Semana de moda de Milão: Prada verão 2024
Prada apresenta o seu contínuo estudo sobre praticidade e ugly chic no verão 2024, desfilado na semana de moda de Milão.
É quase um costume da Prada carregar um pouco de sua última coleção para apresentação seguinte. E isso aconteceu com o verão 2024 feminino da casa italiana, desfilado neste terceiro dia de semana de moda de Milão, (21.09), que ecoou o verão 2024 masculino, desfilado em junho deste ano.
O primeiro elemento, fácil de identificar, é o cenário com jeito industrial. Com cores mais doces, ele tinha aquele mesmo chão de grade metálica do desfile masculino e o tal do líquido gosmento escorrendo do teto, que viralizou nas redes sociais. E, dessa vez, ele não era verde, e, sim, puxado para um violeta.
Prada, verão 2024. Fotos: Getty Images
Mas também veio um pouco da roupa daquela coleção masculina. Ou melhor, veio principalmente a silhueta. Naquele desfile, a dupla por trás das criações Prada, Miuccia Prada e Raf Simons, afirmou ter redesenhado a alfaiataria para os dias de hoje, pensando principalmente no contraponto entre peso e leveza, e tendo como referência o trabalho de artistas plásticos como Joseph Beuys, alemão conhecido pelas performances e que tem entre suas obras mais famosas “Terno de Feltro”, de 1970, que consiste exatamente em um conjunto de terno de feltro cinza.
Beuys discutia, entre outras coisas, a noção de uma América opressora com suas obras, mas gostava mesmo de colocar a materialidade dos seus trabalhos em evidência, como o próprio feltro ou até mesmo a gordura animal. E aí a gente pode discutir em outro momento as sutilezas dessa inspiração, mas o que importa aqui é que o artista mexe com essa dupla apaixonada pelo exercício de construção, pelo material com o qual trabalha, essa dupla que tem uma dedicação completa à roupa, à beleza (ou estranheza, como Miuccia prefere) e ao processo.
Prada, verão 2024. Fotos: Getty Images
Em resumo, ambos, Miuccia e Raf, chegaram a esse blazer de ombro marcado, mais sobressalente no topo, com uma cintura muito contida, principalmente pelo uso de um cinto, e com um shorts na parte de baixo, deixando as pernas à mostra. Faz pensar que é como rever a alfaiataria sem ter que se preocupar com códigos restritos de gênero ou qualquer outro tipo de amarra da indumentária convencional, pensando mais na mobilidade do corpo ou no desenho que se quer dar a ele. E, sim, esse corpo é bem magro, vale dizer, mas isso é mais uma conversa para outra hora.
Daí que esses mundos masculinos e femininos, entre outras dualidades, vão se misturando nessa coleção. Vestidos em tubo, bem retos e que vão até a altura do joelho aparecem flutuando no ar, com faixas translúcidas aplicadas sobre eles e que mexem de um jeito meio fantasmagórico, levemente gelatinoso. Do outro lado, casacos de jeitão bem americano, feitos de jeans, sarja ou couro enrijecem tudo.
Camisas de franjas trazem movimento, enquanto que a saia lápis, mais séria, ajuda a puxar esse clima de anos 1950 que fica no ar. Tem o ultradecorativismo dos brilhos que apazigua a austeridade, mas também as bolsas com acabamento desgastado e o utilitarismo dos coletes.
Prada, verão 2024. Fotos: Getty Images
Prada, verão 2024. Fotos: Getty Images
A paleta sóbria de cinzas e pretos vibra com cores mais ácidas que vêm principalmente dos acessórios. E o styling, aliás, é menos minimalista do que as últimas temporadas. Está mais cheio, com direito a cintos, faixas na cabeça e sobreposições — coisa que fãs de uma boa e velha Prada adoram.
E já faz três anos que essa dupla está aí, mas segue inevitável não brincar de tentar descobrir quem colocou o que na passarela: tem a tensão cinematográfica de Raf, aquele cabelo molhado bem típico de Miuccia. Mas eles mesmo já disseram que esse jogo é em vão, poucos acertam, existe uma admiração mútua entre as colaborações. O bom é que apresentação após apresentação essa simbiose tem construído coleções cada vez mais memoráveis.
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