Lapima, por uma ótica diferente

Com apenas seis anos de vida, a marca autoral fundada no Brasil já é uma das mais desejadas aqui e lá fora.


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Foto: Divulgação



Posicionar uma marca independente no mercado de luxo e ter um retorno quase imediato é um feito complexo. Mais ainda para um negócio baseado no Brasil. E foi exatamente isso o que aconteceu com a Lapima.

Fundada em 2016 por Gustavo e Gisela Assis, a etiqueta é referência em eyewear premium aqui e em outros 33 países por onde se espalham seus 250 pontos de venda internacionais. Em menos de 10 anos, o crescimento foi de 100 vezes, impulsionado pelo design autoral, pelo trabalho manual e pela matéria-prima de altíssima qualidade. 

“Em 2014 começamos a pensar nessa marca que queríamos criar para o mercado ótico, por uma paixão pelo produto em si e pela vontade de continuar na moda (até então, a dupla comandava uma loja multimarcas), mas com um produto menos perecível e mais escultural”, diz Gisela. 

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Gisela e Gustavo Assis. Foto: Divulgação

Na época, pequenas grifes de países como Alemanha, França e Itália estavam ganhando espaço no mercado de luxo, todas com propostas sofisticadas de design e qualidade. “Vimos que haviam óticas especializadas em vender esses produtos. Não encontramos nenhuma marca posicionada dessa forma no Brasil e decidimos desenhar o projeto”, continua a empresária.

Até 2016, o casal se dedicou a estruturar a base necessária para o negócio acontecer. Foi então que se depararam com os primeiros obstáculos. “Os desenhos do Gustavo tinham uma complexidade arquitetônica, com volumetria frontal, detalhes milimétricos e ângulos difíceis de produzir. Encontrar um fornecedor foi o primeiro desafio.” 

A opção e preferência exclusiva pelos melhores materiais disponíveis na indústria também foi uma complicação. “Infelizmente, o Brasil não possui a mesma qualidade que outros países”, fala Gisela. “O acetato que trabalhamos é de celulose e orgânico, não é derivado de petróleo, e isso ainda não existe no país.”

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Foto: Divulgação

Para seguir adiante, perceberam que era preciso montar o próprio ateliê. “Os fornecedores não estavam interessados em desenvolver óculos daquela maneira. Falavam que não venderiam e seriam caros demais, então começamos a ir atrás de maquinário.” 

Encontraram em Campinas, no interior de São Paulo. “Na década de 1960 e 1970, o Brasil era muito forte no segmento ótico. Haviam várias fábricas na região, inclusive a da Luxottica, que permanece aqui até hoje.”

Gisela e Gustavo percorreram diferentes ferros-velhos em busca de equipamentos. “Conseguimos máquinas muito boas, fizemos reparos e, assim, começamos a produzir nossos óculos.” No início, o ateliê da Lapima contava com dois artesãos, que ainda são a prata da casa. Hoje, já são 30. “O espaço cresce junto com a marca”, conta Gisela. “Como está tudo no mesmo lugar, não só empregamos e desenvolvemos a comunidade local, como conseguimos acompanhar a produção de perto”, completa. 

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Foto: Divulgação

Ao longo desses seis anos, a Lapima ganhou visibilidade internacional através de showrooms em Paris, onde compradores de lojas prestigiadas como Barneys, Moda Operandi e The Webster, além de nomes consagrados do mercado de óticas, descobriram a marca. “Como estávamos sempre nas feiras francesas, as óticas especializadas começaram a nos procurar”, diz Gisela. “Foi um grande reconhecimento, porque há um olhar técnico bem detalhista, totalmente diferente do de moda.”

Com inspirações que misturam elementos da fauna e flora brasileiras a vivências do casal, os óculos também caíram nas graças de celebridades como Olivia Wilde, Harry Styles, Anne Hathaway, Elle Fanning, Emma Roberts, entre outras. “O Gustavo tem como princípio ser autêntico, então ele não olha para tendências ou outros designers, e, sim, para elementos da natureza, como folhas, rios e pássaros.”

Do saco do Mamanguá, em Paraty, onde Gustavo e Gisela se casaram, a Goiás, região onde a família possui fazendas, toda a criação parte de uma visão de mundo bem particular da dupla, sempre pautada por shapes marcantes, curvas acentuadas e uma rica cartela de cores – como atestam os óculos, as campanhas e os nomes das peças, vide o modelo Carlota, uma homenagem à primeira filha do casal. 

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“É muito pitoresca a existência de uma marca produzida no Brasil nesse mercado”, pontua Gisela. “Por todas as limitações que encontramos pelo caminho, acabamos criando um negócio único, e quando os clientes chegam ao nosso showroom, ficam chocados com o produto e a maneira como o produzimos.”

Ao todo, a Lapima possui três linhas – icônica, fashion e básica – e lança duas coleções por ano, mantendo uma produção artesanal e sem estoque, para evitar o desperdício. “Não trabalhamos com molde, fazemos um modelo por vez, então a produção tem que estar preparada para desenvolver um produto diferente a cada momento”, explica Gisela. 

A coleção atual, chamada de Serra do Mar, tem uma cartela de cores inspirada nos tons típicos da cerração, como cinzas densos e degradês, contrastados por duas cores vibrantes, o Ultra-Violet e Eletric Green. “Elas simbolizam o verde úmido da mata e os arroxeados que brotam durante o ano inteiro, na forma de quaresmeira, manacá da serra e ipê”, diz Gustavo.

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Foto: Divulgação

No próximo ano, outras novidades estão por vir. A nova coleção, inspirada nas velas das jangadas típicas do Ceará, terá lançamento especial em fevereiro, numa das feiras óticas mais importantes do mundo, a Mido, em Milão. Além disso, a Lapima pretende reforçar seus pontos de venda no Brasil, com a abertura de mais duas lojas. “Queremos ter oito endereços próprios até 2025 e, em paralelo, nos fortalecer nos Estados Unidos, nosso maior mercado hoje”, antecipa Gisela. 

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