Tudo sobre a última coleção de Virgil Abloh para Louis Vuitton

Desfile aconteceu em Paris como uma espécie de homenagem e recapitulação dos elementos mais importantes no trabalho do artista.


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Fotos: Cortesia | Louis Vuitton



Sucessões são complicadas. Tem toda uma série de TV sobre isso, né?. Na moda não é diferente e, no caso da linha masculina da Louis Vuitton, parece algo quase impossível. Virgil Abloh, falecido em novembro de 2021, era muito mais do que um diretor de criação, um designer, um estilista. Ele representava uma ideia, um sonho, uma esperança, uma outra possibilidade.

Apresentada na quinta-feira, 20.01, em Paris, a última coleção desenhada por ele é um grande exemplo disso. Sua oitava para maison, foi comunicada como o fechamento de um ciclo e um pout-pourri dos principais elementos que compunham sua linguagem criativa.

O primeiro deles é a infância. Virgil sempre dizia que nunca devemos deixar de olhar o mundo como uma criança, livre dos moldes da sociedade. Em entrevistas, ele falava que tudo que fazia era para seu eu de 17 anos. Essa é uma idade simbólica, o limiar entre um adulto e um adolescente, aquele momento em que a curiosidade e ingenuidade não sucumbiram às pressões da vida como ela ainda é.

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Desde sua estreia, o designer lançou mão de uma série de elementos lúdicos e do universo infantil. A passarela de arco-íris, em referência à estrada dos tijolos amarelos de O Mágico de Oz, no verão 2019, os acessórios e detalhes tipo brinquedos, inspirados nas esculturas de madeira da África Ocidental com as quais cresceu, os bichinhos de pelúcia, os bonés com orelhas, as pipas.

Suas três últimas apresentações começaram com imagens de crianças em narrativas que misturavam sonho e realidade. A atmosfera onírica e cheia de referências ao surrealismo eram frequentes em seus desfiles.

Dessa vez, o cenário era um grande salão azul claro. Tinha uma escada à la Show de Truman, como no inverno 2020, uma casa quase submersa, com telhado vermelho e chaminé fumegante, um quarto, com cama a cadeiras, um relógio parado às 8h e uma grande mesa de jantar. Nela, sentaram-se os músicos da orquestra Chineke!, responsáveis por dar vida à trilha criada por Tyler, The Creator – com direito a uma versão emocionante de See You Again.

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O show começa com um trio de bailarinos pulando em trampolins escondidos atrás das escadas. A apresentação segue entre um mix de desfile e performance. Ao todo, foram 20 dançarinos e 67 modelos. Entre saltos, acrobacias e coreografias, os movimentos não eram muito diferentes de brincadeiras de crianças. Todos vestiam uma espécie de best of das criações da Virgil. Entram em cena as modelagens e proporções oversized, a alfaiataria cada vez mais precisa, os acessórios com tratamento de joias, o streetwear, as bolsas-buquê ou “derretidas” como os relógios de Salvador Dalí, as estampas da obra The Melancholia of Departure, de Giorgio De Chirico, e as pipas, agora trabalhadas como asas – de borboletas, de pássaros, de anjos.

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Tudo simboliza o desejo de redefinir percepções predeterminadas e de começar do zero. Mais do que em qualquer outra coleção, no inverno 2022 a liberdade, fluidez e ausência de delimitações são mais do que sensíveis, são visíveis. Vai do berço ao casamento ao luto, mas nunca da maneira como fomos condicionados a imaginar. E imaginação é outra palavra central na vida e obra de Virgil. De novo, tem a ver com a ideia do olhar e inocência infantil, de alguém que não foi exposto e submetido aos conceitos de gênero, raça ou qualquer outro demarcador social.

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A Louis Vuitton não compartilha seus dados financeiros, porém, de acordo com análises do HSBC, estima-se que a grife teve uma receita de 16.7 bilhões de euros, em 2021. Embora o prêt-à-porter masculino corresponda apenas a uma pequena fração desse montante, Virgil foi responsável por uma série de hits, das bolsas Keepall em uma enorme variedade de cores e texturas aos óculos, harness e jaquetas.Os dados indicam que a escolha por um sucessor será acompanhada bem de perto pelos diretores do grupo LVMH, do qual a Louis Vuitton faz parte, respondendo por cerca de 80% do lucro. E os boatos são vários: Nigo, que acabou de assumir a direção criativa da Kenzo; Jonathan Anderson, da Loewe e JW Anderson; Chitose Abe, da Sacai; Grace Wales Bonner; Samuel Ross, da A-Cold-Wall; Jerry Lorenzo, da Fear of God; Charaf Tajer, da Casablanca; e Ib Kamara, stylist e colaborador de Virgil, atualmente editor-chefe da Dazed. Tem ainda quem aposte num esquema rotativo, com coleções assinadas por convidados especiais, quase como acontece com a Jean Paul Gaultier. Mas talvez, nada disso faça sentido. Afinal, como Virgil nos ensinou, está mais do que na hora de derrubar métricas, padrões e exigências de um tempo que já não é mais.

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