Duran Lantink: quem é o estilista que assume (de vez!) a Jean Paul Gaultier?

Duran Lantink é um dos nomes mais quentes da nova geração de designers. Desde 2016 no mercado, ele estreia como diretor de criação da Jean Paul Gaultier no domingo (05.10), com um desfile que celebra também o retorno do prêt-à-porter da marca à semana de moda de Paris, após um intervalo de pouco mais de uma década.

Em 2014, Jean Paul Gaultier anunciou que deixaria de apresentar coleções de ready-to-wear, justificando a decisão pelo “ritmo frenético de ter que criar uma coleção atrás da outra, sem espaço para a inovação”. A partir de então, passou a se dedicar exclusivamente à alta-costura e à perfumaria. Em 2020, aposentou-se oficialmente da maison que leva seu nome e inaugurou uma nova fase ao convidar diferentes estilistas para reinterpretar seu legado nas coleções couture. A cada temporada, nomes como Chitose Abe, Haider Ackermann (Tom Ford), Simone Rocha e Glenn Martens (Diesel e Maison Margiela) mergulharam em seus arquivos para propor novas leituras de sua obra. Foram oito desfiles nesse formato, que se encerra nesta temporada, com Duran Lantink assumindo a direção das duas linhas.

Desfile de verão 2024 de Duran Lantink. Foto: Getty Images

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“Considero Jean Paul Gaultier um gênio e parte de uma geração que arrombou portas para que pessoas como nós pudessem atravessá-las livremente e ser quem somos, sem pedir desculpas. Assumir o papel de diretor criativo é uma verdadeira honra”, escreveu o estilista holandês no comunicado oficial enviado à imprensa.

Costura de ideias

Conhecido pelo trabalho com experimentações por meio de reaproveitamento de estoque morto, combinações inusitadas de materiais e silhuetas que parecem extraterrestres, Duran Lantink nasceu na Holanda, em 1988, e se formou em moda pelos prestigiados Gerrit Rietveld Academie e Sandberg Instituut, em Amsterdã. Antes disso, porém, ele já havia tateado o caminho que queria seguir. Quando tinha apenas 15 anos, ele fez seu primeiro desfile independente, na praia de Scheveningen, na cidade de Haia, em seu país natal. “Peguei uma pilha de jeans Diesel que meu padrasto não queria mais, juntei os cós com as toalhas de mesa da minha avó e criei saias curtas. Ficou ótimo! Um grande sucesso!”, disse em uma entrevista à revista Fantastic Man, em 2021. “No meu primeiro ano de faculdade, tive muita dificuldade ao precisar criar roupas do zero. Era exatamente o que eu não queria fazer. Eu já montava o meu próprio guarda-roupa, cortando e costurando peças.”

Em post de março de 2022, Duran Lantink explica de onde vem cada parte de suas criações. Foto: Divulgação

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Duran lançou sua marca homônima em 2016, já focada em reaproveitamento. Suas peças eram verdadeiros quebra-cabeças. No mesmo item, ele costurava parte de uma saia vintage Chanel com mangas de um vestido Prada e o finalizava com uma gola Dior. Ainda em 2016, o designer fez sua estreia no circuito independente de desfiles de Paris e, em 2023, passou a integrar o calendário oficial da capital francesa.

“Não sou um guerreiro da reciclagem. É só a maneira com que eu prefiro trabalhar e como gosto de contar minha história. Quero fazer algo que seja atrativo e bonito, não algo que vai te fazer se sentir bem porque você está fazendo o bem. Não estou constantemente pensando no meio-ambiente. Mas acho, sim, que existem roupas suficientes no mundo e que eu não prefiro usar peças novas para criar moda”, fala naquela entrevista à Fantastic Man.

Vanguarda à vista

Não demorou para que o talento da estrela em ascensão fosse reverenciado por celebridades. Beyoncé e Billie Eilish foram algumas famosas que vestiram as suas ideias. A peça que catapultou Duran ao mundo, no entanto, foi a Vagina Pants, uma calça no formato do órgão feminino usada por Janelle Monáe no videoclipe de “Pynk” (2018). Há sete anos, a repercussão da mensagem persegue o designer. “Foi uma bênção e uma maldição, porque sempre acabo na conversa sobre calças vaginais”, disse ele ao jornal britânico The Guardian, em 2019. “Mas tudo bem, porque ela me ajudou a chegar onde estou agora. As pessoas estão mais conscientes sobre o que estou fazendo.”

Janelle Monáe com as Vagina Pants. Foto: Reprodução

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Sua visão disruptiva lhe rendeu alguns prêmios notáveis. Em 2023, ganhou o Andam Special Prize. O reconhecimento internacional fortaleceu o DNA de suas criações e garantiu a expansão da marca. No ano seguinte, ele levou o Karl Lagerfeld Special Prize na 11ª edição do Prêmio LVMH para jovens talentos. Neste ano, o designer foi também o grande vencedor do International Woolmark Prize. Durante o processo, ele recebeu 60 mil dólares para desenvolver trajes para a sua coleção de inverno 2025.

Desfile de inverno 2024 de Duran Lantink. Foto: Getty Images

Energia, audácia e espírito lúdico

Em março deste ano, na temporada de inverno 2025, enquanto ainda estava sendo cotado para assumir a direção criativa da Jean Paul Gaultier, Duran Lantink entregou sua melhor coleção até o momento. “A cada estação, tentamos nos surpreender com a forma como poder transformar uma peça em algo que achamos interessante. E vamos fazer o que quisermos porque somos livres, porra!”, disse ao WWD.

Desfile de inverno 2025 de Duran Lantink. Foto: Getty Images

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Ambientado em um espaço semelhante a um escritório, os modelos vestiram torsos de silicone com partes do corpo à mostra. A modelo Mica Argañaraz apareceu com um tanquinho (masculino) bem delineado e Chandler Frye usou um par de seios (femininos) grandes que balançavam ao cruzar a passarela. A ideia era repensar os papéis de gênero e sua relevância social.

A coleção também falava sobre mau gosto e como é possível transformar uma estampa odiada em uma roupa interessante, só depende do olhar. Com motivos de zebra, onça e cobra, ele criou silhuetas distorcidas que parecem de outro mundo. As calças eram afastadas do quadril, as golas rígidas cobriam o pescoço e as saias eram armadas. Foi um sucesso de crítica.

A mensagem de Jean Paul Gaultier ao jovem estilista resume bem o seu propósito criativo. “Vejo nele a energia, a audácia e o espírito lúdico através da moda que eu tinha no começo da minha própria jornada: o novo enfant terrible da moda. Bem-vindo, Duran”, escreveu Gaultier no comunicado oficial para celebrar o nome escolhido para carregar (de vez!) o seu legado fashion.