Imensidão verde

Construída sobre pilotis em uma região montanhosa do Guarujá, no litoral paulista, esta casa de alma brasileira, com projeto do MK27, promove uma experiência única de integração com a natureza.


Living em ambiente projetado pelo escritório MK27.
O living, aberto para a paisagem, exibe um mix de mobiliário brasileiro, a exemplo da poltrona Jangada (em primeiro plano), um clássico de Jean Gillon que já pertencia à moradora, e da dupla de poltronas Vivi, assinadas por Sergio Rodrigues. Fotos: Fernando Guerra



Quando o casal de proprietários desta casa encontrou um terreno cercado pela mata, no topo das montanhas e quase isolado, não teve dúvida de que ali era o lugar perfeito para construir um refúgio de fim de semana ou para as férias. Localizado na Praia de Tijucopava, no Guarujá (SP), o lote ainda oferecia uma vista privilegiada para o mar.

Logo eles imaginaram uma construção integrada com a paisagem para reunir a família e os amigos em contato direto com a natureza, mas sem abrir mão de conforto e estilo. Para concretizar o sonho, entraram em contato com o escritório MK27, liderado pelo arquiteto Marcio Kogan, que, com sua equipe, topou o desafio de criar um projeto que se adequasse à área determinada para a construção, sem derrubar uma única árvore ou fazer qualquer movimentação de terra.

Casa no Guarujá com projeto do MK27

Piscina vista do alto, abraçada pela mata. Foto: Fernando Guerra

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“O resultado traz a sensação bastante forte de estar em uma casa na árvore”, define o arquiteto. Isso porque a construção foi implantada sobre pilotis, o que elevou os pavimentos mais altos até a copa das espécies nativas da Mata Atlântica.

O ponto de partida do projeto, aliás, surgiu da inversão da ordem tradicional dos ambientes. “A sala, o terraço e a piscina estão no andar superior. No intermediário, ficam os quartos, que dão para uma varanda com redário. E embaixo, sob os pilotis, há um depósito, um espaço de serviço e uma área de lazer, com churrasqueira e fogo de chão”, descreve Kogan.

Construída de concreto, com grandes aberturas, caixilharia de madeira e painéis do tipo muxarabi, a casa tem outro elemento de destaque na arquitetura: um charmoso fechamento lateral de cobogós, desenhado pela equipe do escritório. “Eles fecham os banheiros e vão criando uma luz muito bonita ao longo do dia. Esses elementos remetem à cultura brasileira e ao modernismo”, afirma Kogan. O uso dos cobogós, um material frequente nos projetos do arquiteto, também garante a privacidade aos moradores, mas sem privá-los de iluminação e ventilação natural.

Projeto MK27 no Guarujá.

Foto: Fernando Guerra

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Além da localização singular, a casa tem outra particularidade. No projeto de interiores, a premissa era que todas as peças deveriam ser brasileiras – do mobiliário às obras de arte. Foi um desejo da proprietária, que é colecionadora de arte popular e tinha em seu acervo alguns móveis. “Nós adoramos a demanda e imediatamente embarcamos com ela na viagem. Dessa forma, as novas peças foram escolhidas com base nesse critério”, revela a arquiteta Diana Radomysler, diretora de design de interiores.

Projeto no Guarujá com assinatura da MK27.

Poltrona Verônica, de Jorge Zalszupin, acompanhada do banco Mocho (à esquerda), de Sergio Rodrigues, e do banco Abaporu (à direita), de Alfio Lisi, com arte de J. Borges. À frente, mesa de centro de Pedro Petry. Foto: Fernando Guerra

O resultado é um mix culturalmente rico de obras de artesãos de diversas regiões do país e designers brasileiros de reconhecimento internacional. Além de ter espaço para as novas aquisições, a casa foi feita para os objetos e livros do casal e vários espaços foram desenhados com base nas histórias de família contadas à equipe do escritório.

A intenção foi elaborar ambientes acolhedores, com muitas texturas, para contrastar com a dureza do concreto exterior. “A casa é branquinha por fora e quente por dentro, praticamente monocromática. Os ambientes abraçam. A pintura das paredes tem a mesma cor da madeira dos painéis, então parece que você está num invólucro de uma cor só”, explica Diana.

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Seguindo o desejo de uma atmosfera intimista, um material que se destaca no projeto de interiores é a palha, aplicada em várias superfícies, como na cabeceira das camas e no fundo da estante. Esse móvel, aliás, é o principal destaque no living. De grandes dimensões, a peça ocupa quase toda a extensão da parede e foi desenhada de acordo com as obras que a moradora queria expor.

Casa no Guarujá, no litoral paulista, com projeto do MK27.

A casa envolvida pela floresta. Foto: Fernando Guerra

“Criamos nichos específicos para cada uma delas e, por causa disso, a estante tem um grid irregular, adaptado ao acervo”, completa o arquiteto Gustavo Ramos, responsável pelos interiores.

Parte essencial do projeto para garantir a melhor sensação possível aos moradores, a iluminação recebeu atenção especial. “Nós temos uma intenção quando pensamos na luz de cada casa que projetamos. Procuramos filtrá-la quando ela vem da natureza e usamos pendentes e abajures”, explica Diana.

A arquiteta reforça que ora a luz deve ser focada para baixo, ora deve proporcionar uma iluminação geral. Mas sempre filtrada, nunca diretamente da lâmpada. Por isso, chamam a atenção as luminárias de fibra natural, presentes em vários ambientes. “Elas resultam de uma parceria do escritório com artesãos de Trancoso, na Bahia. A gente desenhou o modelo das cúpulas e eles as produziram com piaçava e taboa”, conta Gustavo.

Cada detalhe foi pensado com cuidado para garantir o conforto físico e visual, mas sem tirar o protagonismo da natureza exuberante, que pode ser apreciada de qualquer espaço da casa.

 

Esta reportagem foi publicada originalmente na edição impressa do volume 3 da ELLE Decoration. 

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