Gabriela Hearst apresenta sua primeira coleção para Chloé

Com um vídeo nas ruas de Paris, a estilista coloca a sustentabilidade no centro das atenções de sua estreia na maison.


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Faz mais ou menos um ano que os executivos da Chloé demonstram forte interesse na postura e iniciativas sustentáveis da grife, atualmente sob o guarda-chuva do grupo Richemont. Foi em parte por isso que, no fim de 2020, Natacha Ramsay-Levi, então diretora de criação, não teve seu contrato renovado e Gabriela Hearst, apontada como sua sucessora. Há tempos cotada como uma forte candidata ao posto, a estilista uruguaia radicada em Nova York se destacou justamente pelo compromisso com pautas responsáveis social e ambientalmente. Sua label homônima, aliás, se tornou um case no mercado de luxo.

Na manhã desta quarta-feira, 03.03, Gabriela fez sua estreia no comando da marca francesa e não mediu esforços para demonstrar os valores pelos quais norteia seu trabalho. De cara, a nova diretora eliminou por completo o uso de fibras sintéticas virgens (como o poliéster) e as celulósicas artificiais (como a viscose). As estampas, criadas pelo artista Peter Miles, são feitas com alga marinha e casca de ovos. Todos os fornecedores, tecidos e aviamentos são certificados. Mais da metade das sedas são provenientes de agricultura orgânica e mais de 80% do cashmere, reciclado.


O reaproveitamento, aliás, é algo que vale atenção extra. Boa parte dos materiais que compõem as peças do inverno 2021 já existiam. É o caso dos jeans, dos couros de bolsas, sapatos e casacos. Os tecidos estampados das mochilas e jaquetas bomber de patchwork vieram do arquivo da própria maison e os produtos, feitos em parceria com a Sheltersuit, uma organização dedicada a oferecer abrigo e ajuda a moradores de rua, por meio da venda de roupas e acessórios produzidos por meio do upcycling (os quais também são doados pela instituição).

Do ponto de vista criativo, a coleção fica entre a homenagem e a autoafirmação. É que Gabriela é mais conhecida por looks quase austeros, regidos por linhas modernistas, tudo muito sério, muito preciso. A Chloé é boêmia, livre, leve e solta. Rola um flerte entre os dois lado, a estilista homenageia a história, mas, no final, acaba presa ao próprio estilo. E tudo bem, é só a primeira coleção, nada mais natural do que firmar sua assinatura. Só não pode esquecer de buscar algo novo, algum diferencial capaz de distinguir um vestido longo de tricô dos tantos outros que vimos no último ano.

Nesse toma lá dá cá de estilo, a silhueta midi, as formas alongadas, as sobreposições são 100% Gabi, enquanto os babados, os bordados ingleses, as estampas de insetos, os plissados esvoaçantes, lembram elementos da Gaby, com Y mesmo. No caso, a Gaby Aghion, fundadora da Chloé, que hoje completaria 100 anos. Coincidentemente seu nome é quase igual ao apelido da atual diretora criativa. Além disso, ambas têm seus trabalhos fortemente influenciados pelos valores de seu tempo. Parte do sucesso inicial da maison foi sua postura contestadora em relação à moda da época, principalmente no que diz respeito à representação da mulher na sociedade. Eram os anos 1950, e já sentiam as brisas que culminaram no furação de revoluções da década seguinte.

Hoje essas mudanças e comportamentos disruptivos são menos estéticos. Estão mais aliados aos processos, ao fazer das coisas. Daí todo o esforço e comprometimento de Gabriela com práticas responsáveis em todas as etapas da produção de moda – do plantio à peça final.

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