde mental é algo que me preocupa, na minha geração e nas que estão vindo.

Texto e fotos originalmente publicados na ELLE Volume 11, em março de 2023.

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Créditos
Direção criativa: Luciano Schmitz
Foto: Hick Duarte
Edição de moda: Lucas Boccalão
Beleza: Mika Safro (H.A MGT)
Produção executiva: Isabela de Paula
Tratamento de imagem: Helder Bragatel
Coordenação de produção de moda: Diego Tofolo
Produção de moda: Gustavo Vaskowitch e Thiago Torres
Produção de arte e cenografia: Anderson Rodriguez
Assistente de arte: Francisco Brandão
Assistente sde foto: Daniel Cardoso, Hanna Vadasz e Marcelo N. Andrade
Assistentes de beleza: Fernanda Daniel e Jonatan Nogueira
Manicure: Thayna Dandara
Assistente de produção executiva: Amanda Bomfim
Contrarregra: Ronaldo Junge

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