Seriam os recortes pélvicos a nova barriga de fora?
Direto dos anos 2000, as fendas e recortes na altura dos ossos da bacia ganham força nos desfiles internacionais, mas recebem um upgrade de celebração de todos os tipos de corpos nas ruas e redes sociais.
Depois da barriga de fora, dos recortes na cintura e dos decotes cada vez mais diferentões, com buracos nos ombros e no colo, chegou a hora de mostrar a pélvis. Quer dizer, chegou a hora mostrar a pélvis de novo. É que a tendência das peças com aberturas na altura dos ossos da bacia já foi hit no começo dos anos 2000. E, como vocês sabem, o estilo da virada do milênio ou Y2K é uma das principais referências de moda no momento.
Foi nos desfiles de verão 2021 que os recortes pélvicos voltaram a dar as caras. Nessa temporada, a Versace virou notícia ao incluir três modelos mais curvilíneas na sua passarela – algo inédito para a marca, conhecida pela exaltação de corpos extremamente magros e esguios. Uma delas é Jill Kortleve, que vestia uma saia com uma abertura logo abaixo do cós e uma das laterais da peça.
Em versões mais e menos ousadas, também o vimos nas coleções de Dion Lee, Cult Gaia e Jonathan Simkhai, só pra citar alguns. E a forma de mostrar a pélvis varia bastante de um para outro. Tem quem imite o combo cintura baixa e calcinha asa delta em uma só peça, outros recortam formas geométricas bem perto um pouco abaixo do quadril, e há quem faça aberturas discretas nas laterais abaixo do cós, como já citado.
Bella Hadid.Foto: Getty Image
Não demorou para várias celebridades aderirem à moda. Em junho, Kim Kardashian apareceu usando um vestido de renda com recortes ovais na altura da bacia, em um passeio no Vaticano. Na mesma época, Bella Hadid foi fotografada na rua com uma calça batizada pela internet de “ovarian-cutout” por motivos óbvios. Aqui no Brasil, as cantoras Pabllo Vittar, Duda Beat e Urias também já deram pinta com a tendência, além das influenciadoras Verena Figueiredo e Lívia Facirolli, cada uma à sua maneira.
Versão atualizada
Ainda que nas passarelas, as peças com esse tipo de recorte tenham sido desfiladas majoritariamente por modelos magras, nas ruas e nas redes sociais não é bem assim.
Uma das possíveis interpretações sobre o retorno da tendência tem a ver com algumas vontades acumuladas depois de meses de restrição para o controle e combate à Covid-19. Independente do seu tamanho, mostrar o corpo e a pele virou sinônimo de liberdade, algo que nos foi tirado por tanto tempo. As discussões sobre padrão e o culto à magreza na moda também caminharam desde que a primeira vez que esses recortes apareceram, lá no começo dos anos 2000. Então, nesse retorno, a sensualidade chega mais inclusiva e, por consequência, mais interessante.
Na Panim da Cachorra, neomarca lançada por Mílian Rúbia durante a pandemia, os recortes pélvicos fazem parte do DNA da grife e de sua criadora. Com todas as peças feitas à mão pela DJ e influenciadora, com ajuda do estilista e produtor Nilo Gomes, as saias e vestidos de malha e crochê ganham dose extra de sensualidade e são pensados para todos os tipos de corpos.
“A marca sempre foi a minha cara, ou seja, pecinhas sensuais que valorizam o corpo, para colocar ele para jogo mesmo. Nossa roupa tem essa mensagem, de naturalizar, de mostrar, de ser cachorra”, diz Mílian. “É inegável que eu peguei influência no rolê dos anos 2000. Foi ali que eu me descobri.”
Ao entrar no site de Karoline Vitto, logo aparece a mensagem “acentuando as curvas e celebrando as dobras”, o que diz bastante sobre sua marca. Nascida no Brasil e baseada em Londres, a estilista lançou sua grife de vestidos, bodies e tops recortados em 2020 e já ganhou uma legião de fãs que gostam de mostrar a pele, mas nunca haviam encontrado roupas em seu tamanho para fazê-lo. Suas campanhas demonstram bem isso.
Diferente dos anos 2000, a tendência chega, vinte anos depois, abrindo mais portas para inclusão, autoaceitação e possibilidades. Quem quer apostar nos recortes pélvicos não precisa mais ser magra ou ter os ossinhos da bacia saltados para tal. A mensagem é clara: deixa a pele à mostra quem quer.
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