Maldito Paris chega ao Brasil

Maldito Paris, marca do Francisco Terra, desembarca no país mostrando outras possibilidades de fazer moda .


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Collab da Maldito Paris com a Melissa. Foto: Divulgação



Criada há cinco anos na capital francesa pelo estilista mineiro Francisco Terra, a Maldito Paris chega ao Brasil nesta terça-feira (20.05), por meio de uma colaboração com a Melissa. De forma simples e objetiva, a notícia é essa, mas a história merece um pouco mais de atenção.

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Após se formar em administração de empresas, Francisco mudou para Paris em 2007 para estudar moda. Quatro anos depois, concluiu a graduação pelo Instituto Marangoni da cidade. Trabalhou na Givenchy, com Riccardo Tisci, e na Carven, com Guillaume Henry. Em paralelo, criou a etiqueta Neith Nyer – o nome é homenagem à avó costureira.

Com o próprio negócio, o designer participou de algumas edições da fashion week parisiense – de 2015 até a pandemia – e se destacou pela pesquisa com upcycling e pelos questionamentos sobre os limites de gênero. Tudo de um jeito bem pop. 

Em 2018, a Neith Nyer foi finalista do Prêmio da Associação Nacional para o Desenvolvimento das Artes e da Moda (ANDAM), criado pelo Ministério da Cultura francês. A pandemia, no entanto, fez as dificuldades de tocar uma grife independente ainda mais insustentáveis. A conta (financeira e emocional) não fechava, e a empresa chegava ao fim.

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Coleçao Santinha do Pau Oco, de 2024. Foto: Fernando Tomaz

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“Em 2021, fiz um último desfile sobre o Show da Xuxa e logo em seguida decidi encerrar tudo”, diz Francisco. “A Maldito não nasceu com o objetivo de ser uma marca. Ela era justamente a minha vontade de não fazer mais moda.” 

A ideia inicial não era criar roupas, mas sim ser um mangá. O livro, no formato de história em quadrinhos no estilo japonês, tem narrativa baseada na vida do estilista. Nele, questões sobre identidade sexual e de gênero são contadas de forma fantástica, através do prisma do folclore brasileiro. “É cheio de metáforas, uma viagem bem desconectada da realidade”, diz.

Acontece que, ao lançar o mangá, a galeria de arte Lafayette Anticipations, gerenciada pelas lojas Galerie Lafayette, convidou Francisco para uma parceria. O projeto, de repente, pôde crescer. “Decidi fazer uma coleção com os looks que os personagens usam e deu no que deu.”

O funcionamento agora é um pouco diferente do anterior.“Não entendo como uma marca de moda, mas, sim, como uma propriedade intelectual, que colabora com outras empresas e explora mídias variadas. Já fiz móveis, sapatos, case de cigarro, fanzine, roupas e por aí vai. Tudo é Maldito.”

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Bota Texas da Melissa em colaboração com a Maldito Paris. Foto: Divulgação

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No que diz respeito ao vestuário, existem itens únicos sob medida e uma parte chamada de “high luxury”, que ganha diversas formas de apresentação – desfile, vídeo, revista, fanzine – e fica disponível para aluguel. No e-commerce próprio, é possível encontrar drops de produtos limitados, lançados ao longo do ano. 

A coleção cápsula mais recente foi uma série de camisetas e suéteres de jérsei que não ganha reposição.“Esse é um ritmo que respeita a minha saúde, família e amigos. É a maneira que encontrei de continuar a contar as minhas histórias de uma forma saudável e sustentável”, fala Francisco.

Só uma pequena porcentagem de roupas são destinadas para vendas em boutiques ao redor do mundo. Hoje, são 10 lojas em países como Japão, Coreia do Sul, Alemanha, França e Inglaterra. “A gente só produz o que compram da gente”, afirma 

As criações são realizadas na França, mas as referências são brasileiríssimas: memórias vividas em Belo Horizonte, telenovelas assistidas durante a adolescência e várias lembranças da cultura popular nacional. A direção criativa é de Francisco, mas o styling de Leandro Porto e a fotografia de Fernando Tomaz finalizam as imagens das comunicações. 

“E tem a Jöa, meu crush criativo”, diz o designer sobre a parceira. Especialista em gestão criativa na indústria do entretenimento, Jöa conheceu o estilista durante as gravações de um reality show com drag queens que irá ao ar no Brasil no meio do ano – antes, Francisco trabalhava como diretor artístico da franquia Drag Race France (2022), da série RuPaul’s Drag Race (2009). 

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Coleçao Santinha do Pau Oco, de 2024. Foto: Fernando Tomaz

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“Agora, Jöa representa a Maldito no Brasil”, conta Francisco. O processo é feito pela Yume, um estúdio de criação criado por ela. A ideia é gerar conexões para mais colaborações em território nacional. “Desde 2023, estamos trabalhando neste lançamento no país. É uma marca parisiense, mas também muito mineira e, consequentemente, brasileira”, afirma. 

O primeiro grande fruto desse match é a collab com a Melissa. “É um sonho de infância, porque via as propagandas das sandálias na televisão e queria uma, mas, na época, era tudo coisa de menina”, lembra o designer. Como a bota de caubói sempre foi o carro-chefe das vendas na Neith Nyer – o acessório já foi usado por estrelas como SZA e Beyoncé –, a parceria atual é uma interferência no modelo Texas, da label de acessórios. “E de um jeito maldito”, ele enfatiza. 

O produto será desfilado na apresentação da Maldito no dia 7 de julho, durante a semana de alta-costura de inverno 2026, em Paris. “É uma coleção celebrativa, porque completo 15 anos de moda. Não tive festa de debutante, outra coisa que os meninos não vivem na adolescência, e estou resgatando isso com um carnaval nas peças”, fala Francisco. 

Entre as criações, destaque para o uso de metal e outros materiais incomuns nas roupas. Um vestido dá a impressão de ser feito com penas, mas, na real, é criado por várias fitas recicladas e recortadas. “É sobre transformar o lixo em luxo”, fala. Outra parte importante é outra parceria costurada por Jöa: com as estilistas Helô Rocha e Camila Pedroza, em lingeries. 

Para Francisco, a Maldito é pensada para uma comunidade jovem e queer. “E vamos além da imagem, porque fazemos isso com credibilidade. Cresci num mundo onde essas conversas não existiam e poder falar disso, com moda, é muito importante para mim.” 

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