Semana de moda de Milão: Bottega Veneta verão 2024

Se tem uma coisa que os italianos sabem fazer bem é entender o valor do feito à mão como um objeto de luxo. E essa informação é importante para entender a Bottega Veneta e, principalmente, a coleção de verão 2024, desfilada na semana de moda de Milão. 

Matthieu Blazy, o diretor criativo da casa italiana, fez uma coleção com cara de viagem. Em alguns momentos, a vibe era litorânea, em outros, tinha um jeito de floresta. Mas, de forma geral, soava como uma aproximação com a natureza, mas não de um jeito literal. 

As bolsas eram bem grandonas, como que para carregar um pedaço da vida, e o styling também ajudava nessa ideia de viagem, com uma imagem mais despojada das calças e regatas desabotoadas, parecendo que alguém esqueceu de terminar de fechar o look e partiu pra orla. 

Bottega Veneta, verão 2024. Fotos: Getty Images

Nas roupas, tudo começou com essa ambiguidade. Um macaquinho preto rente ao corpo, com cara de maiô dos anos 1920. E, logo depois, uma alfaiataria austera. Aí vinha uma camisa branca com calcinha. E então outro look de alfaiataria. Só depois que esses mundos opostos foram se encontrando. E isso aconteceu por meio do artesanato.

Vale lembrar aqui que a Bottega é a casa que, principalmente durante a década de 1970, ganhou o mundo por essa expertise: trabalhar artesanalmente com o couro, de um jeito impecável. Ela ficou conhecida, por exemplo, por ser a dona do intrecciato, tiras de couro dispostas de tal maneira a virar uma trama. E ele está presente principalmente em bolsas e sapatos, virou uma assinatura da casa.

E essa história de trabalhar com o material, com as próprias mãos, se tornou uma obsessão do Mathieu Blazy. Isso, a ponto dele fazer até mesmo coisas que enganam os olhos. Nas últimas temporadas, criou até roupas de couro que pareciam jeans, camisa de algodão e malha. 

Nessa coleção, porém, o artesanato presente no processo virou também objeto de pesquisa, o tema. Pense, por exemplo, nas raízes do intrecciato. Nós, brasileiros, conhecemos bem as cestarias com folhas e palhas. E alguns sapatos traziam essa referência bem clara. Em outros momentos, a mesma técnica surgia repensada, refinada, como no desenho de linhas perpendiculares em tricôs de fios com cores contrastantes, criando um padrão.

Bottega Veneta, verão 2024. Fotos: Getty Images

O casaco ou saia, por exemplo, tinham uma barra inteira de franjas parecendo ráfia. E o artesanato também estava nas texturas mil, nos detalhes que lembram acabamentos de rendas e também nas modelagens como as de um poncho ou uma túnica. É esse trabalho com a mão, único, que encantou com pompons os vestidos de rede, ou torceu em camadas de tecidos alguns dos looks finais. 

O resultado parece com o de um olhar estrangeiro, menos de apropriação e mais de memória do que se viu do mundo e ficou. Não é uma reprodução, mas uma edição do vivido por aquele que viveu. E  isso é o que quebra a austeridade dessa roupa base. Por que, afinal, ali embaixo está um guarda-roupa preciso de camisa, calça, jaqueta e vestido. 

Bottega Veneta, verão 2024. Fotos: Getty Images

São itens básicos, ou melhor, roupas do cotidiano, mas nada simples, porque emocionam, ainda surpreende o olhar. E, principalmente, fazem sentido existirem, argumentam a seu favor. Uma resposta consistente para essa ideia de quiet luxury que foi banalizada a ponto de querer vender mais e mais roupinha sem espírito, sem uma viagem. 

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