Tudo sobre a possível compra da Versace pela Prada

O Grupo Prada é o principal candidato a comprar a Versace da Capri Holdings por 1,5 bilhão de euros. Entenda os detalhes da provável aquisição e as suas implicações. 


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Fotos: Getty Images



Duas marcas de luxo italianas protagonizam o grande rumor da vez: o Grupo Prada, detentor da Prada, está cada vez mais próximo de comprar a Versace da Capri Holdings, estadunidense dona de grifes como Michael Kors e Jimmy Choo. Estima-se que o valor da negociação seja de 1,5 bilhão de euros, algo em torno dos 9,4 bilhões de reais. 

Em fevereiro, a Bloomberg News revelou, com base em uma fonte anônima, que o Grupo Prada é o principal candidato à compra. No mesmo mês, a Reuters, também de acordo com uma fonte próxima não revelada, confirmou que a Prada recebeu um prazo de quatro semanas para avaliar os dados financeiros da Versace. 

A holding italiana estaria em um período exclusivo de diligência para entender os riscos da transação. Ainda de acordo com a Reuters, na última sexta-feira (14.03), Andrea Guerra, CEO da Prada, viajou a Nova York, aumentando a suspeita de que a venda deve ser fechada ainda neste mês. 

Fachada da loja da Versace.

Foto: Getty Images

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Soma-se a isso, o anúncio, na quinta-feira (13.03), de que Donatella Versace não é mais diretora criativa da Versace após 28 anos – ela assumiu o cargo depois da morte do irmão, Gianni Versace. Agora, Dario Vitale assume o lugar de Chief Creative Officer. O estilista era diretor de design e imagem da Miu Miu, uma marca do Grupo Prada. Donatella segue como embaixadora-chefe da grife, concentrada em iniciativas filantrópicas, como a Fundação Versace.

“Os anúncios de hoje fazem parte de um plano de sucessão bem pensado para a Versace”, afirmou John D. Idol, presidente e CEO da Capri. Já faz um tempo que a holding pretende vender a grife italiana comprada em 2018. Na época, o império Versace, incluindo artigos de casa, design de hotéis e algumas dívidas, foi adquirido por 1,85 bilhão de euros.

Donatella Versace

Donatella Versace Foto: Getty Images

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A trajetória da etiqueta sob gestão da Capri, no entanto, nunca ascendeu. Pelo contrário: a receita nos últimos três meses de 2025 foi de 193 milhões de dólares, 15% a menos que o mesmo período de 2024. Também neste ano, o prejuízo operacional da label soma 21 milhões de dólares. 

Em outubro do ano passado, a Capri estava próxima de fundir toda a sua estrutura com a Tapestry, dona da Coach e Kate Spade, em um acordo de 8,5 bilhões de dólares. A aquisição, porém, foi bloqueada por uma juíza estadunidense. A Comissão Federal de Comércio apresentou uma ação para impedir o desenrolar da união e a corte entendeu que a fusão violaria as leis antitruste, pois reduziria a concorrência.

Depois da derrota nos tribunais, o preço inicial pedido pela Capri para vender a Versace, em torno de 3 bilhões de euros, prolongou as negociações com novos interessados. Se a aquisição do Grupo Prada for de 1,5 bilhão de euros, isso representará ainda prejuízo para a holding estadunidense. De acordo com o jornal italiano Corriere della Sera, a Prada também pode fazer uma oferta pela Jimmy Choo. 

Fachada da loja da Prada

Foto: Getty Images

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A situação da Capri não é das melhores, o que leva a crer que o acordo será fechado o quanto antes. Em fevereiro, a S&P Global Ratings rebaixou a classificação da dívida da empresa, afirmando que “as dificuldades operacionais e o seu alto endividamento dificultam o pagamento de suas obrigações”. 

O Grupo Prada não se pronunciou oficialmente até então. No dia 27 de fevereiro, no backstage de seu desfile, Miuccia Prada apenas disse aos jornalistas presentes que “todos estão de olho (na Versace).” 

Por que o Grupo Prada é o provável comprador da Versace? 

Trata-se do maior grupo de moda italiano e que mantém um bom desempenho financeiro apesar da desaceleração do setor de luxo. No dia 4 de março, o conglomerado anunciou seus resultados de 2024. Com um faturamento de 5,43 bilhões de euros, o grupo registrou uma alta de 17% em comparação a 2023. Os lucros são de 839 milhões de euros, 25% a mais que o ano anterior. O crescimento da Miu Miu tem a ver com isso: no quarto trimestre do ano passado, as vendas no varejo da irmã mais nova da Prada subiram 84%. 

O que a Prada ganha com a aquisição da Versace? 

Hoje, o Grupo Prada tem em seu portfólio as marcas de moda Prada, Miu Miu, Church’s e Car Shoe (as duas últimas são etiquetas de calçados tradicionais, respectivamente britânica e italiana). A aquisição da Versace, cujo estilo contrasta com as demais empresas, pode ser um complemento poderoso. “É um estilo que ironicamente se encaixa no portfólio do grupo. Você já tem a Prada, com aquela elegância, a Miu Miu, atendendo uma versão mais jovem dessa mulher, e, então, a Versace, com toda a sua exuberância. Isso completa o leque”, avalia Rosana Moraes, professora de Marketing na FGV com especialização no mercado de luxo. 

Com Versace, o Grupo Prada conseguiria fazer uma frente italiana aos conglomerados franceses, como LVMH e Kering?  

A compra levaria a Versace novamente para mãos italianas. Nos últimos anos, muitas marcas fundadas no país foram adquiridas por grupos estrangeiros: Gucci, Valentino, Fendi, Loro Piana e Bottega Veneta, por exemplo. Mais do que um movimento de fraternidade nacional, a compra da Versace pelo Grupo Prada também amplia um embate histórico que é econômico e cultural. “Existe o orgulho desses países (a Itália e o seu artesanato, principalmente com o couro, e a França com o seu savoir faire e alta-costura). A competição não se daria em termos de tamanho (hoje, o Grupo Prada tem um valor de mercado de cerca de 22 bilhões de dólares, enquanto a LVMH soma 347,5 bilhões de euros), mas, sim, a defesa de um jeito nacional de se fazer moda”, diz Rosana Moraes.  

É a primeira vez que o Grupo Prada compra uma grande grife como a Versace? 

Na virada do milênio, Miuccia Prada e Patrizio Bertelli, casal que dirige a Prada, começaram a fazer uma série de aquisições para fundar o que hoje entendemos como Grupo Prada. Em 1999, eles compraram 51% da Helmut Lang e, meses depois, adquiriram a Jil Sander. Mais tarde, entraram ainda para o leque de investimentos a Alaïa e uma fatia da Fendi. Na época, a ampliação dos negócios e o desenvolvimento de uma holding teve um gosto agridoce. As dívidas e o alto custo operacional de algumas marcas, além dos desentendimentos com os estilistas fundadores, levaram a dupla a se desfazer de quase tudo até 2007. A japonesa Fast Retailing comprou a Helmut Lang em 2006. No mesmo ano, a Jil Sander foi vendida para a inglesa Change Capital Partners que, mais tarde, a revendeu para o grupo italiano OTB. Nos casos de Jil Sander e Helmut Lang, ambos os designers fundadores deixaram as suas grifes durante a gestão Prada. Os desacordos chegaram a tal ponto de Patrizio Bertelli afirmar, anos depois, que cometeu um erro com essas casas. 

Como a Prada pode dar um novo futuro para a Versace?

A reestruturação da Versace é complexa, mas a ligação da Prada com Dario Vitale, o novo diretor criativo, já traz ao menos otimismo. Vitale começou sua carreira na Bottega Veneta, depois de se formar no Instituto Marangoni. Em julho de 2010, mudou-se para a Miu Miu, onde trabalhou sob a direção criativa de Miuccia Prada por 14 anos. O destaque nesse período foi a sua capacidade de se comunicar com o público mais jovem de uma forma cool, o que seria uma boa saída para uma Versace ainda ancorada em signos do passado. Segundo Rosana Moraes, uma boa medida é apontar para o novo: “Se aproximar das novas gerações é a melhor possibilidade. Elas estão mais sensíveis ao luxo, contanto que se vejam retratadas. Manter o DNA da marca alcançando essas gerações com potencial de crescimento é uma boa ideia.”

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