Vicenta Perrotta celebra coletividade em abertura da Casa de Criadores

Em parceria com marcas Vista Vaskes e Use Franka, estilista remodela superfícies com tecidos da extinta grife Neon, doados por Dudu Bertholini.


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Catálise é o processo químico de aceleração energética que transforma uma substância em outra por meio de uma modificação na estrutura. É bastante significativo que esse seja o nome da coleção de Vicenta Perrotta, que abriu a 48ª edição da Casa de Criadores nesta segunda-feira (26). Mais do que uma marca desfilando seu conceito e sua história sozinha, a estilista abre caminhos e espaços para as marcas que fazem parte do seu coletivo.

A Rede Ateliê TRANSmoras, comandada por Perrotta, é responsável por várias etiquetas, costureiras e profissionais têxteis da periferia, criando um enorme guarda-chuva de vozes, vivências e estilos. Em seu novo vídeo, apresenta a Vista Vaskes e a Use Franka, duas marcas que têm trabalhos parecidos com o seu.

Essa nova coleção foi feita a partir de retalhos antigos da extinta Neon, marca criada por Dudu Bertholini (que assina o styling) e Rita Comparato, trazendo a alegria das estampas coloridas da etiqueta sob um novo olhar. O processo de transmutação têxtil, como Perrotta a identifica, é uma detalhada manipulação de superfícies que inclui patchwork e uma nova cara para tecidos de reúso. Nesta coleção, as silhuetas são mais ajustadas e pensadas no conforto, uma tendência para o mundo pós-pandemia.

“A gente chegou em um momento de apresentar um produto. Acredito que quando a gente fala de possibilidades autônomas de trabalho, de produção artística, o produto também é um resultado importante”, explica Perrotta.

Esse shape mais justo também leva em consideração diversos tipos de corpos, que aparecem dançando, performando e, mais importante, se amando no fashion filme “Catálise”.

“Pensamos na roupa ser mais fácil de usar nesse contexto tão complicado que estamos vivendo. Esse produto vai ter o mesmo processo de impacto, já que é uma travesti que está fazendo. É uma movimentação que também questiona o consumo. Vamos parar de consumir roupas que levam para a cisgeneridade e que poluem o meio ambiente? Tanto meu desfile quanto minha marca falam sobre isso”, comenta.

Sobre o processo de criação a várias mãos, Vicenta Perrotta explica também que cada marca recebeu parte dos tecidos e construiu as peças apoiadas na própria estética. Ainda que tenha sido um processo de criação conjunto, tudo no resultado final conversa bem.

“A Dil Vaskes Serafim é uma mana que venho acelerando há bastante tempo, sempre foi o sonho dela ter uma marca. E, a partir do momento que começou a ter contato com meu trabalho, ela ficou atravessadíssima e eu a ensinei a costurar. Nós criamos com a mesma linguagem de transmutação têxtil”, conta Perrotta sobre a amiga, que também é catadora de lixo para reciclagem.

A Use Franka, por sua vez, foi criada por João Francavilla, um maquiador negro que já foi drag e também maquiou para algumas das campanhas do Ateliê. “Como ele não é trans, gostamos de entender como ele enxerga nosso produto. É um projeto de colaboração, onde cada um fala de si próprio”, completa.

O resultado é uma coleção coesa, apesar de cada marca ter suas particularidades, com roupas bem resolvidas e uma estética limpa e mais possível. Com esse desfile, Vicenta Perrotta engrandece seu nome tanto na moda quanto nas iniciativas sociais em que está envolvida. Boa maneira de começar a Casa de Criadores.

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