Tulipa Ruiz faz moda para ‘pele que não manja de carinho’

Estreia da cantora com sua grife Brocal, na Casa de Criadores, é manifesto de música, estilo e liberdade para todos os corpos.


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Um dos maiores ganhos do formato audiovisual aplicado à moda é abrir espaço para experimentações que só o vídeo poderia proporcionar. A estreia da grife Brocal, da cantora Tulipa Ruiz e de seu irmão, Gustavo Ruiz, é um bom exemplo disso. O fashion filme exibido na Casa de Criadores é um remix bem-arranjado da música “Proporcional”, de autoria dela, que se desenvolve unida aos looks feitos para vários perfis de corpos.

Se a própria letra trata da relação entre pessoas de diferentes tamanhos e critica, de forma velada, a padronização da beleza no meio da moda, as roupas respondem a ela com detalhes ajustáveis, proporções ampliadas e um estilo fora da modelagem clássica.

Em um dos trechos da música, Tulipa canta que tudo é feito para “uma pele que não manja de carinho, mas agora se tocou”, enquanto família e amigos, a exemplo das cantoras Liniker e Anelis Assumpção, mostram o repertório de crochê, estampas alegres e ilustrações produzido por ela.

“Como sou uma mulher grande, sempre foi uma verdadeira gincana encontrar roupas que me coubessem. O mercado não tem cabimento para o corpo gordo. Desenhar uma coleção e uma marca é criar um lugar de liberdade em que eu determino o que me cabe”, explica Ruiz.

Segundo a cantora, a ideia de compor peças vestíveis faz parte de um movimento de exercitar a musicalidade em diferentes suportes, que possam “acolher e acarinhar diferentes corpas e corpos”.

Não se trata de manifestações fashion ou quebra de paradigmas vinculados à matemática da moda, mas nem é para ser mesmo.

O filme “Aconteceu de caber” está mais para manifesto, exposto em tops, shorts, camisetas, parangolés e vestidos palatáveis, cujas únicas intervenções são as texturas e o teor plástico que carregam parte da herança de sua família.

“Herdei as agulhas de minha avó e gosto de tecer desde criança. Não sigo receita, assim como não leio partitura. Meu ponto é bem parecido com meu canto, intuído e soprado por ancestralidades. Os parangolés são influência do meu avô, Beto, que era pescador e tecia tarrafas”, explica, em texto.

As batidas dessa espécie de upcycling sonoro evoluem com a performance dos modelos que, parados ou em movimento, dançam e performam para a câmera como numa vitrine viva. Não há ordem, mas sim um patchwork de movimentos livres como a roupa criada por Tulipa Ruiz.

E parafraseando a própria música, “a estria, no contexto da estreia, com maestria segue o braile da barriga, adornado com o que der na sua telha”.

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