MFW: Prada, verão 2026
Miuccia Prada e Raf Simons exploram livre e aleatoriamente com a construção das roupas para criar um guarda-roupa de peças adaptáveis.
Miuccia Prada e Raf Simons estavam pensando em roupas para o verão 2026 da Prada. Parece óbvio, eu sei, mas nem sempre as roupas são o foco principal de um desfile. É comum narrativa, cenário, fator midiático, entretenimento e um tanto de marketing se sobreporem ao que deveria ser o centro de tudo. Aqui – ainda bem – não teve nada disso.
O galpão da Fondazione Prada, onde acontecem as apresentações da marca, estava completamente vazio. Mais vazio do que no desfile masculino, em junho. Lá, pelo menos, tinham uns tapetes em formato de flor. Agora, era só o piso laranja e as colunas do prédio.
O primeiro look ornava bastante com a frieza do ambiente: um uniforme militar azul-marinho, com calça pregueada e camisa de manga curta. O segundo era quase igual, porém mais claro e com luvas de ópera. Depois, veio um top de tecido de alfaiataria, sem bojo ou estrutura, combinado a uma saia feita de recortes de renda, chiffon, babados e plissados, presa na cintura só com uma fita.

Prada, verão 2026. Foto: Divulgação

Prada, verão 2026. Foto: Divulgação

Prada, verão 2026. Foto: Divulgação

Prada, verão 2026. Foto: Divulgação
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Já dava para entender o que os estilistas e codiretores criativos estavam propondo. Primeiro, um processo de destilação ou redução ao essencial de cada item. Segundo, um desmembramento e reagrupamento de elementos de maneira quase aleatória, transformando a construção e, por consequência, a relação e o desenho do corpo. Terceiro, uma ressignificação do que aquelas peças são, representam e para o que servem.
Vamos aos exemplos: um vestido de festa acetinado com gola bordada é cortado como uma camiseta oversized. Uma camisa polo vira casaco de couro alongado ou uma espécie de cardigan bem decotado. Slip dresses de seda têm as alças superalongadas, estendendo os decotes até a linha do quadril ou da cintura, como se fossem aventais ou apenas um resquício de vestido ou camisola. Uma parka utilitária ganha mangas bufantes, um conjunto verde militar vem acompanhado de um casaco de alfaiataria de cetim.

Prada, verão 2026. Foto: Divulgação

Prada, verão 2026. Foto: Divulgação

Prada, verão 2026. Foto: Divulgação

Prada, verão 2026. Foto: Divulgação
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Apesar da abordagem livre, das associações e justaposições aparentemente randômicas, há rigor e consistência na coleção. Podem não ser as propostas mais fáceis, as combinações mais prováveis, mas quem espera isso da Prada.
Em uma temporada tão aguardada, com promessas de grandes recomeços e renovações, Miuccia e Raf se destacam pela coerência e continuidade. É que os conceitos, ideias e exercícios que resultam neste verão 2026 são evoluções de experimentos em andamento desde a primeira coleção da dupla, cinco anos atrás. O reducionismo no design, a alteração e reconstrução de peças, os uniformes, os questionamentos sobre as percepções sociais e culturais das roupas. Tudo isso é um trabalho contínuo (e muito interessante) que vem sendo aprimorado e adaptado a cada estação.
Aliás, com disse a própria Miuccia: “Essa coleção é sobre reagir ao incerto – roupas que podem se transformar, mudar, se adaptar”.
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