Moda brasileira sustentável é foco de exposição durante a semana de moda de Londres
Do dia 15 a 19 de setembro, a mostra "Brazil: Creating Fashion For Tomorrow” reúne criações de 14 estilistas brasileiros radicados no Reino Unido, projetos de inovações têxteis e debates sobre moda brasileira sustentável.
Neste ano, a semana de moda de Londres tem uma agenda exclusiva para mostrar os talentos e potencialidades da moda brasileira sustentável. Trata-se da exposição “Brazil: Creating Fashion For Tomorrow”, aberta de 15 a 19 de setembro, na Embaixada do Brasil da capital inglesa.
Idealizada pelas consultoras Camila Villas e Marília Biasi e pela jornalista Lilian Pacce, e com apoio da Brasil Eco Fashion Week (BEFW) e de Instituto Febre, a mostra apresenta os trabalhos de 14 estilistas brasileiros radicados no Reino Unido, além de produtos feitos no Brasil com uso de matéria-prima ou serviços orientados pela sustentabilidade.
Projeto Akra. Foto: LUFRE | @lufreeev
Entre criadores, marcas e organizações, os participantes são: Aiper, BeLeaf, Bottletop, Catarina Mina, Ceyla Lacerda, Clements Ribeiro, FarFarm + Fibershed Brasil, FarmRio, Fernando Jorge, Gerbase, João Maraschin, Karoline Vitto, Mabe Bio, Pedro Lourenço, Renata Brenha, R-Inove, Royal College of Art, Togetherband, Veja (Vert Shoes), Waiwai Rio, Nova Kaeru, O Casulo Feliz. Projeto Akra.
Um dos destaques, são as discussões e amostras de estudos e soluções pioneiras para o futuro dos têxteis, apresentadas pelo Centro de Circularidade Têxtil e Centro de Pesquisa do Royal College of Art, em parceria com a Universidade de São Paulo (USP). E também as mesas e painéis de debates que acontecem paralelamente à exposição.
Potencialidades brasileiras
Rafael Morais, diretor executivo da Brasil Eco Fashion Week, vê a exposição com ânimo e a considera uma forma de mostrar a diversidade e grandiosidade do Brasil, junto à qualidade da economia nacional. “Sabemos dos problemas, mas temos muito potencial em projetos culturais e sociais que envolvem cadeias femininas, indígenas, quilombolas etc.”, diz ele.
Uma desses projetos é a FarFarm, que em parceria com a Fibershed Brasil apresenta uma seleção de fibras nacionais (buriti, caroá, algodão, curauá, sisal e tucum), cultivadas com os princípios da entidade, que são práticas agroecológicas e sistemas de agroflorestas em sinergia com as comunidades produtoras.
Bolsa, Catarina Mina. Foto: Divulgação
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“O processo por trás dos produtos de design e de moda feitos com essas fibras é genial, da sua extração ao processamento até a criação das peças. Ele diz muito sobre a força do trabalho comunitário e sobre viver e criar em equilíbrio genuíno com a natureza”, continua Mariana Gatti, sócia e diretora de projetos de moda e têxteis da FarFarm.
Durante o processo de desenvolvimento da exposição, ela conta como pôde aprofundar seu conhecimento sobre os materiais. “O tucum tem um forte significado religioso e cultural para diversas etnias amazônicas, como os Kayapó, Tukano, Parakanã e os Guajá”, explica ela.
Algodão colhido e cultivado em agroecologia pela FaFarm Foto: Divulgação
“O trabalho com as fibras é feito majoritariamente por mulheres, e seu beneficiamento representa um fortalecimento do vínculo dentro da comunidade. O caroá vem de uma bromélia fibrosa e tem um papel econômico e cultural muito importante no Nordeste do país. Essas fibras realmente nos ajudam a contar a nossa história social e ambiental”, fala Mariana.
Para Celina Hissa, fundadora da Catarina Mina, um dos pontos positivos do evento é visibilizar a cultura e a biodiversidade brasileira. Ela conta que os itens expostos foram desenvolvidos no Travessias, um projeto que viajou por seis cidades e grupos, somando seis tipologias artesanais diferentes. Entre as peças, estão um caftan, tecido com as rendeiras de bilro no Trairi, e uma bolsa que mistura duas padronagens: o crochê, que é uma técnica favorita da marca, e a palha de carnaúba, um símbolo do Ceará.
Renata Brenha. Foto: Xavier Mas
Pioneira em implementar sistemas de custos abertos, a Catarina Mina insere um QR Code em cada um de seus produtos, contendo a assinatura da mulher que o fez. Celina acredita que isso “é muito significativo, porque a gente entende essas artesãs não só num lugar de fazer, mas como guardiãs de uma memória, de um fazer centenário. Temos olhado muito para isso também: além do impacto social, o impacto cultural, e ficamos muito felizes de ver tudo isso sendo representado em Londres”.
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