Comemorando 10 anos de marca, Simone Rocha aborda maternidade em desfile

Estilista irlandesa mergulhou nas angústias e belezas de dar à luz, em apresentação que celebra uma década de carreira.


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Fotos: Divulgação



O desfile da coleção de verão 2022 de Simone Rocha não só celebrou sua volta às apresentações presenciais, como também os 10 anos de sua marca homônima.

Para uma ocasião tão especial, a designer resgatou as memórias de um momento igualmente único: quando deu à luz a sua segunda filha, Noah Roses, durante a pandemia — a criança, inclusive, estava no desfile, acompanhada dos avós na primeira fila.

Em uma catedral medieval, mais especificamente a Igreja de São Bartolomeu, em Londres, ela desfilou os seus típicos vestidos volumosos, agora acrescentados de memórias da maternidade.

Do sutiã de amamentação saiu a ideia para tops com recortes na altura dos mamilos. Alguns vestidos podiam ser completamente abertos na parte da frente. O ritual de alimentar o recém nascido também foi recuperado pelo styling, como nas malhas desvestidas em um abraço, para que um dos seios ficasse livre.

A modelagem trouxe uma série de referências maternas e infantis, como as golas em formatos arredondados, tipo dos babadores, além dos tecidos de lençol, com ar de enxoval. Houve ainda espaço para lapelas aumentadas, conjuntos de pijama e lingerie à mostra, como quem mal dormiu e teve que levantar para acudir o filho.

A cerimônia de batizado também foi lembrada, principalmente nos looks curtos, como as vestes antigas de crianças em comunhão.

Rendas, bordados ingleses e muitas camadas de tule foram os responsáveis por gerar texturas riquíssimas. Como se não bastasse, as saias ainda ganharam pérolas nas barras. De acordo com a designer, foi um esforço para criar detalhes, algo que faz valer a pena uma apresentação presencial.

A paleta de cores se manteve no branco, preto, vermelho e em alguns tons de rosas, só que mais cabisbaixos do que o da coleção anterior, de inverno 2021. Agora, elas pendem para um lilás.

Toda essa delicadeza foi usada com coturnos ou sapatos plataforma e botas de vinil com amarração para muito além do joelho. Algumas sapatilhas também deram as caras (lembrando que elas não morreram, apesar de muita gente achar cringe), bem como a tiara-coroa, as meias bordadas e a fita de cetim negra amarrada no tornozelo.

O início de um novo ciclo, que é uma vida, casou bem com a ideia de renascimento que tantos desejam com o pós-pandemia. Mas parir não é um momento exclusivamente de plenitude.

No meio da apresentação tocou Superstar, dos Carpenters, reforçando o que muitos já estavam sentindo com a coleção: há também um certo abatimento. A aptidão de Simone Rocha em unir signos entendidos como ultrafemininos dentro de um contexto também duro, assustador ou melancólico, não deixou de fazer presença.

As jaquetas de vinil lembram que ser mãe é punk. As modelos vão ficando, com o tempo, cada vez mais desarrumadas. A tira do vestido cai no ombro, a malha é usada de um jeito desencontrado. O desconforto, a insônia, os descompassos hormonais, a angústia estão tudo ali. Fora algumas lembranças doídas do parto, como as gotas de sangue que viraram bolsas de mão.

A estilista mostra com sua coleção de aniversário que a sua facilidade em juntar força e delicadeza se refina a cada temporada.

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