Conheça o hotel Royal Mansour, uma ode à arquitetura marroquina
Em Marraquexe, o hotel Royal Mansour eleva o luxo a outro patamar.
O portão principal do hotel Royal Mansour Marrakech, no Marrocos, já dá uma amostra do que está por vir. Inspirado nos imponentes pontos de entrada das cidades fortificadas, ele exibe imensas portas, feitas com 7 toneladas de cobre e emolduradas em um minucioso trabalho de cedro entalhado, gesso esculpido e mosaicos de azulejo. Tal recepção se justifica: uma vez que você cruze o portal, estará o mais próximo possível da experiência de ser amigo do rei.
Espalhado por uma área de 5 hectares dentro da medina de Marraquexe – a parte antiga da cidade, cercada por muros –, o Royal Mansour conseguiu se tornar uma referência num território onde a régua do luxo é alta. A começar pelo seu proprietário: ele pertence a ninguém menos do que o rei do Marrocos, Mohammed VI. Inaugurado em 2010 e ampliado em 2016, o hotel foi pensado para ser uma ode à arquitetura tradicional do país. E isso não significa uma referência aqui e outra ali à herança local. O hotel entrega, de fato, a experiência de se hospedar em um verdadeiro palácio marroquino.
Foto: Divulgação
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Ao longo de sua história, esse país do norte da África sofreu influências das culturas árabe, judaica e mediterrânea, que se somaram às tradições do seu povo originário, os imazighen (ou berberes). Essa mistura se reflete em uma arquitetura muito peculiar, rica em detalhes e significados.
Um elemento-chave para entender o jeito marroquino de morar é o riad. A palavra significa “jardim”, em árabe, e se refere, mais especificamente, a um pátio interno com uma fonte no centro e árvores ao redor – um refúgio privativo que oferece tranquilidade e frescor nos lares mais abastados. Por extensão, o termo passou a designar as próprias casas.
Treliças de madeira, conhecidas como muxarabi, separam o closet dos quartos. Foto: Divulgação
Um dos maiores diferenciais do Royal Mansour em relação a outros hotéis é a inexistência de simples quartos e suítes. Todas as acomodações são riads, ou seja, casas marroquinas completas, com direito a pátio interno e três pavimentos. A mais “modesta”, de 140 m², tem terraço com uma pequena piscina particular, além de sala, lounge com lareira e quarto com closet. Já a mais luxuosa é um palacete de 1,8 mil metros quadrados, com todo o básico em proporções maiores e ainda jardim privativo, cozinha profissional, salas de jantar e de jogos, biblioteca, cinema e até um hammam (a sala de banho típica do Marrocos). No total, são apenas 53 riads, cada um deles com uma decoração.
Detalhe do terraço particular de um dos riads. Foto: Divulgação
“Pretendíamos introjetar o máximo possível da cultura local no Royal Mansour, por isso ele tinha que oferecer riads individuais, em vez de quartos-padrão”, diz o designer-chefe do projeto, Doug Kulig, CEO da OBM International, empresa de arquitetura estadunidense especializada em hotéis de luxo, que trabalhou na construção do hotel em parceria com o escritório de design marroquino Axe International.
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Vista áerea do hotel, que parece uma pequena medina. Foto: Divulgação
A escolha faz mais sentido ainda quando se sabe que a privacidade é algo altamente valorizado pela cultura marroquina – e pela clientela de alto luxo. “Com riads no lugar de quartos, cada hóspede tem um santuário privado durante a estadia”, resume Kulig.
Esse zelo com a vida particular também se manifesta de outras formas na arquitetura marroquina, igualmente incorporadas ao projeto. Não há ostentação do lado externo, por exemplo. A fachada dos riads é quase minimalista, com poucas janelas e sempre com o mesmo tom de terracota – assim como na medina de Marraquexe, onde as construções devem seguir uma paleta limitada por lei.
O lobby, coberto por zellige. Foto: Divulgação
A austeridade da porta para fora torna ainda mais impactante a riqueza visual do interior dos cômodos. Passar horas olhando o teto do seu quarto não é perda de tempo – não quando ele é a pura arte do zouak, a tradicional pintura marroquina em madeira. Esqueça paredes lisas e prepare os olhos para viajar em painéis de gesso esculpido com intrincados motivos florais. Isso sem falar nas paredes e colunas cobertas por zellige, o azulejo decorado com plaquinhas multicoloridas, que formam um hipnotizante mosaico de formas geométricas.
Uma das piscinas do Royal Mansour. Foto: Divulgação
Durante sua estadia no Marrocos, você vai perceber que esses e outros exemplos fazem parte também de construções históricas do país, como o Palácio da Bahia, erguido em 1866 pelo grão-vizir Si Moussa. Apesar dos 157 anos que separam uma edificação da outra, os detalhes visuais do Royal Mansour não aparentam ser uma mera tentativa de imitar o passado. E o motivo é simples: eles são autênticos porque foram executados da mesma maneira como eram feitos nos séculos anteriores.
“Cada peça do hotel foi criada com técnicas transmitidas de geração a geração”, diz Doug Kulig. Ele conta que, antes de iniciar o projeto, a equipe da OBM International viajou por várias regiões do Marrocos para conhecer as diferentes técnicas tradicionais de artesanato. O sofisticado design local fascinou o time. “Cada elemento incorpora detalhes que criam uma experiência de fascínio, mistério e beleza. A herança artística na arquitetura marroquina é mais notável nos padrões geométricos elaborados, no zellige vibrante e na integração de paletas de cores ousadas que decoram as paredes”, diz o CEO.
Visão estonteante do teto entalhado, esculpido e pintado: artesãos de todo o país participaram da construção do hotel. Foto: Divulgação
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Durante os cinco anos de construção do Royal Mansour, cerca de 1,5 mil artesãos trabalharam na empreitada. Só o portão principal, mencionado no início deste texto, precisou de oito meses de trabalho. Cerca de 14 mil metros quadrados de zellige revestem o hotel – simplesmente todos os artesãos do Marrocos especialistas no azulejo de mosaico foram envolvidos na produção. Por essas e outras, apesar da tentação de passar a estadia só curtindo a mordomia do seu riad particular, não dá para deixar de explorar cada canto da propriedade, incluindo os jardins. Projetados pelo paisagista espanhol Luis Vallejo, eles reúnem palmeiras, coníferas, espécies frutíferas e árvores de centenas de anos, como oliveiras de oito séculos, transplantadas do jardim Agdal, em Marraquexe.
Nos quatro restaurantes do hotel, a arte local se mistura a referências contemporâneas e dos países que inspiram os menus. O Sesamo, que oferece a gastronomia italiana do chef Massimiliano Alajmo, remete a Veneza, com muitos cristais de Murano e cortinas dramáticas. La Table, com a assinatura da consagrada chef francesa Hélène Darroze, exibe louças coloridas feitas especialmente para o local. Também com menu de Hélène, La Grande Table Marocaine traz o melhor da cozinha tradicional do país, ambientado em um cenário grandioso, com destaque para as peças feitas manualmente. Por fim, no Le Jardin, é possível degustar ao ar livre pratos da cozinha asiática com toques mediterrâneos.
Há ainda quatro bares, o principal deles, em estilo art déco, exibe paredes forradas de folhas de ouro rosa. O projeto de decoração é assinado pelo escritório francês 3Bis Architecture, que tinha um objetivo bem definido. “O briefing do cliente pode ser resumido em uma frase: ‘Invente um palácio marroquino’”, conta Fabrice Bourg, cofundador do 3Bis.
Outro ponto alto do hotel é o seu spa, vencedor de vários prêmios na área. Em contraste com os riads, onde muxarabis e janelas estreitas criam ambientes reservados e sombreados, o spa é inundado de luz. O átrio central, com fonte de água, chão de mármore e treliças brancas, tem um ar quase celestial (e são mesmo celestiais os tratamentos aplicados lá, entre massagens, banhos e terapias).
Além dos luxos dentro da propriedade, hospedar-se no Royal Mansour abre portas para outra experiência fascinante, principalmente para quem ama arquitetura e design. O hotel organiza visitas para a Serge Lutens Foundation, uma construção labiríntica com dezenas de cômodos, um mais impressionante do que o outro.
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Perfumista, designer e fotógrafo, entre outros talentos, o francês Serge Lutens se apaixonou pelo Marrocos no final da década de 1960 e foi adquirindo várias propriedades vizinhas em Marraquexe, que foram interligadas, formando uma única edificação. O visitante percorre salas ricamente ornamentadas com técnicas do artesanato marroquino e da arquitetura islâmica do chão ao teto, passa por corredores à meia-luz, que desembocam em amplos pátios, que por sua vez levam a outras salas com dezenas de obras de arte.
Lutens desenhou cada cômodo da propriedade, incluindo os móveis. Você não verá imagens da Serge Lutens Foundation nesta reportagem porque é proibido fotografar o local. Há pouquíssimas fotos disponíveis na internet – e elas estão desatualizadas, já que o perfumista cria e recria os ambientes, obsessivamente, desde 1974. Pouco tempo atrás, apenas os amigos mais próximos de Lutens tinham acesso a esse lugar único. Em 2020, ele passou a abrir uma exceção para as visitas organizadas pelo Royal Mansour. É mais um privilégio de quem é hóspede do rei.
Patricia Oyama viajou ao Marrocos a convite do Royal Mansour Marrakech.
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- Esta reportagem foi publicada originalmente na edição impressa do volume 2 da ELLE Decoration.
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