Paris Fashion Week: Alexander McQueen verão 2024
Sarah Burton coloca mulheres em primeiro plano em sua última coleção como diretora criativa da Alexander McQueen, na Paris Fashion Week de verão 2024.
Depois de 13 anos como diretora criativa da Alexander McQueen, Sarah Burton apresentou a sua última coleção para a casa britânica neste sábado, 30.09, durante a Paris Fashion Week.
São 26 anos ao todo na casa. Sarah Burton foi trabalhar como estagiária de Alexander McQueen em 1997, enquanto estudava na Central Saint Martins. Dizem que Burton e McQueen se entenderam de cara, não precisavam nem conversar pra sacar o que o outro queria, tamanha era a sintonia. Três anos depois, em 2000, Burton virou chefe do design feminino. Dez anos mais tarde, em 2010, quando McQueen morreu, ela assumiu a direção criativa.
Alexander McQueen, verão 2024. Divulgação
A estilista é do tipo que recebe os aplausos no final do desfile vestindo camisa, calça jeans e com os alfinetes numa almofadinha presa no pulso. E, nesses últimos treze anos, ela teve que assumir um dos cargos mais assustadores da moda: substituir McQueen.
Na verdade, ela decidiu por não o substituir. Muito longe de ser uma figura egocêntrica, algo raro nessa indústria, Burton logo tomou uma posição de quem ia continuar uma trajetória, a pesquisa deixada pelo mestre. Porque, afinal, McQueen se dedicava à roupa como um artista se dedica à sua obra, com uma entrega para técnicas, experimentações e acabamentos impecáveis.
Leia também: Sarah Burton deixa a Alexander McQueen após 13 anos.
A sua história, então, ficou marcada por uma trajetória muito consistente de continuidade e evolução. O que não significa que foi sem brilho ou grandes momentos. Burton foi a responsável por desenhar o vestido de noiva de Kate Middleton. Em 2011, ela foi premiada como a designer do ano pelo British Fashion Council. Em 2012, foi nomeada Oficial da Ordem do Império Britânico por sua contribuição à moda.
Alexander McQueen, verão 2024. Divulgação
Em sua coleção final, a de verão 2024, a designer afirmou celebrar “o trabalho da artista Magdalena Abakanowicz, a Rainha Elizabeth, a anatomia feminina, a rosa vermelha com cor de sangue, e Lee McQueen”.
Abakanowicz foi uma artista plástica polonesa, que nasceu em 1930 e morreu em 2017. Ela ficou conhecida principalmente por suas esculturas, algumas reproduzindo figuras humanas e outras com volumetrias abstratas, e praticamente todas de tecido.
Alexander McQueen, verão 2024. Divulgação
Algumas de suas tapeçarias estavam no cenário do desfile e essas tramas e fios da artista também foram parar nas roupas de Burton em forma de franjas e desfiados, como pinceladas tridimensionais bordadas em blazers, desenhos inacabados da anatomia humana nos vestidos ou abrindo as saias em fios – tudo para criar mais movimento.
Já a referência às roupas históricas da realeza britânica tem muito a ver com a noção de mulher em lugar de poder, que McQueen adorava tanto, que a fez uma característica da casa. Seja ela uma rainha ou amazona, dona de impérios ou um ser supremo de algum lugar fantástico, essa mulher tem sempre uma imagem forte.
E, aqui, o seu poder se junta à sensualidade. Em certos momentos, de um jeito mais literal, como no vestido feito em moulage e os slip dresses. Em outros, de formas surpreendentes, como na alfaiataria com detalhe fetichista e mais andrógina. No look McQueen, o corpo manda e a roupa presta o serviço de revesti-lo, moldá-lo, apresentá-lo para o mundo.
Outra homenagem declarada à Lee é mais delicada do que se imagina, não necessariamente a reprodução de hits do passado – ainda que, sim, se veja memórias, como as imagens caleidoscópicas e as manchas que lembram um teste de Rorschach. Essa homenagem discreta está na alfaiataria impressionante.
Alexander McQueen, verão 2024. Divulgação
McQueen ficou conhecido mundialmente por suas performances show e looks absurdos, mas a sua formação é na Saville Row, rua dos alfaiates mais tradicionais da Inglaterra. E o desfile de hoje mostra como Sarah Burton manteve o nível de excelência na construção impecável de uma calça, um blazer.
Um dos pontos mais interessantes é ver que Burton também evoluiu um repertório próprio, o que anima a gente a pensar que a história dela com a moda não acabou. O tricô 3D surge como um jardim de algodão, o jeans lembra que a estilista soube muito bem inserir esse material na casa, nos últimos anos, e tem a beleza de uma mulher gorda na passarela! Para ser mais específico, Yseult, que desfila ao lado de Mariacarla Boscano, Adut Akech e Naomi Campbell.
Burton não parou no tempo, nem mesmo ficou só olhando para trás, nessa última década. Desde a sua primeira coleção sozinha, aliás, ainda que com uma imagem carregada pelo o que o mestre havia ensinado, ela já colocava uma grama para florescer no chão de seu desfile – literalmente! Mas algo também nascia ali figurativamente, a sua própria carreira florescia, com respeito ao que aprendeu, mas empenhada com o novo.
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