Isaac Silva exalta cultura afroindígena e lembra que moda também é informação
Coleção do estilista baiano é uma evolução de sua parceria com a Havaianas.
Moda não é só sobre roupa, glamour ou tendência, é também informação. Após a transmissão do vídeo de sua nova coleção, no sábado (26.06), Isaac Silva fez questão de forçar isso: “Esse é um momento muito delicado, especialmente no Brasil. É muito bom fazer roupas bonitas, um lindo fashion film, mas a gente precisa saber o que está acontecendo. Espero que essa moda sensibilize as pessoas e que todo mundo esteja ao lado de nossos parentes indígenas”.
Nesta temporada, o estilista baiano presta homenagem e reverência à cultura afroindígena. “É uma exaltação à boca da mata, à importância da natureza na espiritualidade dos povos negros e indígenas”, explica Isaac. Em um momento de desmonte ambiental e genocídio racial, a inspiração é mais do que pertinente, é urgente. “Quero que, assim como os meus, mais pessoas possam compreender a importância e força que o resgate das nossas histórias e nossos costumes têm dentro dessas megalópoles nas quais habitamos. Todos nós somos uma mistura de muitos outros, que viveram, criaram e aprenderam com a natureza antes de nós.”
A coleção nasceu da parceria entre Isaac e Havaianas. As mesmas estampas criadas para a marca de calçados, assinadas pela artista Neon Cunha, aparecem, agora, em boa parte das peças. Os motivos são interpretação de elementos gráficos presentes em culturas e religiões de matriz africana e indígenas. As capulanas são um bom exemplo. Tratam-se de tecidos tradicionalmente usados em Moçambique para vestimentas e adornos de cabeça. Outra forte influência é Cabocla Jurema, entidade conhecida por expressar, de forma popular, a fusão de culturas que resultam do misticismo afroindígena.
Em termos práticos, a moda do estilista também dá sinais de evolução. Os elementos esportivos e de streetwear, que sempre percorreram o repertório da etiqueta, agora parecem mais bem resolvidos. Se antes algumas dessas peças se mostravam rígidas demais, agora é o completo oposto. Ainda que a base seja algodão e sarja, tradicionalmente tecidos mais encorpados, o caimento é leve e fluído, dialogando bem com os outros materiais mais delicados e manuais da coleção.
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