Lingerie em foco: sutiãs e calcinhas ganham cada vez mais protagonismo

Usada no lugar da roupa comum, o underwear ganha um crescente número de adeptas de todos os estilos e passa a estrelar nos looks do dia a dia.


Tendências de moda: lingerie aparece nas passarelas com protagonismo e Miu Miu destaca hot pants
Calcinhas e sutiãs ganham destaque nas passarelas e nas ruas. Foto: Getty Images



Adeus, alça de silicone transparente e sutiã em tons de pele. Foram-se os dias em que a lingerie deveria ficar escondida, invisível até. Em continuidade a um movimento que vem ganhando força gradativa, uma das principais tendências deste 2023 é a roupa íntima à mostra. Está em todo lugar: Letticia Muniz, capa da Elle View de abril, adora e vira e mexe aparece com um look nesse estilo no seu perfil no Instagram. Outra febre são os conjuntos de seda ou algodão da Miu Miu. Desde o desfile de verão 2022 – o das minissaias ainda mais míni –, a busca pelas partes tem só crescido, temporada após temporada.

Aliás, na coleção mais recente da marca italiana, a de inverno 2023, Miuccia Prada desistiu das calças. Era só meia-calça e uma calcinha tipo hot pants. Em entrevistas após a apresentação, a estilista disse que é obcecada pelo visual e que gostaria de só se vestir daquele jeito. Fora da passarela já tem gente aderindo à ideia. Kendall Jenner usou uma hot pants com uma meia-calça preta e um suéter azul – look emprestado da Bottega Veneta – e sua irmã, Kylie Jenner, escolheu uma produção semelhante para ir ao desfile de verão da Loewe. Julia Fox é mais uma adepta desse visual: ela adora jogar um casacão por cima da calcinha e do sutiã e sair por aí. Enfim, não faltam exemplos.

“Hoje a mulher está mais bem resolvida com o seu corpo. Existe mais aceitação. E como no Brasil temos a cultura de colocar o corpo para jogo, abraçamos essa tendência com facilidade”, diz Letícia Correia, fundadora da Ava Intimates. A marca nasceu em 2015 com a vontade de acrescentar um pouco mais de informação de moda às peças íntimas. Para isso, elementos do prêt-à-porter são aplicados nos underwear. “Nossas taças cobrem mais os seios, têm mais tecido. As alças são decoradas com alguma padronagem ou textura. Também brincamos muito com a combinação de materiais”, exemplifica. “Levar a lingerie para a rua é o meu principal objetivo, seja por meio de um sutiã que aparece um pouquinho numa camisa desabotoada, seja num body de renda usado como blusa”, diz ela.

O desejo de trazer uma nova linguagem à lingerie também impulsionou a gaúcha Cibeli Gonçalves a empreender com uma marca própria, a Oh Studio. Lançada oito anos atrás, o negócio começou focado em mães-recentes, porém logo expandiu para abraçar outros nichos de mercado. “Quando me vi mãe e amamentando, não encontrava nenhum sutiã de maternidade que eu gostasse. Queria uma peça elegante, bem pensada que contemplasse esse momento bonito de alimentar e criar um ser humano”, comenta ela.

Tendência de moda: lingerie da Oh Studio foca na transparência

Transparência e tiras são elementos-chave da Oh Studio. Divulgação

Sem alternativas, começou a costurar sozinha sutiãs e calcinhas de tecidos transparentes e enfeitadas com múltiplos elásticos pretos. Os dois elementos permanecem até hoje no centro de suas criações. “A transparência é por uma questão de libertação – é só um mamilo, gente, está tudo bem – e as tiras, na verdade, vieram de uma coisa meio super-heroína, de uma vestimenta de poder”, afirma.

As duas designers são provas e testemunhas do aumento de pessoas em busca de itens de underwear, que de under têm só o nome. Entre os modelos mais desejados estão as hot pants e partes de cima com fechos imperceptíveis – “elas odeiam quando aparecem”, garante Letícia – e com bases compridas, que vão até a cintura – “parece um top e até pessoas mais conservadoras conseguem usar”, explica a designer da Ava Intimates.

E não só marcas independentes ou focadas em nichos específicos que engrossam o coro desse movimento. O crescimento no interesse do público também é percebido por Ângela Coelho da Fonseca, diretora da Jogê. Por lá, os best-sellers são os sutiãs estilo triângulo sem bojo. De acordo com ela, esses modelos saíram do gosto da clientela. “As vendas (dos sutiãs com bojo) despencaram. Isso é um traço do empoderamento feminino, da aceitação do corpo e da libertação do silicone”, aponta, em referência ao aumento no número de cirurgias para retirada de próteses.

Tendência de moda: na Jogê, a lingerie favorita das clientes para usar na rua é o sutiã triângulo

Na Jogê, o sutiã triângulo é o mais vendido para se usar na rua. Divulgação

De todo o modo, a conversa acerca da intimidade e da relação da roupa com o corpo é um tema recorrente nas coleções de moda, ganhando novas interpretações a cada temporada. Passamos pelo boom do naked dress, trouxemos de volta o corset e notamos atualmente o hype das roupas com estampas com corpos nus. O feitio pela lingerie mais pura, que não mente ser o que é, pode ser mais uma dessas manifestações, como apontamos no fim na última edição da SPFW.

Ângela ressalta, por outro lado, que o movimento da lingerie como roupa ainda é tímido, apesar do crescimento. De acordo com a diretora, peças feitas para aparecem precisam de uma atenção especial, afinal têm contato direto com a pele e o corpo. “As matérias-primas precisam proporcionar conforto irrestrito ao longo do uso”, constata. A modelagem é mais um ponto de estudo. “Cada busto é diferente. Existem maiores, menores, alguns mais espaçados, outros mais largos. A largura das costas também precisa ser levada em consideração. Ou seja, não existe um único modelo que atenda a todo mundo”. Para incorporar o visual, vale testar diferentes opções até encontrar uma para chamar de sua.

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