MFW: Prada, verão 2025

Na era em que a indústria da moda procura por um mínimo denominador comum para vender, o verão 2025 da Prada lembra que o caos faz parte da equação humana.


Prada, verão 2025.
Prada, verão 2025. Foto: Getty Images



Enquanto o tom da moda mundial é de luxo silencioso, com roupas assertivas, mais usáveis e fáceis de vender, na Prada a coleção de verão 2025 é uma explosão de imagens complexas e provocativas.

Como de costume, o desfile aconteceu na Fondazione Prada, no sul de Milão. O cenário foi montado com um chão levemente aveludado e bancos cobertos por tecidos de cetim – tudo em um tom de azul bem claro.

Com uma passarela labiríntica e uma trilha sonora mixada com músicas de mistério, canções de ninar e faixas de eletrônico, parecia que uma coleção pautada em sonho estava prestes a surgir.

Prada, verão 2025.

Prada, verão 2025. Foto: Getty Images

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Prada, verão 2025. Foto: Getty Images

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Não foi o caso. Miuccia Prada e Raf Simons, as mentes por trás da direção criativa da marca, continuaram a refletir sobre a realidade e as maneiras como ela pode ser apresentada e percebida. E, afinal, há algo mais fantástico e absurdo do que a própria realidade?

O tema já havia pautado a apresentação masculina em junho e, agora, ganha mais camadas. No texto explicativo sobre a coleção, o argumento central é o de que existimos em uma era de muita informação, em que o consumo é pautado por algoritmos.

Segundo o duo – e, convenhamos, isso não é segredo para ninguém –, esse jogo determina como normal o que é construído dentro de uma lógica racional. Porém, no fundo, essa racionalidade não faz muito sentido, nem é plausível para a condição humana. Em alguns momentos, ela é até autodestrutiva ou mina nossa pluralidade.

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Prada, verão 2025. Foto: Getty Images

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Prada, verão 2025. Foto: Getty Images

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Prada, verão 2025. Foto: Getty Images

Pense, por exemplo, em experiências mecanizadas que, por serem repetitivas, diminuem a diversidade criativa em muitos aspectos. Pense também na falta de autonomia em relação aos nossos gostos e preferências. Como disse Miuccia Prada, em coletiva após o desfile: “Tudo o que gostamos ou sabemos é porque outras pessoas estão inserindo isso em nós.”

A discussão sobre a popularização fácil de determinados modelos, equações, matemáticas de venda e viralização ocorre também na música e nas artes. A humanidade tem muito mais a ver com o imprevisível e o acaso.

Por isso, as roupas são uma série de provocações, contradições e até perturbações. O primeiro look é quase inofensivo: um vestido de fundo claro com estampa floral amarela, usado com sapatos de boneca. A sua estrutura, porém, é moldada com pequenos arames dentro das alças e na barra. A aparência é a de que esses detalhes estão flutuando para sempre no ar.

Prada, verão 2025.

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Prada, verão 2025. Foto: Getty Images

Ecoando a pesquisa do verão 2025 masculino da Prada, há bastante daquele preceito do “nem tudo é o que parece”. No suéter, o desenho na região da gola faz acreditar que é uma sobreposição, mas não é. O cinto não é cinto. É um desenho na calça.

Eis que surgem óculos e viseiras que ficam entre olhos de insetos e máscaras de super-heróis. Um tecido espelhado e algumas formas geométricas trazem à memória a época da corrida espacial, com aquele futurismo que hoje parece passado.

A calça legging de malha berinjela acompanha uma camisa de gola laço perolada – quase recatada. O vestido de plumas está com uma jaqueta esportiva, e o conjunto com cara de beachwear retrô, com casaco de onça. A coleção se desenrola de tal maneira que há momentos praticamente absurdos, como um capuz-lenço para proteger da chuva, só que de couro, e um vestido todo de espelhos e metais.

Prada, verão 2025.

Prada, verão 2025. Foto: Getty Images

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Há ainda uma emoção ligeiramente agressiva na atmosfera, aparente na beleza dos cabelos desgrenhados e nos detalhes que lembram piercings, fazendo barulho com o caminhar das modelos.

A excepcionalidade está na coesão com que tudo é feito: muitos elementos já vistos na história da Prada estão ali. São peças específicas, como o brogue com solado de diferentes materiais, o sapato com chamas nas laterais, e vincos levemente amassados nas roupas, como se tivessem marcas de vida, além das cores de papel de parede retrô. Estão ali também ideias essenciais para a marca, como a provocação à noção do que consideramos bonito ou feio, o que é praticamente a espinha dorsal da casa.

Ou seja, pode até parecer que são escolhas sem critério ou baseadas em receitas de inteligência artificial, mas não são. São deliberações humanas. Em uma era em que a indústria da moda procura um mínimo denominador comum para vender, a Prada lembra que o caos faz parte da equação humana.

Citando outro trecho do texto entregue aos jornalistas: “A nossa intervenção não pode ser replicada. Ela é única.”

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