15 vezes em que Miuccia Prada esteve de parabéns

No dia do aniversário da estilista, lembramos da sua participação no movimento feminista aos desfiles subversivos e campanhas históricas.


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Foto: Getty Images



Revolucionária por essência, Miuccia Prada faz aniversário nesta segunda-feira, 10.5. Nascida em Milão, em 1949, neta de Mario Prada, fundador da marca de malas e itens de couro, criada em 1913, Miuccia se formou em ciências políticas, se descobriu feminista e estudou mímica por cinco anos no Piccolo Teatro. Mas nunca pensou em ser estilista. Essa era uma ideia bem distante e da qual ela não gostava muito. Achava a moda boba e frívola. Tudo mudou em 1978, quando assumiu a empresa da família e transformou o negócio por completo. Para contar um pouco dessa história, selecionamos 15 fatos e curiosidades da carreira da nossa birthday girl.

Feminista fervorosa e filiada ao Partido Comunista nos anos 1970

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Miuccia Prada. Foto: Reprodução

Apesar de parecerem fatos incompatíveis, o envolvimento da estilista com o Partido Comunista e com os movimentos feministas, nos anos 1970, explica muito do que vemos nas suas criações. Miuccia desenha, desde então, para uma mulher inteligente e que entende o que acontece no mundo. Isso tem total relação com tal pano de fundo.

A subversão da roupa burguesa com ironia

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Prada, inverno 2008. Foto: Getty Images

Desde seu debut, Miuccia Prada subverte tudo em que coloca as mãos. Porém, um de seus tópicos favoritos são valores burgueses. A estilista já disse várias vezes o quanto gosta de criar em cima de ideias e ou conceitos que despreza ou que a irritam. Quando ela transforma o look burguês em algo sexy ou até feio, com proporções fora do comum, tecidos trabalhados de modo inusitado ou e colocando o avesso do lado de fora (literal ou metaforicamente), está, na realidade, questionando tradições sociais e propondo uma visão alternativa dos códigos vigentes. A primeira vez que fez isso foi ao aplicar uma lona usada para cobrir o porta malas do carro de seu avô para criar mochilas e bolsas, em 1979. Outro exemplo, é o inverno 2008, em que a renda guipure, associada à alta burguesia, foi misturada a vinil, usada sem forro (deixando a pele à mostra e subvertendo seu lado conservador) e por cima de camisas de alfaiataria.

O ugly chic

Outro bom exemplo de subversão de valores pode ser encontrado no ugly chic, termo cunhado para falar sobre a Prada e a capacidade de Miuccia de transformar o que era visto como feio em peças e coleções desejáveis. Foi na temporada de verão 1996 que a expressão surgiu. Essa foi a coleção que fez com que a jornalista Robin Givhan decretasse que o feio realmente estava em alta. No desfile, Amber Valetta e Kate Moss usavam uma mistura de verdes e marrons não-palatáveis, crash de estampas tromp d’oeil e dos anos 1970, sandálias com saltos baixos e proporções fora do que estávamos acostumados a considerar bonito ou considerado sexy nos anos 1990. Hoje, esses códigos ainda são usados como referência quando falamos da moda daquela década, e a Prada nunca parou de aumentar essa biblioteca de inspiração.

A histórica bolsa de náilon

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Naomi Campbell, em campanha da Prada de 1994. Foto: Reprodução

As primeiras coleções de malas e sapatos assinados por Miuccia não obtiveram muito sucesso. Foi apenas com a coleção de bolsas de náilon, lançada em 1985, que o jogo virou. Na época, pegar um material usado pelo exército italiano e introduzi-lo com status de luxo através de bolsas e mochilas foi o que transformou a história do negócio. Logo em seguida, a Prada se internacionalizou e abriu sua primeira loja em Nova York.

A estreia no prêt-à-porter e a paixão por uniformes

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Prada, inverno 1988. Foto: Reprodução

A Prada estreou nas passarelas em 1988, com uma apresentação em sua sede, em Milão. O interesse por uniformes e subversão de normas está presente desde a primeira coleção: à época, a estilista a descreveu como “uniformes para os ligeiramente marginalizados.” As peças eram amplas, afastadas do corpo e em tons sóbrios de marrom e preto, deixando os detalhes, como uma gola assimétrica e um babado na cintura, brilharem.

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Prada, inverno 1988. Foto: Reprodução

Nascimento da Miu Miu

Em 1992, no auge do sucesso da Prada, Miuccia fundou a Miu Miu, segunda linha pensada para um público mais jovem. Baseada em elementos de esporte com toques vintage, kitsch e maximalistas, a grife, hoje, encerra a Semana de Moda de Paris e é queridinha das fashionistas geek chic.

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Miu Miu, inverno 2014. Foto: Getty Images

Moda fora do vácuo

 

É sempre importante lembrar que as melhores coleções e desfiles são feitos pensando em contexto políticos, econômicos e sociais do mundo. Miuccia Prada é a rainha da moda fora do vácuo das fashion weeks. Cerebral como poucas, a estilista coloca nas passarelas roupas, temas e mensagens que estão em alta – tanto positiva quanto negativamente – no mundo. Em uma de suas últimas apresentações mais recentes, por exemplo, a de verão 2021, usou casacos como escudos em um dos momentos mais incertos e sensíveis da história atual – a pandemia – e explorou a relação de intimidade num momento em que boa parte do mundo se viu isolada e trancada dentro das próprias casas.

Schiaparelli and Prada: Impossible Conversations

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Looks da exposição Impossible Conversations. Foto: Getty Images

Em 2012, a estilista italiana foi tema da exposição do Costume Institute do Met, em Nova York. Numa suposta “conversa impossível” entre as estilistas Elsa Schiaparelli e Miuccia Prada, as duas falam, em um vídeo dirigido por Baz Luhrmann, sobre seus trabalhos que transformaram a moda e como cada uma explorou temas partindo de abordagens diferentes. A mostra contou com aproximadamente 100 looks e foi dividida em sete temas: “Waist Up/Waist Down”, “Ugly Chic”, “Hard Chic”, “Naïf Chic”, “The Classical Body”, “The Exotic Body” e “The Surreal Body”. O livro dessa mostra do Met pode ser comprado na Amazon.

A importância da saia

Falando em exposições, a Prada criou sua própria mostra, batizada de “Waist Down”, sobre os modelos mais icônicos de saias da marca. Em parceria com a AMO, do arquiteto Rem Koolhaas, a mostra itinerante, que mistura códigos da etiqueta com aqueles da cidade em que está sendo exibida, foi inaugurada em 2004, na loja própria da grife em Tóquio, e já passou por Xangai, Nova York e Los Angeles.

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Saia exposta na mostra Waist Down, em Nova York. Foto: Getty Images

Campanhas icônicas

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Campanha da Prada para o verão 2001. Foto: Reprodução

Para entender a importância da identidade imagética de Miuccia, também é importante analisar algumas das campanhas mais icônicas da grife. Separamos duas: a de inverno 2013, com uma imagem criada por Stevne Meisel que remetia às raízes da Prada, com reedições de looks e silhuetas clássicas e um casting com as Prada girls de várias gerações; e a de verão 2001, fotografada por Phil Poynter, marcando o lançamento da Prada Linea Rossa, braço esportivo e financeiramente bem importante para a empresa.

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Campanha da Prada para o inverno 2013. Foto: Reprodução

Meios e mensagem

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Prada, verão 2008. Foto: Getty Image

Há muito a se falar, sempre, das apresentações da Prada. A maneira como tudo conversa entre si e pode ser interpretado, da cenografia ao convite, snack, trilha sonora até o andar das modelos e maneira como elas seguram as roupas e acessórios, tudo tem um porquê e contribui para a mensagem principal – um bom exemplo são os sanduichinhos coloridos do verão 2011, que imitavam o contraste de tons das roupas. Além das outras coleções que nós já falamos aqui, vale destacar a coleção de verão 2008, em que a Prada falou sobre fadas (do seu jeitinho) com túnicas esvoaçantes, silhuetas amplas e calças flare e projeções digitais nas paredes da sala de desfile.

Tem também o verão 2011, de onde saiu a estampa de banana, uma das mais famosas da marca, nos últimos tempos, cujas cores apareceram nos sanduíches servidos aos convidados e modelos.

Por último, o verão 2014, uma ode ao espírito jovem, com as modelos caminhando rápido com rostos pintados em casacos amplos, explosão de cores, aplicação de pedrarias e pelúcias – e Britney Spears de trilha sonora!

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Prada, verão 2014. Foto: Agência Fotosite

Proximidade com arquitetura e arte

O universo Prada sempre foi muito completo e interdisciplinar. É possível observar esse fenômeno pela proximidade e paixão de Miucci pela arquitetura, por exemplo. Ela tem uma relação próxima com profissionais, como Rem Koolhaas, tanto na concepção de suas lojas quanto nos cenários de seus desfiles. Em 1995, a paixão de Miuccia e Patrizio Bertelli (CEO da marca e seu marido) por arte resultou na criação da Fondazione Prada, uma espécie de museu e galeria. Hoje, há sedes tanto em Milão quanto em Venice, na Califórnia, com acervo fixo e exposições itinerantes. Seu endereço italiano é o maior espaço dedicado à arte contemporânea da cidade e conta com dez pavilhões.

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Fondazione Prada, em Milão. Foto: Getty Images

Lingeries em destaque

 

A sensualidade da mulher Prada é diferente daquelas que vemos em outras marcas, mais elegante e esquisita do que os olhos não treinados estão acostumados. E a lingerie tem um papel bastante importante nessa equação: tanto por pedaços de sutiãs deixados casualmente à mostra ou bustiês de tricô usados em cima da roupa (como na última coleção da Miu Miu) quanto nas calcinhas-boxer estampadas em baixo de saias transparentes. São vários e recorrentes os elementos do universo boudoir em suas criações.

Re-nylon

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Modelo com peças de náilon reciclado. Foto: Divulgação

Em 2019, a Prada anunciou a coleção Re-Nylon, feita de um tecido tecnológico criado a partir da reciclagem e purificação de plástico coletado no oceano, em redes de pesca, aterros e com resíduos de fibra têxtil ao redor do mundo. Esse material é transformado em novos polímeros, novos fios e, por fim, em um novo náilon. Lembra da bolsa clássica que falamos no começo da matéria? Ela foi reeditada novamente, ao lado de bucket hats, mochilas e peças de roupa, e aparece nessa nova coleção mais sustentável.

Cocriadora

Por ser uma estilista muito cerebral, parecia quase impossível imaginar a senhora Prada abrindo mão do seu posto na direção criativa na marca que lutou tanto para fortalecer – e sob premissas bastante específicas. Em fevereiro de 2020, a etiqueta anunciou Raf Simons como codiretor de criação, um movimento que empolgou o mundo da moda. Hoje, com três desfiles já apresentados, parece que Miuccia fez a escolha certa: o estilista belga combina perfeitamente com o status de marca inteligente, chic e transgressora que ela carrega.

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Miuccia Prada e Raf Simons. Foto: Getty Images

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