Românticas, sexy ou conceituais, as transparências mostram versatilidade 

As transparências tomaram as coleções internacionais de verão 2024 revelando mil e uma formas de deixar aparecer


Modelo com conjunto com transparências da Cosmo.
Conjunto de transparências da Cosmo. Foto: Kenny Hsu



Na temporada internacional de verão 2024, alguns tecidos mais revelaram do que cobriram. Diferentes tipos de transparências trouxeram para as coleções não só uma maior sensualidade, algo esperado com o material, como também efeitos menos óbvios. 

Na Prada, por exemplo, as modelos cruzaram a sala de desfile em vestidos de seda com cara de anos 1920 e camadas de organza por cima que davam uma ideia fantasmagórica para a imagem total. A intervenção cenográfica, uma gosma escorrendo do teto, reforçava o toque de ectoplasma. 

Transparências da Prada dão toque fantasmagórico ao look.

Prada, verão 2024. Foto: Getty Images

Simone Rocha usou chiffon para destacar e esmaecer aplicações de flores em suas roupas. As noivas de sua coleção carregavam rosas presas nos vestidos, sobre as quais recaiam tecidos transparentes. Para além de um visual sentimental, levemente nostálgico, a transparência também mostrava a estrutura da peça. 

No desfile da Eckhaus Latta, o logo “EL”, sigla da grife, podia ser visto pela trama nada opaca do tecido. Em certos momentos, as letras pareciam uma tatuagem nos corpos das modelos. 

Transparências nas araras

No Brasil, a Cosmo é conhecida por blusas de tule estampadas que decoram o corpo como uma tatuagem. Trata-se do carro-chefe da marca fundada e dirigida artisticamente por Lucia Hsu, desde 2017. Ela começou com itens de beachwear e, hoje em dia, oferece um leque maior de produtos que, em sua maioria, cobre de forma justa e revela a pele delicadamente. 

Modelo com conjunto de tule da marca Cosmo

Modelo com conjunto de tule da Cosmo. Foto: Kenny Hsu

“A transparência surgiu naturalmente. Deu vontade de trabalhar com o tule como base, de uma forma menos nua.” Após alguns experimentos, a ideia se concretizou. “Naquele momento [durante a pandemia], a gente não estava usando o biquíni em si, mas podia vestir uma roupa que o exibisse por baixo”, explica Lucia.  

Na collab da marca com a C&A, a designer fez questão de que todas as peças feitas com a varejista fossem transparentes e não tivessem forro, assim como é feito nas roupas exclusivas da casa. 

Efeitos mil

É mais fácil associar transparências com modelagens de roupas pequenas. Mas este não é o caso da marca cearense Marina Bitu, conhecida pelas silhuetas amplas e tecidos leves e ventilados de chiffon e organza de seda.

O objetivo das diretoras criativas Marina Bitu e Cecília Baima é criar uma roupa confortável, fugindo de uma padronagem muito justa. “Sempre que eu crio, eu penso no movimento da peça, como se ela tivesse vida própria”, explica Marina Bitu.

E, de acordo com a designer, a transparência é um ótimo recurso para criar movimento. Em sua última coleção na SPFW, vestidos fluídos balançavam pétalas transparentes, criando um efeito translúcido. A intenção com a transparência era a de preencher e não necessariamente mostrar.

Vestido do verão 2024 de Marina Bitu com transparências nas pétalas aplicadas.

Vestido com transparências de Marina Bitu. Foto: Gabriel Ramos

No caso da marca, o que se vê na loja é um reflexo do guarda-roupa das duas estilistas. “A marca é uma evolução da nossa percepção corporal, porque somos duas mulheres grandes que, durante muito tempo, só usaram roupas grandes. Não somos do colado, do pequeno e do vazado.”

Já no usual esconde e revela das transparências, esse é um elemento antigo da moda que varia de tempos em tempos. “Em alguns momentos foi importante cobrir a canela, como na virada do século 19 para o 20, porque era uma indecência mostrá-la!”, explica a professora de desenvolvimento de coleção de moda e de materiais têxteis da FAAP Susanne Dias. “Isso está relacionado ao que uma sociedade considera público e privado”, ela diz. 

Mas existe também uma dimensão individual nessa equação. Por isso, podemos pensar na transparência também como uma forma de compartilhar. E, por esta lente, existe toda uma influência da era digital na contemporaneidade. “Há uma relação com o compartilhamento das redes sociais, as coisas estão cada vez mais visíveis. A reconfiguração das transparências passa também por essa exposição”, opina Susanne. “Por volta de 2018 havia uma tendência de acessórios transparentes, como bolsas e sapatos geralmente feitos de plástico”, afirma a professora. “E o que era carregado na bolsa? Dificilmente se via um absorvente. Havia uma idealização no que é mostrado”, ela justifica.

Camisa transparente da Renner.

Camisa com transparência da Renner. Foto: Divulgação

Se as novas facetas das transparências dão conta de afrouxar amarras sociais é difícil dizer, mas peças do tipo tomam cada vez mais as araras de varejistas como a Renner. Segundo a gerente geral de estilo da empresa, Juliana Frasca, o uso de transparência foi além dos looks noturnos, o que ajudou em seu crescimento. “Com um bom styling, mix e sobreposições, é possível usar até no trabalho ou ambientes mais formais”, ela diz. 

Essas possibilidades chegam para expandir ideias, não restringi-las. Afinal, o jeito usual, em que a transparência dá mais leveza e sensualidade ao look, segue firme e forte. “No meu universo, estou sempre olhando para a alfaiataria e às vezes isso fica muito rígido. Quando trago a transparência, ela traz leveza”, explica o diretor criativo da Apartamento 03, Luiz Cláudio Silva.

Look transparente do verão 2024 da Apartamento 03.

Look com transparência da Apartamento 03 desfilado na SPFW N56. Foto: Marcia Fasoli

“As transparências são como uma janela”, ele diz. E, na marca mineira, ela já foi usada para pensar em volumes, revelar a pele ou criar sombras. Nas mãos de Luiz Cláudio, a transparência já foi plissada ou entrelaçada, chega com possibilidades variadas, e inspiram aqueles que vão usar o recurso para serem tão criativos quanto o designer. 

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