Pela primeira vez, duas mulheres concorrem ao Oscar de melhor direção
Em quase um século de cerimônia, apenas sete diretoras foram indicadas na categoria e uma levou a estatueta. Chloé Zhao e Emerald Fennell podem mudar a história.
O Oscar 2021 terá duas mulheres concorrendo à estatueta de melhor direção. Isso é um marco. Esta é a primeira vez, em 93 anos de história da maior premiação de cinema, que duas diretoras são indicadas juntas à categoria. Antes disso, apenas cinco haviam sido nomeadas e somente uma saiu vencedora, Kathryn Bigelow, por Guerra ao terror, em 2010.
Para efeito de comparação, desde a sua primeira cerimônia, em 1929, o Oscar teve 502 homens disputando o prêmio. Com a recente indicação de Chloé Zhao, por Nomadland, e Emerald Fennell, por Bela vingança, o total de mulheres concorrentes na mesma categoria subiu para sete. Além disso, Chloé é a primeira mulher não-branca a ter a chance de levar o Oscar de melhor direção para casa.
Não é de hoje que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável pela premiação, é criticada pela falta de diversidade entre as nomeações, tanto de gênero quanto de raça. A fim de reverter essa situação, desde 2016 a Academia vem tentando tornar o seu quadro de membros mais plural, ampliando convites a mais mulheres, pessoas negras, de minorias étnicas, além de estrangeiros. A ideia é que essa mudança se reflita diretamente nos indicados.
A seguir, saiba quais foram as sete cineastas indicadas ao Oscar de melhor direção – esperamos atualizar essa lista em breve para anunciar mais uma diretora vencedora na categoria.
LINA WERTMÜLLER, INDICADA POR PASQUALINO SETE BELEZAS, EM 1977
Lina Wertmüller, a primeira mulher a concorrer ao Oscar, na categoria melhor direção, em 1977 Santi Visalli/Getty Images
A cineasta italiana foi pioneira ao ser indicada ao Oscar de melhor direção em 1977 pelo filme Pasqualino sete belezas, o 11º que dirigiu. Em 49 edições da premiação, essa era a primeira vez que uma mulher concorria nessa categoria. Lina Wertmüller não levou a estatueta para casa – o vencedor foi John G. Avildsen por Rocky: um lutador – e ainda foi preciso esperar 17 anos até que outra diretora tivesse essa oportunidade.
O reconhecimento da Academia só veio em 2019, quando Lina foi homenageada com o Oscar honorário pelo conjunto da obra “por sua provocativa perturbação das normas políticas e sociais apresentadas com bravura por meio de sua arma de escolha: a lente da câmera”. O prêmio foi entregue pelas diretoras Jane Campion e Greta Gerwig, segunda e quinta mulheres indicadas na categoria melhor direção, em uma cerimônia da Academia que não foi televisionada.
JANE CAMPION, INDICADA POR O PIANO, EM 1994
Jane Campion, diretora de O piano, foi a segunda mulher a concorrer na categoria melhor direção. Ron Galella/Getty Images
Foi apenas na 66ª edição do Oscar que uma segunda mulher concorreu à melhor direção. A neozelandesa Jane Campion, de O piano, perdeu a estatueta para Steven Spielberg por A lista de Schindler, que levou o Oscar de melhor filme. Mas Jane venceu na categoria melhor roteiro original pelo filme.
Sucesso de crítica e público – com uma bilheteria de US$140 milhões no mundo todo–, o longa marcou a década de 1990. Jane pode não ter vencido o Oscar como diretora pela obra, mas levou o Palma de Ouro, prêmio de maior prestígio do Festival de Cinema de Cannes. Até hoje, é a única mulher a receber a honraria.
SOFIA COPPOLA, INDICADA POR ENCONTROS E DESENCONTROS, EM 2004
Sofia Coppola foi indicada em duas categorias ao Oscar de 2004 por Encontros e Desencontros. Jeff Kravitz/Getty Images
Filha de Francis Ford Coppola, Sofia vem trilhando seu próprio caminho como diretora e roterista desde As virgens suicidas (1999). Em 2004, a estadunidense firmou sua importância no cinema mundial ao ser indicada pela Academia nas categorias melhor direção e melhor roteiro original por Encontros e desencontros.
Levou a segunda, se tornando a terceira geração de sua família a conquistar uma estatueta (Francis tem cinco Oscars, e o avô de Sofia, o compositor Carmine Coppola, um). Quem saiu vitorioso como melhor diretor naquele ano foi Peter Jackson por O senhor dos anéis: o retorno do rei, que levou 11 prêmios.
KATHRYN BIGELOW, VENCEDORA POR GUERRA AO TERROR, EM 2010
Kathryn Bigelow foi a única mulher a levar a estatueta de melhor direção. Michael Caulfield/Getty Images
Em 2010, finalmente uma mulher venceu o Oscar de melhor direção. Kathryn Bigelow fez história com o filme Guerra ao terror, que ainda lhe rendeu a estatueta de melhor filme, já que ela também era produtora do longa. Antes de anunciar o resultado, a cantora Barbra Streisand disse emocionada: “O momento chegou”.
Foram necessárias 82 edições para que a Academia reconhecesse o trabalho de uma mulher diretora. Kathryn superou seu ex-marido James Cameron, que concorria por Avatar, filme de maior bilheteria de todos os tempos, além de Quentin Tarantino, por Bastardos inglórios.
GRETA GERWIG, INDICADA POR LADY BIRD, EM 2018
Greta Gerwig concorreu ao prêmio de melhor direção na 90ª cerimônia do Oscar por Lady Bird. Dan MacMedan/Getty Images
A vitória de Kathryn não foi suficiente para que os membros da Academia passassem a indicar mulheres com mais frequência na categoria melhor direção. Nas sete edições seguintes, apenas homens concorreram. Até que, em 2018, Greta Gerwig conquistou um espaço na competição por sua estreia como diretora no filme Lady Bird: a hora de voar.
Essa foi a primeira vez que uma mulher conquistou uma indicação em seu primeiro trabalho solo de direção. Até então, a estadunidense era conhecida como atriz e roteirista em filmes como Frances Ha. Porém, ela não foi embora com o prêmio. A estatueta foi dada a Guillermo del Toro, por A forma da água.
CHLOÉ ZHAO, INDICADA POR NOMADLAND, EM 2021
Chloé Zhao é a primeira mulher não-branca a concorrer à estatueta de melhor direção. Amy Sussman/Getty Images
Pela primeira vez na história, neste ano duas mulheres foram indicadas simultaneamente ao Oscar de melhor direção. Uma delas é Chloé Zhao, diretora de Nomadland. Chinesa com carreira estabelecida nos Estados Unidos, onde vive desde o ensino médio, ela é a primeira mulher não-branca a concorrer na categoria.
Estrelado por Frances McDormand, Nomadland mostra a personagem ficcional Fern embarcando em uma jornada como nômade moderna pelo oeste estadunidense, após o colapso econômico de uma cidade empresarial na zona rural de Nevada. Seus mentores e companheiros de jornada são Linda May, Charlene Swankie e Bob Wells, nômades da vida real que interpretam eles mesmos no longa.
O filme é baseado no livro Nomadland: surviving America in the twenty-first century, da jornalista Jessica Bruder. Chloé também concorre em outras quatro categorias com o longa: melhor roteiro adaptado, melhor fotografia, melhor edição e melhor filme. O longa ainda rendeu a indicação de melhor atriz para Frances.
EMERALD FENNELL, INDICADA POR BELA VINGANÇA, EM 2021
Emerald Fennell concorre ao Oscar de melhor direção por Bela Vingança. Ray Tamarra / Colaborador
A outra indicada a melhor direção este ano é Emerald Fennell, primeira britânica a concorrer nessa categoria. Os fãs de The Crown devem reconhecê-la por sua atuação como Camilla Parker-Bowles na terceira e quarta temporada da série. Bela vingança é a sua estreia como diretora.
Nesse conto de terror moderno, a protagonista Cassie, interpretada por Carey Mulligan, é uma mulher cheia de traumas que finge estar bêbada em bares e baladas a fim de atrair predadores sexuais que tentam se passar como homens bonzinhos e se vingar deles. Um enredo de humor ácido como resposta à cultura do estupro.
Alison Brie, Adam Brody, Jennifer Coolidge e Laverne Cox são alguns dos nomes que completam o elenco. Com Bela vingança, Emerald ainda pode levar estatuetas por melhor roteiro original e melhor filme. O filme também concorre a melhor edição e melhor atriz (Mulligan). Resta saber se o Oscar 2021 vai fazer história coroando Chloé e Emerald como a segunda mulher a vencer o prêmio de melhor direção.
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