Harris Reed é um nome para prestar atenção, e Harry Styles concorda
Em apenas um mês, Harris Reed lançou uma coleção de maquiagens com a MAC Cosmetics e estreou na semana de moda de Londres. Aqui contamos a sua história.
- Subvertendo as expectativas de gênero, Harris Reed entendeu, ainda na adolescência, que a moda pode ser uma aliada da autoexpressão.
- Sem sequer ter encostado em uma máquina de costura, ingressou na graduação de moda da Central Saint Martins.
- Em 2017, Harry Lambert, stylist de Harry Styles, descobriu Reed no Instagram e, rapidamente, esse trio passou a fazer inúmeros trabalhos juntos.
- O agito chamou atenção de Alessandro Michele, diretor criativo da Gucci, iniciando, assim, uma relação entre Harris e a marca italiana.
- Desde então, não parou mais, e agora Harris acaba de lançar uma coleção de maquiagens com a MAC Cosmetics e estrear na London Fashion Week.
- Acompanhe a sua trajetória abaixo:
Falar sobre gênero nem sempre foi fácil
Mesmo que você não saiba quem é Harris Reed, certamente conhece suas criações. Nascido em Los Angeles, baseado em Londres e com apenas 24 anos, se formou há pouco mais de um ano na Central Saint Martins e, em pouco tempo, chamou a atenção da indústria por sua moda sem gênero. Com um discurso afiado sobre o assunto, Harris acredita na beleza fluida e enxerga nas roupas a oportunidade perfeita para iniciar conversas sobre o seu forte senso de identidade. Porém, falar sobre isso nem sempre foi tão fácil assim.
“Os rótulos me incomodavam muito, antes mesmo que eu soubesse o que significava ser gay”, contou à ELLE Brasil, em entrevista publicada no Volume 01 da edição impressa. A sua infância, apesar de um tanto quanto conturbada pelas dores de, já cedo entender que era diferente das outras crianças com quem convivia, foi muito criativa. Com pai documentarista e mãe perfumista, Harris tinha em casa o aconchego lúdico e liberto que não encontrava nas ruas do Arizona, estado em que cresceu. “Eu não andava como as outras crianças, não me vestia como elas e pude perceber que até os pais em geral me olhavam de outra maneira”, relembra.
Não demorou para que, entre o seu espírito imaginativo e a sua vontade incessante de se expressar, começasse a se aproximar da moda. Colocando a fluidez do gênero e da sexualidade no centro da conversa, Harris entendeu que, através do que vestia, poderia falar tudo que sempre quis. “Quando eu passei a me vestir para mim e reconhecer quem eu sou, eu entendi a moda como um meio criativo. Quando via a reação das pessoas, achei fascinante e soube que queria trabalhar com isso”, diz.
A partir daí, se encantou cada vez mais pelas novas possibilidades de criação e decidiu que essa seria a sua plataforma para convidar os olhares estranhos que sempre recebeu pelas ruas a reverem as suas percepções acerca da não-binariedade. “Jamais me conformei com o julgamento. Colocava uma jaqueta brilhante e todo mundo ficava chocado, como se fosse um grande problema. Claro que houve momentos bem difíceis, mas parte de mim sempre gostou do poder da moda de transformar a mente das pessoas”.
O momento acadêmico
Apesar do encanto pela moda, Harris nunca encostou em uma máquina de costura antes de entrar na faculdade. Até então, se aventurava produzindo suas criações com, pasmem, fita adesiva e cola. Enquanto os seus colegas pareciam já muito mais adiantados, Reed precisou deixar os seus improvisos de lado para aprender a técnica do corte e costura na marra. E aprendeu. Entretanto, os seus últimos feitos acadêmicos não foram tão diferentes do que fazia na adolescência.
Harris se formou na Central Saint Martins em meio à quarentena 一 e os estudantes sabem bem o que isso significa. Com as aulas adaptadas para o formato EAD, os alunos tiveram que dar continuidade aos seus projetos sem as instalações, estrutura e materiais fornecidos pela faculdade. Para o seu último trabalho da graduação, desenvolveu uma coleção com uma máquina de costura velha, uma cola da loja de ferragens próxima à sua casa e um manequim de espuma encontrado no lixo.
Entre várias noites sem dormir e com a ajuda de alguns amigos, aconteceu. Harris apresentou a sua coleção, chamada de Thriving in Our Outrage (“Prosperando em Nossa Indignação” em tradução livre), como conclusão de curso. “Quando vemos pessoas queer, ou qualquer um que queira romper com o status quo, vestir e ser o que quiserem, isso é uma forma de indignação. É a indignação por ser julgado, por não ser aceito, mas de uma forma positiva, como uma expressão de autoaceitação e liberdade”, contou Reed sobre a escolha do título.
Se formou ainda com direito aos maiores veículos de moda do mundo cobrindo o projeto. Não é para menos. Inspirado pelo quinto marquês de Anglesey, sua apresentação trouxe os códigos aristocráticos 一 muito constantes em suas referências, aliás 一 através do olhar do novo século. A ideia pode parecer arriscada, mas para Harris é justamente essa a graça de fazer moda, e por isso dá tão certo.
O encontro com Harry Styles
Em meio à sua experiência acadêmica, houve um momento decisivo para a carreira de Harris. Em 2017, Harry Lambert, o stylist de Harry Styles, encontrou sua conta no Instagram, ficou obcecado por seu trabalho e logo mandou um direct. “Faça o que você quer fazer”, foi o que ele disse na mensagem, junto a imagens de Mick Jagger e Jimi Hendrix como referências, num pedido para um “cliente misterioso”. O tal cliente era, claro, Styles, mas Harris só se deu conta quando deu de cara com o cantor na primeira reunião entre os três.
Harry Styles vestindo Harris Reed durante a turnê Live On Tour.Foto: Divulgação
A sintonia foi imediata e, a partir daí, esse trio de quase xarás seguiu 一 e segue 一 fazendo incontáveis trabalhos juntos. Ainda no início da colaboração, Harris ficou responsável pelos figurinos de Styles durante a turnê Live on Tour. Os looks cintilantes e cheios de camadas chamaram atenção da indústria da moda e deram uma outra cara ao artista. Assim, esse foi um passo essencial para Harry, que ganhou o posto de novo superstar, e também para Reed, que passou a ter uma maior visibilidade.
O seu trabalho com o cantor também chamou a atenção de Alessandro Michele, diretor criativo da Gucci. Em 2018, o italiano ligou para Harris e falou: “acabei de saber do seu trabalho e quero te conhecer”. No dia seguinte, já estava de malas prontas a caminho de Milão. No encontro, Alessandro o convidou para desfilar em um show que contaria com a participação de criativos, e Harris, claro, topou. Desde então, não parou mais e suas criações foram usadas também por Miley Cyrus, Solange Knowles e Ezra Miller.
2021 já é de Harris
Parceria de Harris Reed com a MAC.Foto: Divulgação
A sua história pode ainda não ter tantos anos, mas se depender da intensidade pela qual a sua carreira vem sendo levada, 2021 já é seu. Harris iniciou o ano com o lançamento de uma coleção de maquiagens não-binárias para a MAC Cosmetics. “A beleza é fluida, a beleza é para todos e tem muito a ver com a diversão e alegria proporcionados pela maquiagem”, afirmou, em comunicado divulgado pela marca. A colaboração conta com três batons, três paletas e um delineador cintilante dourado, marca registrada de Reed.
Em fevereiro, no mesmo dia em que a parceria com a MAC chegou às lojas, Harris também estreou na London Fashion Week. Subvertendo as expectativas de gênero mais uma vez, apresentou seis looks que fundem os códigos de roupas socialmente entendidas como masculinas com confecções de tules. Todos foram feitos à mão pelo próprio junto a uma pequena equipe, usando um mix de tecidos novos e reciclados.
Coleção de Harris Reed apresentada na LFWFoto: Divulgação
Para chegar nesse resultado, Harris se inspirou em três universos quase opostos: a anarquia do movimento punk, o passado aristocrático da Grã Bretanha e debutantes. Observando seu trabalho, misturas curiosas como essa já são habituais e, por mais inusitadas que possam parecer, são elas as responsáveis por empurrar a criatividade para frente. Se, em meio à pandemia, as semanas de moda já não empolgam tanto, Harris Reed está aqui para nos lembrar que, antes de mais nada, a moda ainda é e sempre será uma das facetas mais genuínas da autoexpressão.
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