LFW: Burberry, verão 2025
Olhando para as habilidades funcionais da roupa, o diretor criativo Daniel Lee reinterpreta a herança da Burberry.
Na moda de luxo, quando a conta aperta, as vendas caem e possíveis instabilidades econômicas ameaçam o cenário global, as grifes abaixam o tom, escolhem o caminho mais seguro e resgatam qualidades essenciais e hits de seus arquivos.
O desfile de verão 2025 da Burberry, que encerrou a semana de moda de Londres nesta segunda-feira (16.09), é um bom exemplo disso. Segundo a própria etiqueta britânica, o lema da coleção é “nascida na função, baseada na herança”.
Burberry, verão 2025. Foto: Getty Images
Burberry, verão 2025. Foto: Getty Images
Desde que assumiu a direção criativa da Burberry, em setembro de 2022, Daniel Lee tem se aprofundado na história da marca. Esse movimento, aliás, não é só dele. Em outras grifes, os estilistas também têm feito parecido, em uma tentativa de contornar o desaquecimento das vendas do mercado de luxo.
Herança é o que não falta para Daniel investigar ali. Vale lembrar que os grandes carros-chefes da marca nasceram séculos atrás com funções bem específicas. O trench coat, por exemplo, foi criado para proteger os soldados durante a Primeira Guerra Mundial. É para isso, em especial, que o estilista olha nesta temporada: para as habilidades funcionais da roupa Burberry.
Na passarela, algumas calças surgem com múltiplos bolsos, enquanto outras têm zíperes que atravessam todo o comprimento da perna, criando a possibilidade de fendas um tanto inusitadas. As camisas e vestidos também ganham sobreposições multifuncionais, que podem ser alteradas ou removidas por meio de botões. E ainda há casacos utilitários à prova d’água.
Burberry, verão 2025. Foto: Getty Images
Burberry, verão 2025. Foto: Getty Images
Embora o utilitarismo possa cair em uma imagem carregada, não é o caso aqui. As peças funcionais vêm acompanhadas de saias longas fluidas e bermudas soltinhas, que garantem um resultado leve e bem gracioso quando estão em movimento.
Outra peça que ganha bastante evidência é a jaqueta no estilo militar. Essa é a primeira vez que os símbolos militares, já tão explorados ao longo da história da marca, aparecem em um desfile de Daniel. Eles surgem sem vergonha, o que tem bastante a ver com a história de priorizar o caminho seguro e conhecido, que eu falei lá no início.
Os xadrezes, que até então tinham ficado um pouco de fora, aparecem agora com mais força, meio repaginados. Ah, e aquele tom de azul bem vibrante, que Daniel vinha tentando emplacar desde que chegou na etiqueta, foi deixado de lado nesta temporada, em favor de uma cartela bem neutra com um toque ou outro de lavanda e laranja.
Burberry, verão 2025. Foto: Getty Images
Burberry, verão 2025. Foto: Getty Images
Ainda vale destacar os paetês, que aparecem nos vestidos noturnos e são a cara dele, e também os acessórios. Daniel Lee é craque em criar bolsas, sapatos e cintos, e todos eles ganham uma atenção bem especial nesta temporada. As bolsas surgem em todos os tamanhos, do mini ao maxi. O cinto fininho com tira solta também tem cara de hit.
O saldo final é que, agora, em seu quarto desfile na Burberry, o estilista parece estar ficando mais à vontade na marca. Nesse desfile há uma certa pessoalidade que, talvez, tenha faltado nos anteriores. Com os pés no chão, Daniel leva a sério a tradição e herança da etiqueta, mas também brinca com ela, se diverte e deixa transparecer um pouco mais de sua assinatura. Que bom. Foi a sua assinatura, afinal, que o levou até aí.
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