Paula Raia mistura passado e presente em busca de um futuro
Com sua coleção de inverno 2023, a estilista deixa clara sua vontade de evoluir – ao seu tempo.
Numa manhã quente de terça-feira (21.03), Paula Raia apresentou sua coleção de inverno 2023, entre muita fumaça e suor, na galeria Jaqueline Martins, no centro de São Paulo. Com nome de Simultaneidades, o desfile se desenrola em cima de noções de temporalidades, percepções, realidades e contextos das pessoas, da natureza, das manualidades, do mundo, de um tudo.
Que o tempo passa não se discute. Como cada um se relaciona com isso já é outra coisa. Desde seu segundo desfile, mais de dez anos atrás, ainda na São Paulo Fashion Week, Paula Raia faz questão de mostrar que, para ela, o compasso segue o ritmo natural das coisas, bem diferente da aceleração imposta pelos cronômetros digitais da última geração. Daí o caminhar lento e tranquilo de suas modelos – em todas as apresentações.
É uma filosofia de vida, um estilo, ideal, crença, espiritualidade. É também um grande privilégio – da estilista, da marca e das suas clientes. Sem julgamentos. São poucas as grifes nacionais que podem se dar o luxo de trabalhar com prazos não tão curtos e produção limitada. Na passarela e nas lojas – numa proporção adaptada para a realidade comercial e de usabilidade –, cada detalhe é considerado com muito esmero: cores, texturas, modelagens, costuras, caimento, volumes, bordados, silhuetas e tecidos. Nada mais justo do que receber os aplausos finais juntos às costureiras e outros profissionais, muitos deles há anos com a estilista.
Foto: Marcelo Soubhia | @agfotosite
Foto: Marcelo Soubhia | @agfotosite
Mesmo em ritmo sob medida, o tempo passou para Paula Raia. Esta é a terceira temporada que a estilista se permite explorar outros materiais, com impacto direto na sua imagem, até então, bastante considerada – para não dizer controlada. Na verdade, a impressão é de que o controle deixou de ser tão rígido, e os riscos, agora permitidos, são bem-vindos.
Melhor exemplo são os tecidos metalizados e os acetinados estruturados, como o tafetá. Desde o inverno 2022, a marca incorpora tais materiais no seu repertório, antes dominado por tramas e fios naturais, na composição e no aspecto. Nem sempre é tranquilo. Styling e beleza não têm ajudado. De vez em quando, o resultado é pesado demais, difícil de visualizar fora da passarela, com proporção e construção não bem resolvida. Coisa de trabalho contínuo, tentativa e erro.
Foto: Marcelo Soubhia | @agfotosite
Foto: Marcelo Soubhia | @agfotosite
Foto: Marcelo Soubhia | @agfotosite
Ainda assim, é interessante acompanhar esse processo. Observar como silhuetas e volumes tão associados à etiqueta, como os basques, os ombros arredondados, as cinturas delineadas, os comprimentos alongados, são adaptados para uma nova ideia, uma outra vontade.
No desfile, rola um mix de referências e elementos de roupas antigas, dos séculos 16 e 17 até as calças tracking matelassadas da recente obsessão esportiva e street. Rola também um pot-pourri de vários momentos criativos de Paula Raia. Não por acaso, os melhores são os que misturam todos eles numa equação complexa e talvez inconsciente, com um pouco de tudo e nada demais nem de menos.
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