Regina Guerreiro por 31 profissionais da indústria
Conversamos com editores, fotógrafos, modelos, estilistas, figurinistas, jornalistas, designers, professores e amigos para entender a dimensão da importância de Regina Guerreiro na moda nacional.
Regina Guerreiro é um acontecimento sem precedentes. A jornalista e editora cavou, com as próprias mãos, ideias e humor, o caminho da criação de imagem e de texto de moda no Brasil, em uma época em que o assunto era tratado de forma boba e supérflua. E Regina é brilhante nos dois.
Nascida em 1940, em São Paulo, ela estudou na Faculdade Cásper Líbero e começou sua carreira na área policial do Jornal do Brasil. Se apaixonou por moda quando acompanhou uma sessão de fotos pela primeira vez. Até aquele momento, para ela, as imagens não tinham o mesmo peso que as palavras.
Como jornalista, com língua afiada, foi temida pelos seus reviews de desfiles e coleções. Criou um léxico próprio e sabia criticar na mesma medida em que elogiava, quando preciso. Como produtora de imagens, contou histórias através da roupa, da maquiagem, da foto – muitas destas fotografias foram impressas nas páginas da ELLE Brasil, na sua época como diretora da revista nos anos 1990. Ainda revelou nomes como o do stylist Paulo Martinez e o do fundador do São Paulo Fashion Week Paulo Borges, lançou o livro Ui!, em 2012, e teve sua própria agência de moda, a Choc (uma brincadeira com as palavras chic e choque).
Atualmente com 84 anos, está prestes a receber uma exposição em sua homenagem durante a próxima SPFW, que acontece dos dias 16 a 21 de outubro. A seguir, 31 profissionais da área comentam a importância de Regina Guerreiro.
Airon Martin – estilista da Misci
Regina Guerreiro não deixa de ser uma lenda viva da moda nacional. Ela faz parte de uma geração de moda que é muito diferente da minha. Se pegar algumas entrevistas, lemos como anacrônico, mas a história está escrita. Regina foi vanguardista, pioneira nos editoriais de moda como vemos hoje, trouxe um olhar crítico e apurado do qual estamos carentes.
Regina falou uma vez sobre a melancolia do consumidor brasileiro em torno das referências externas, esquecendo de olhar para dentro. Podemos dizer que ela foi um marco para a moda e para o jornalismo com um olhar que descentralizava o eurocentrismo, mas com um humor que perdemos, no tempo em que as pessoas ouviam críticas e liam mais, ao invés de se informar apenas pelas redes sociais.
Alberto Hiar – diretor criativo e fundador da Cavalera
A moda deve muito a Regina Guerreiro, porque ela fez com que cada estilista evoluísse com suas críticas implacáveis. A Cavalera sempre se preocupou com sua língua afiada, mas conviver com Regina foi um privilégio, principalmente quando ela fez parte da campanha da Santa Ceia, em agosto de 2012, e da série no YouTube que se chamava ENJOY. Ela é a nossa rainha da moda!
Alexandre Herchcovitch – estilista
Regina tem grande importância na moda brasileira e no início de meu trabalho. Conheci Regina Guerreiro através do Paulo Martinez, os dois na revista ELLE. Isso foi em 1991/92, por aí. Levei algumas roupas para ela ver e ela, sem papas na língua, falou que não eram para a revista, eram muito ousadas, porém, encomendou algumas roupas estilo anos 1970 para um editorial que iam fotografar. Saí da redação, corri e fiz sete peças que não tinham muito meu estilo, mas eu queria ver minhas peças publicadas na revista ELLE. Ela fotografou e publicou algumas delas. Fiquei mais próximo dela e sempre que ela podia me passava alguns convites de desfiles em Paris que ela não iria. Entrei em vários desfiles com nome de Regina Guerreiro.
Arlindo Grund – jornalista de moda
Desde que comecei a trabalhar com moda, lá em Recife, no início dos anos 1990, o nome dela era recorrente. Temida, amada. Talvez pela sua autenticidade, pela sua excentricidade. Mas uma coisa ninguém pode questionar, Regina Guerreiro é uma referência. Sua história foi e é costurada com a da moda, com pontos fortes, quase uma trama. Moda é Regina. Regina é moda!
Bob Wolfenson – fotógrafo
A Regina foi a minha precursora, digamos assim, como fotógrafo de moda. Fui morar em Nova York nos anos 1980 e não tinha nenhuma formação de fotografia de moda antes de viajar. Quando fui para lá, trabalhei como assistente de um fotógrafo de moda e, quando voltei, a Regina me deu um trabalho na Vogue em que eu precisava fotografar umas pessoas da moda, mas com modelos junto. Era um misto entre retratos e moda.
Fiz aquilo e comecei a minha carreira de fotógrafo de moda. Durante muitos anos, na Vogue, ela era a nossa papisa da moda. Eu tinha um grande anseio de fazer trabalhos de moda, mas puramente de moda, que não fossem esses híbrido entre retrato e moda, e acabamos fazendo algumas coisas.
Eu não era o fotógrafo predileto dela, mas cavei minhas brechas. São trabalhos que até hoje, 30 ou 40 anos depois, duraram. Regina tinha uma coisa cênica muito forte, muitas ideias teatralizadas, então a gente se encontrava nesse espaço.
Sempre vi a Regina muito rigorosa com os que trabalhavam com ela e muito rigorosa no trabalho. Ela era perfeccionista, essa é a palavra. Tinha que ser daquele jeito e era, porque ela tinha um poder muito grande de persuadir as pessoas.
Carla Raimondi – editora de moda
Moda sempre foi um assunto sério para ela, que demandava muito trabalho e muita paixão, uma entrega de 100%. Regina fez com que o jornalismo de moda acontecesse no Brasil, alinhando sonho com informação e provocação, entregando soluções para quem fosse ler a matéria ou ver o ensaio. Dizia que quem estava em uma revista tinha o dever de informar, se fazer entender e estar sempre um passo à frente. Sabia que o papel da moda na vida das pessoas e no mundo vai muito além da roupa: tem a ver com comportamento, transformação cultural e representação, mas para isso, elas precisam entender e não apenas ver. Educar tem muito a ver com ela. Sim, Regina encorpou e sacudiu a moda nacional.
Celso Kamura – beauty artist
Regina é a editora mais babado que já existiu no Brasil. Era a pessoa mais reconhecida no mercado quando comecei a trabalhar com moda. A palavra dela validava toda uma coleção. A gente sempre ficava esperando a opinião dela em relação aos desfiles, para saber se ia ser sucesso ou não. Regina foi uma profissional moderna, detalhista, criativa, ousada e muito, muito chique.
Ela educou toda uma geração de profissionais de beleza e de moda, ela entendia muito do assunto, e a sinceridade dela nos deixava melhores no que a gente fazia. Sempre esteve à frente do seu tempo, ela era muito reconhecida, respeitada e também muito temida. Ninguém queria fazer algo errado com ela no comando. Tenho muito orgulho de ter trabalhado com ela e muito orgulho dos trabalhos realizados com ela no comando.
Regina, you rock!
Clayton Carneiro – diretor de arte
Regina Guerreiro jamais se vendeu. Suas críticas duras e afiadas demonstravam que, para construir uma marca e evoluir, era necessário ouvir certas verdades, por mais dolorosas que fossem, a fim de evoluir – ninguém nasce pronto.
A Re sempre analisou as marcas nacionais com um olhar crítico, não por prazer em depreciar, mas para impulsioná-las a melhorar a cada coleção. Nunca teve medo de falar a verdade, nunca se rendeu a conveniências. Mesmo sendo amiga de muitos estilistas, fazia questão de avaliar cada coleção com imparcialidade e colocá-la em seu devido lugar.
Somente uma pessoa visionária, à frente de seu tempo e com sólido conhecimento poderia fazer o que ela fez. Esperava que as marcas fossem verdadeiras, ousadas e autênticas. Seu legado é, sem dúvida, a coragem de não se vender.
Costanza Pascolato – consultora
Conheci a Regina nos anos 1970 e ela foi a melhor image maker de moda deste país, numa época em que as revistas marcavam uma nova indústria que estava nascendo. Lembro que estava começando e ninguém queria me chamar para trabalhar. Todo mundo achava que eu era uma dondoquinha. Fui pedir emprego para Regina e ela me recebeu muito gentilmente. Depois, disse: “Você acha que vou contratar alguém que se veste de Saint Laurent?”. Eu respondi: “Você quer que eu vista o que? Visto qualquer roupa para trabalhar com você”. Tenho o maior respeito por ela e pela personalidade que ela tem.
Regina Guerreiro. Foto: Reprodução
Dudu Bertholini – stylist e estilista
Quantos adjetivos cabem para falar de Regina Guerreiro? Olha, é impossível dizer, impossível contabilizar, porque são muitos. Corajosa, audaciosa, sagaz, autêntica, única, maravilhosa, ácida, tirana, legendary, iconic e, acima de tudo, inesquecível. Quando a gente fala de moda num mundo cada vez mais efêmero, cada vez mais fugaz, cada vez mais rápido, ser inesquecível é um grande atributo, é uma grande qualidade. E isso se dá muito pela coragem que a Regina sempre teve de ser quem ela é, de se posicionar, de manifestar o que pensa.
Muito mais do que reivindicar o certo ou errado, ela reivindica a opinião dela, o olhar dela, do qual nunca abriu mão. Regina nos convida desde sempre a assumir quem somos, nossas luzes, nossas sombras, a abraçar a nossa autenticidade. Isso é uma lição muito poderosa. Ela também nos ensina a nos posicionar, mas a nos posicionar com fundamento, com consciência, com ponto de vista.
Eu acho esse paradoxo da Regina lindo: saber sempre mergulhar nas profundezas, mas saber tomar um fôlego na superfície, entre uma boa gargalhada, sem nunca perder o senso de humor.
Daniel Hernandez – beauty artist
Quando comecei a trabalhar, a Regina era a diretora de moda da ELLE. No set, quem mais ia era o Paulo Martinez. Todo mundo tinha aquele respeito/medo dela. Com o tempo, em 1992, ela começou a ir mais nos sets e fui conhecendo ela melhor. Ela sempre gostou de mim. Fiquei mais próximo dela e depois viramos amigos mesmo. Eu ia na casa dela cortar o cabelo, ela vinha na minha. A Regina fazia e acontecia, né? Ela sempre foi criativa ao extremo.
Fabio Paiva – figurinista e stylist
Comecei a trabalhar com a Regina em 1992, quando ela assumiu a ELLE na equipe do Paulo Martinez. Era uma loucura trabalhar com ela! De repente, apareciam livros na minha mesa, eu perguntava pela redação quem tinha colocado eles lá. Só depois de algum tempo, em reunião de pauta, ela começava a fazer perguntas sobre os assuntos do livro. Era a maneira dela entender se a pessoa se interessava mesmo por moda. Sou grato até hoje por isso. Isso fica pra vida!
Giovanni Frasson – publisher e editor-chefe da Numéro Brasil
O meu início de carreira foi com duas editoras anteriores a ela, mas foi muito rápido. Em 1987, ela me convidou para fazer parte do time da Vogue e eu fui. O que posso dizer? Ela foi a precursora de tudo, eu aprendi muita coisa com ela. Ela realmente tem um HD gigantesco. Ela consegue passar conhecimento e ensinar de uma maneira muito rápida. Ela é uma pessoa muito inteligente. Aprendi a entender essa inteligência que eu também tenho, mas não sabia utilizar com ela. Trabalhei com ela de 3 a 4 anos. E faria tudo de novo! Se tivesse que começar com ela agora, eu começaria. Uma grande parte do que construí na minha vida, aprendi sendo um assistente da Regina Guerreiro. Ela é dona de um olhar e de uma sofisticação muito apurados.
Gloria Kalil – jornalista e empresária
Eu e Regina Guerreiro íamos juntas para o colégio no ônibus escolar. Ela era de algumas classes acima de mim, então conheço essa figura há muito tempo. A Regina foi uma pioneira e uma mestra na criação de imagens de moda. Ela sempre teve um sentido muito forte, quase cinematográfico, da moda. Ela fazia com que as roupas fossem contextualizadas em uma situação, em um ambiente, uma ideia viva da moda que ela estava mostrando. Lembro de um editorial que era uma disputa de calças e saias em uma manifestação na rua. Ela sempre foi muito forte na construção de imagens.
Gloria Coelho – estilista
Regina Guerreiro é muito talentosa e escreve igual ao poeta que sente. Ela já fez matérias elegantes, engraçadas e geniais. Contribuiu muito para a história da moda do Brasil.
João Braga – Professor de História da Moda da FAAP e membro da Academia Brasileira da Moda
Regina Guerreiro, ícone do jornalismo de moda nacional e membro da Academia Brasileira de Moda ocupando a Cadeira N° 12, é referência quando o assunto é documentar, analisar e escrever sobre moda. De perspicácia e inteligência inconfundíveis, Regina tem identidade própria nos seus textos, sejam os bem humorados ou aqueles mais intensos.
Respeitada na mídia de moda e entre o público em geral, Regina não se limita somente a documentar os acontecimentos do setor mas, especialmente, em legitimar novos nomes com seu incontestável crivo, além de relembrar a moda pretérita com tanta propriedade e vivência únicas que é capaz de nos inserir no onírico mundo fashion de qualquer época, sendo uma profunda conhecedora da História da Moda. Verdadeiramente uma rainha, conforme seu próprio nome a define e a legitima.
Lenny Niemeyer – estilista
Regina sempre foi um ícone da moda e bastante relevante nas críticas dos desfiles. Aprendi muito com o que ela falava. A Regina era um slogan dentro da empresa, porque todo mundo morria de medo dela e eu, como iniciante, também morria. O Claudinho Barreiras, que trabalhou comigo a vida inteira, brincava falando: “Olha que a Regina Guerreiro não vai gostar disso”! Me lembro bem disso. Depois de um tempo, encontrei com ela e falei: “Ah, Regina, não acredito que estou te conhecendo. Me diz onde foi que eu errei”? Ela falou: “Você não errou nada, Lenny, tá tudo impecável”. Eu fiquei muito feliz.
Lilian Pacce – jornalista e apresentadora
E a gargalhada da Regina? Ela sintetiza bem sua personalidade: intensa e provocadora. A Regina sempre foi fora da curva, lançando mão de toda liberdade, ousadia e licença poética que sua época permitiu. Muitos de seus textos, atitudes e imagens, hoje, seriam altamente polêmicos ou mesmo condenáveis. Mas na maioria das vezes, eram primorosos. Ela, aliás, adorava uma polêmica (será que adora ainda?), não hesitando em se manifestar com sua sonora risada. Um dia ela me disse algo assim: “Interessante que eu sou da guerra e você é da paz (pace em italiano)” – e soltou a tal gargalhada.
Lucas Boccalão – diretor de moda da ELLE Brasil
O que sempre penso e comento sobre a Regina é que ela é a única editora de moda que eu conheço que tem o mesmo talento tanto para o texto quanto para o styling. Ela é a única que faz os dois da mesma maneira, com o mesmo brilhantismo, força e relevância. Isso é muito raro.
Lu Curtis – modelo
Tive muita sorte porque, quando eu comecei, eu caí nas graças da Regina. Na época em que ela estava na ELLE, o Paulo Martinez fez um casting comigo, gostou de mim e me colocou na revista. Graças a ele, a Regina também gostou de mim e foi uma escola maravilhosa ter trabalhado com ela o tanto que trabalhei. A Regina é uma enciclopédia da moda, né? A gente também morria de medo dela, as modelos todas. Ela impunha um certo respeito, sabe? Mas sempre fui muito grata pela oportunidade de trabalhar com ela. Aprendi muito sobre moda, sobre postura, sobre várias coisas.
Luigi Torre – diretor de reportagem de moda da ELLE Brasil
Uma das grandes qualidades da Regina, além da criatividade, era o não-conformismo. Foi um atributo essencial para romper os padrões e limites de uma imprensa de moda, então, ainda muito incipiente – e de todos os profissionais envolvidos na área.
Marcell Maia – stylist
A existência de Regina é de suma importância para o nosso mercado de moda. Ela é a nossa primeira grande editora. A história e o legado dela – construído também para gerações futuras – são muito importantes.
O meu maior fascínio pelo trabalho da Regina é porque ela tem fashion passion, ela é uma mulher muito apaixonada por moda. Então ela ia até o limite para conseguir construir a imagem mais incrível. E isso é muito inspirador para mim, que trabalho com imagem também. Sou superfã.
Mario Mendes – jornalista de moda
Regina Guerreiro, antes de mais nada, é uma força da natureza. A Regina é pequena por fora, mas grandiosa por dentro. Além de ter uma bagagem cultural muito grande e um conhecimento de moda enorme, Regina sabe tudo de técnicas de costura, de tecidos, de materiais. Ou seja, ela conhece profundamente o ofício dela. É polêmica? É polêmica. Mas Regina Guerreiro é daquelas pessoas em que brilha a faísca do gênio. Regina realmente é genial, não tô exagerando não. A conheço muito bem. Ela tem um olhar para as coisas muito afiado, vê as coisas antes das pessoas, ela tem uma visão nada careta da moda, nada conservadora. E ela sabe quando realmente é uma inovação, quando está empurrando a moda para a frente. Não só artística, mas comercialmente – a Regina tem essa visão também, que acho que falta em muita gente. Eu digo, sem a menor sombra de dúvidas, que Regina não é apenas a maior jornalista de moda do país, é uma das grandes jornalistas brasileiras.
Regina Guerreiro. Foto: Clayton Carneiro
Oskar Metsavaht – estilista da Osklen
Conheci a Regina no backstage de um desfile da Osklen, aqui no Rio de Janeiro, no final dos anos 1990, quando eu ainda estava tentando compreender o meu lugar como criador de moda. O nome Regina, de origem latina, significa rainha e está associado a qualidades como nobreza, poder, liderança, elegância e autoridade. As pessoas com esse nome são frequentemente descritas como determinadas, confiantes e de personalidade forte. Também são conhecidas por serem capazes de comandar e inspirar os que as rodeiam, e por serem admiradas por sua capacidade de tomar decisões assertivas. O próprio dicionário já nos faz perceber como Regina faz jus a seu nome e reforça como regeu a moda brasileira com uma potência de guerreiro através de um olhar generoso e preciso.
Lembro de seu primeiro texto sobre um desfile meu, ainda no início dos anos 2000, na sua incrível Moda Caras, onde decifrava as coleções de cada marca e designer com sua elegante e potente forma crítica de construir cada um de nós. Não poupava críticas a erros nem elogios a acertos. Digo que compreendi o porquê de seu reconhecimento como editora e jornalista de moda pela síntese que fez do meu estilo e conceito para a Osklen através da observação de detalhes conceituais muito íntimos meus e que não estavam no release ou explícitos nos looks.
Percebi naquele dia a magia que havia na sua arte de observar e escrever, uma inteligência associativa permeada por uma cultura vasta que lhe permitia textos riquíssimos em críticas e elogios sinceros, exigentes e incontestáveis. De um valor inestimável a nossa formação como criadores. Seu crivo reinava e continua reinando para todos os profissionais de moda como um toque real a quem merece.
Regina nos fez sermos melhores a cada texto.
Paulo Martinez – stylist
Fui assistente da Regina na Vogue por muitos anos e, quando ela saiu da Vogue e montou um escritório de moda, eu fui junto. Depois, na ELLE, quando ela foi diretora de moda, eu fui o editor. Foram muitos anos. A Regina me ensinou muitas coisas importantes. Me ensinou, principalmente, como editar uma matéria, um desfile, o que precisa para criar fotos de encher os olhos. Ela me ensinou como transmitir o recado que a roupa pode dar dentro da matéria, da foto ou do desfile. Um raciocínio mesmo, sabe? Contar a história que você planejou com a roupa, era um olhar muito autoral e particular.
Paulo Borges – fundador da SPFW
Estou na moda por causa da Regina Guerreiro. Ela não me contratou porque eu tinha talento, ela me contratou por falta de talento, por falta de conhecimento, de conexão com as pessoas, por eu ser um menino jovem do interior, que tinha que estar 100% disponível a ela. E eu me apaixonei por ela. Tudo que eu aprendi, aprendi com ela. E estando próximo agora, muito mais próximo, percebo que somos muito iguais. As minhas chatices, o meu rigor com tudo, a minha observação dos detalhes, a minha maneira de pensar moda, mais ampla, é tudo dela.
Ela é a primeira mulher que, nos anos 1960, resolveu que moda não era fútil, não era coisa de cozinha, nem de receita de bolo. Foi ela que pavimentou um caminho de jornalismo que cria imagem, escreve, critica, dá opinião, faz reflexão. As pessoas precisam entender que há uma estrada que já foi pavimentada, que hoje está mais fácil, exatamente porque essa estrada foi construída. E ela começou com a Regina.
Patricia Carta – publisher e diretora editorial da Carta Editorial
Regina Guerreiro é chic, chec, choc! À frente do seu tempo, Regina sempre teve estilo extravagante, ácido, desconcertante. Brincava com as palavras e com as imagens na criação de editoriais mirabolantes, de uma complexidade que não existe mais. Modificava silhuetas, revolucionava looks. Muito mais do que jornalista e editora de moda, era também diretora criativa, quando o termo ainda nem existia no meio. De quebra, também foi precursora de projetos comerciais inovadores. Perfeccionista, conhecia todos os tecidos, os shapes, as mais variadas nomenclaturas, origem das peças e a história da moda, que, no Brasil, ajudou a construir. Incansável, apaixonada e autêntica, Regina é um marco na moda nacional e, por sorte, na minha vida também. Ui!
Reinaldo Lourenço – estilista
Regina Guerreiro é o princípio de quem sabe fazer imagem na moda brasileira. Ela tinha um superolhar para styling e direção artística. Ela tinha criatividade, audácia, uma personalidade muito controversa. Lembro de ir na casa dela e ficar impressionado com o tom do verde na parede e o sofá Man Ray em formato de boca. Achava tudo muito chic. Gosto de pessoas excêntricas como ela.
Shirley Mallmann – modelo
A Regina é como uma fada madrinha para mim. Ela apostou numa menina recém-chegada do Rio Grande do Sul e me deu a incrível oportunidade de estar na capa da ELLE. Que sorte a minha! Foi o começo da minha carreira e sou eternamente grata pela sua visão, seu talento e seu apoio. Sou fã de carteirinha dessa mulher incrível.
Susana Barbosa – publisher e diretora editorial da ELLE Brasil
Regina é brilhante. Foi uma desbravadora. Uma antena em tempos analógicos, quando tínhamos pouca informação disponível. Sempre trabalhou pela moda com paixão e entrega – que é o que move quem realmente ama moda e arte. Eu admiro a Regina pela sua inteligência, cultura, perspicácia, humor ácido, criatividade, irreverência, espírito subversivo e coragem de ser verdadeira, doa a quem doer. Não sei se há mais espaço para nascer uma Regina Guerreiro no mundo hoje, portanto sou grata por ter começado minha carreira em um tempo em que ela estava na ativa. Meu sonho era ter sido assistente dela, mas isso não aconteceu por um descompasso do tempo. Ainda que nunca tenha trabalhado diretamente com ela, foi através de tudo que ela criou nos seus tempos de ELLE que me senti inspirada a escolher esse caminho.
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