Normando abre primeira loja física e dá sinais de crescimento consistente
Marca dos paraenses Marco Normando e Emídio Contente inaugura novo espaço no bairro de Pinheiros com ateliê e o primeiro ponto de venda físico da Normando.
Nesta quinta-feira (29.02), a Normando dá um passo importante na sua trajetória: a marca dos paraenses Marco Normando e Emídio Contente abre sua primeira loja física. O espaço fica no número 1003 da Rua João Moura, no bairro de Pinheiros, em São Paulo, uma região com algumas memórias afetivas para a dupla.
“Meu primeiro endereço na cidade foi aqui”, diz Marco. “Então, quando começamos a procurar, pensei: ‘por que não em Pinheiros’? A gente já morou aqui, conhecemos bem a vizinhança e tem uma efervescência interessante, tem um monte de marcas vindo para cá.”
Até então, quem quisesse ver de perto as roupas da Normando precisava marcar horário para visitar o ateliê, localizado num prédio de arquitetura imponente na Rua Líbero Badaró, na região central da cidade. Marco é apaixonado pelo centro de São Paulo. É também um canceriano apegado. Sair de lá não foi fácil. Foi necessário. “Estava pequeno demais” diz.
A arqueóloga Mariana Inglez veste nova coleção da Normando. Foto: Gabriel Marques | Normando
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Lançada em 2020, a Normando construiu sua base de clientes por vias digitais. “Sempre acreditei muito no online e vendemos bem lá”, fala Marco. No entanto, moda é uma coisa na tela e outra ao vivo. O estilista sabe bem disso e faz questão que suas criações também sejam apreciadas tridimensionalmente e em movimento.
“Nossa agenda vivia lotada, recebíamos muita gente toda semana, fora as produções para editoriais, publicidades e celebridades.” Foi aí que a dupla começou a vislumbrar a possibilidade de um espaço em que as pessoas – não só as que já conhecem e compram – pudessem chegar a qualquer hora, conhecer e experimentar a marca.
Timing é tudo, né? Na moda, é essencial. Para marcas independentes, mais ainda. Para marcas brasileiras independentes, vixe, nem se fala. O erro, no entanto, é se prender ao cronômetro. O importante é entender e estudar o tempo. Dado o sucesso, qualidade e consistência dos produtos da Normando, seria perfeitamente plausível ter um ponto de venda físico. Só não seria o ideal, nem o que Emídio e Marco gostariam.
“Eu amo narrativa nas peças. Amo qualidade. Amo matéria-prima. Conseguir os três é o paraíso.” – Marco Normando
Na noite de véspera da inauguração da loja, Marco conta como foi importante o aprendizado ao longo dos quase quatro anos de existência da etiqueta. “Pudemos entender nosso cliente, como seguir com as vendas, como aprimorar o produto. De certa forma, fomos nos moldando à realidade. Isso é necessário para saber onde você está, o país em que você vive, como as pessoas consomem.”
Desde o início, o duo tem princípios muito nítidos e sólidos. O ritmo é diferente, sem pressa. A produção, responsável social e ambientalmente. O que para muitos poderia ser bandeira marketeira, grandes diferenciais, aqui é o básico.
Aí, entram algumas particularidades: “Eu amo narrativa nas peças. Amo qualidade. Amo matéria-prima. Conseguir os três é o paraíso”, diz Marco. O discurso é comum, já o equilíbrio das partes, aí é outra história. Em quase quatro anos de atividade, a Normando conseguiu balancear tais qualidade como poucos.
Jaloo veste nova coleção da Normando. Foto: Gabriel Marques | Normando
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O estilista é do time que acredita que a roupa deve falar por si só. Para ele, a peça precisa se sustentar sozinha, despertar desejo, interesse sem depender de uma construção ou storytelling específico. “Se tiver narrativa e tiver alguém que se interesse por ela, melhor ainda.”
Para Emídio e Marco, o segredo está na pesquisa – e uma pesquisa bem aprofundada. O estudo metódico de temas de interesse da coleção vigente permite a elaboração de uma narrativa intrínseca à roupa, da matéria-prima à costura. É uma história contada em formas, moldes, linhas, texturas, estampas e tecidos alimentados pela combinação de informações e conhecimentos de áreas variadas.
A nova coleção, já disponível na loja física e online, tem como ponto de partida a arqueologia amazônica. “Fizemos uma catalogação de artefatos indígenas de povos originários do Norte e, a partir daí, começamos a criar.” Um blazer de látex, por exemplo, tem as formas de um vaso marajoara. O próprio látex, que às vezes parece couro, às vezes madeira, acompanha a ideia de ressignificação e reavaliação.
Thai de Melo Bufrem veste nova coleção da Normando. Foto: Gabriel Marques | Normando
De forma bem resumida – mas bem resumida mesmo –, é uma coleção sobre colecionismo e os diferentes significados de coleções. Tem as que ficam isoladas, privadas de utilidade e toque nos museus, tem as que são passadas de geração em geração, como parte de uma cultura coletiva. Tem as de alto valor, as que ficam em galerias, e as consideradas mundanas ou corriqueiras demais, seja pela acessibilidade, seja pela disponibilidade.
Como escreveu o pesquisador e curador Mateus Nunes: “A Normando nos sugere colecionar memórias e tradições valiosas para repensar a história e o futuro. Incentiva, no presente, a reinvindicação de ancestralidades que reconfiguram funcionamentos críticos e propõem nortes mais harmônicos, respeitosos e sinérgicos. […] Colecionar, a partir de uma epistemologia atenta, respeitosa e sustentável, é um manifesto de retomada”.
Segundo Marco, é sobre deslocamentos. “Exploramos formas de transportar elementos para estruturas e diagramações diferentes e, assim, questionar concepções e conceitos tradicionais sobre eles.” As conexões são muitas, as interpretações, várias. A animação do estilista aumenta a cada novo comentário ou ponto de vista.
Com a proposta é instigar e não definir, melhor ficarmos por aqui. Quem se interessar pelo assunto ou pelas roupas – ou ambos –, vale a visita ao novo espaço da Normando.
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